Cidades

Cidadãos de outros países buscam colocação no mercado brasileiro

postado em 03/07/2011 08:00

Até pouco tempo, muitos profissionais com formação superior achavam mais fácil sair do Brasil para conseguir emprego. Hoje, sofrendo o impacto da falta de pessoal, cidadãos de outros países buscam colocação no mercado brasileiro. Uma corrente de estudiosos acredita, porém, não se tratar de uma tendência nem mesmo de uma fase duradoura. Para eles, o investimento crescente na exportação de bens primários ; como soja e café ; está desindustrializando o país e reduzindo a capacidade de inovar.

Marcello Barra, professor de sociologia da UnB e um dos defensores da ideia, acredita que o governo precisa formular, o quanto antes, uma política para nortear o futuro da indústria. ;O que vinha sendo construído nos últimos 25 anos voltou a ser secundário nos últimos três. Se é para trabalhar no campo, não é preciso educar a população. E se for essa a decisão do Estado, os impactos são diretos sobre a nossa vida;, diz.

Ele lembra que a inovação chegou ao campo, mas o uso de novas tecnologias é menos intenso que em outros setores. ;Estima-se que 46 profissões foram criadas quando a internet surgiu. Isso foi antes do Facebook, do Google. Hoje, imagino que outras 500 tenham aparecido. Nós temos espaço para desenvolver especialistas, mas não há profissionais formados;, afirma.

A diretora da Faculdade de Ciências da Informação, Eumira Luiza Melo, conta que a área formou um gargalo até mesmo dentro das universidades. ;Essas habilidades são fundamentais para todas as outras áreas de conhecimento, não se trata de lidar com acervos convencionais.; A solução, para ela, seria ampliar o investimento nas áreas estratégicas. (JB)

Três perguntas para:

Flávia Martins de Barros Firme, gerente de acesso à inovação e tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae)

Há um impasse entre a falta de qualificação dos profissionais e o uso de novas tecnologias pelas empresas?
A inovação não necessariamente depende da mão de obra especializada. Pode ser uma decisão do empresário. Na realidade, o problema está na carência de laboratórios e instituições de ciência e tecnologia para amparar quem está inovando, como os de metrologia e calibração.

O que isso significa?
Uma oficina mecânica trabalha com equipamentos de precisão e eles têm que estar calibrados para não fazerem avaliações equivocadas. Não é fácil encontrar quem faça.

Os investimentos nessas áreas também ocorrem devido ao gargalo de mão de obra?
Acaba sendo por exigência do mercado, para se ter sustentabilidade e competitividade. E é aí que se sente a falta do pessoal especializado, apto a trabalhar com as inovações. Também faltam pessoas com capacidade de inovar. Maior qualificação ampara o processo produtivo, otimiza, reduz desperdício e posiciona a empresas de uma forma melhor.

E EU COM ISSO

Apesar de as empresas terem dado a largada na importação de novas tecnologias para ocupar a falta de profissionais qualificados no Distrito Federal, quem está à procura de trabalho não deve encarar a notícia com pessimismo. Aqueles que investirem um pouco mais de tempo e dinheiro na profissionalização ainda serão desejados e necessários em todos os setores da iniciativa privada, de um modo geral. A inovação que foi conquistada até hoje pode até reduzir o número de empregados indispensáveis para exercer uma tarefa, mas também garante espaço para aqueles que estiverem por dentro das novidades, em dia com os lançamentos e, mais que isso, forem capazes de usar as novas ferramentas com habilidade.
Um olhar mais atento para as necessidades do mercado pode, inclusive, apontar um caminho menos disputado e instável, percorrido normalmente pela média das pessoas. A iniciativa, a curiosidade e o empenho são características desejadas pelos chefes e necessárias a todas as empresas. Se o objetivo for obter crescimento profissional, cabe a antiga receita: fazer do limão uma limonada.

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