postado em 03/07/2011 08:00
O investimento em inovação tem um sentido bastante peculiar no Distrito Federal. O normal é que as empresas busquem tecnologias mais avançadas como forma de reduzir custos, aumentar a produtividade e melhorar o atendimento ao consumidor final. Na capital do país, o conceito recebe uma nova função: suprir a escassez de mão de obra. A falta de profissionais qualificados, principalmente no ramo da construção civil, impulsionou as construtoras a investir em máquinas e produtos mais modernos para os canteiros de obra. Entre os exemplos mais bem-sucedidos está a argamassa projetada. A aplicação, com uso de equipamento específico para esse fim, substitui o tradicional reboco e duplica a velocidade do processo, reduzindo ainda o número de trabalhadores necessários para a realização do serviço.
A grua, usada para elevar e movimentar cargas e materiais pesados, também é presença garantida em quase todas as obras. Usada para descarregar os caminhões, ela poupa o trabalho de oito a 10 homens, que deixam de executar outros serviços para descer com os sacos das caçambas. Com o real valorizado, importar o equipamento também ficou mais barato que dispor de tantas pessoas para a realizar a função.
Apesar de as novas tecnologias, em princípio, encarecerem a lista dos materiais necessários para erguer uma grande obra, o investimento tem compensado, segundo Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais e Tecnologia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon). Atualmente, operários com salários elevados têm sido substituídos por produtos mais elaborados. ;O mercado mudou. Antes, não tinha gente. Agora até se encontra, mas muitas pessoas não estão preparadas. Quem tem experiência custa caro;, diz.
Nesse novo momento da economia do DF, o salário médio de um mestre de obras chega a superar o de um engenheiro recém-formado. Enquanto quem sai da universidade consegue em média R$ 5 mil, paga-se de R$ 5 mil a R$ 7 mil por quem fiscaliza e supervisiona o local de trabalho. A diferença é que não há curso para formar esses profissionais, que aprendem com a experiência. Como selecionar esses especialistas virou uma tarefa árdua, deu-se início também a uma disputa entre empresas concorrentes. É comum que as contratações sejam feitas no canteiro mais próximo quando falta um trabalhador.
Um resultado positivo da inovação no setor é a redução da produção de resíduos. Para agilizar a montagem das formas de compensado, usadas como moldes para os pilares e as vigas, adotou-se a prática de comprar a estrutura pronta, feita sob medida. ;Além de riscar uma etapa, o desperdício é menor. Lembrando que a madeira é uma das principais sobras de uma construção;, afirma Klavdianos.
Desafio
O que a pressa, a competição e a tecnologia não garantiram até o momento é mais empenho dos empresários em formar os trabalhadores. ;Não há tempo para isso. É impossível liberá-los durante o expediente e, no fim de semana, eles não querem fazer treinamento;, diz o engenheiro civil Nielsen Alves. Com isso, contratar quem saiba lidar com os novos produtos também se torna um desafio. ;Hoje, quatro empresas no DF oferecem serviço terceirizado para aplicar a argamassa com a máquina própria e a demanda que elas recebem é intensa;, diz.
Outro gargalo é a escassez de cursos profissionalizantes e técnicos. ;Aparece um ou outro, mas o que forma é o dia a dia;, completa Nielsen. De olho na oportunidade de entregar produtos ainda mais específicos para atender a nova realidade, algumas companhias passaram a desenvolver peças de manuseio ainda mais simples.
A gerente comercial da Precon, fábrica de equipamentos para construção com sede em Belo Horizonte, Stefane Vitorino, conta que um dos produtos de maior saída é uma placa de PVC que substitui a telha de cerâmica. ;Lançamos em janeiro e a aceitação está ótima. No lugar de diversas peças pesadas, temos uma placa leve e mais resistente;, garante. As peças do material precisam apenas ser encaixadas. Como dispensam o trabalho especializado, o material entrou para as inovações que atendem o novo mercado.