Roberta Machado
postado em 04/07/2011 07:18
A interrupção das chuvas já deixa suas marcas no Cerrado brasiliense. Em abril, três incêndios somaram 21 hectares queimados. No mês seguinte, mais 94 foram destruídos, com o registro de 77 focos. O retorno do período de seca faz o DF encarar a obrigação de evitar o desastre causado pelos incêndios do ano passado, quando o número alto de chamadas superou a capacidade logística do Corpo de Bombeiros ; apenas em agosto, foram 24 ligações por dia. Em 2010, mais de 120 dias de estiagem carbonizaram 35 mil hectares de vegetação preservada e 2.978 ocorrências foram anotadas de janeiro a setembro.Embora o mês mais severo para os incêndios seja agosto, Brasília já registrou, este ano, períodos com umidade abaixo de 30%. Só ontem, por exemplo, houve 19 focos de incêndio no DF até o fim da tarde. A situação deve piorar na primavera, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) costuma marcar índices menores de 15% nos dias mais críticos. Mas o Corpo de Bombeiros se diz em condições de evitar maiores prejuízos. ;Ano passado foi atípico. A limitação de viaturas e pessoal foi grande, então tivemos de nos virar. Este ano, recebemos grande reforço e estamos mais bem preparados;, assegura o major Marcos Antonio, subcomandante do Grupamento de Proteção Ambiental.
Há mais de 15 anos, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) monta a Operação Verde Vivo, que planeja ações para o combate aos incêndios. Este ano, a prevenção começou em 15 de maio, com palestras em escolas públicas e visitas a mais de 180 propriedades rurais para a instrução de chacareiros quanto aos cuidados com o fogo. Essa foi a primeira de quatro etapas, ao longo das quais o efetivo e o equipamento disponibilizados são aumentados progressivamente, de acordo com a severidade da estiagem.
Na primeira fase, 100 militares são mobilizados com o auxílio de 16 viaturas. Esse cronograma será seguido até o próximo dia 30, quando o efetivo será aumentado para 196 homens e 31 veículos. Na terceira fase, que inicia em agosto, quando o calor agrava os efeitos do clima, 208 bombeiros são destacados. A desmobilização começa em outubro, mês em que a equipe é reduzida para 110 pessoas.
Efetivo e frota
Embora tenha adquirido 19 novas picapes e caminhões tipo QT, projetados para andar fora da estrada, o Corpo de Bombeiros ainda conta com uma frota inadequada para o trabalho de combate ao fogo florestal. Veículos pesados e inapropriados para circular em áreas de terra ainda são usados. Este ano, foram adquiridos 14 ônibus e 14 micro-ônibus, além de oito caminhões para levar material de apoio.
O reconhecimento em áreas remotas para monitorar possíveis focos de incêndio é feito com quatro helicópteros e um avião. Dessa forma, os incêndios somente podem ser avistados do céu, pois a corporação não tem quadriciclos para fazer a ronda em terra. Segundo o major, o uso desse tipo de veículo está sendo estudado pela corporação. Os bombeiros esperam também a chegada de duas aeronaves Air Tracktor, com capacidade para 3,1 mil litros de água cada. Os dois aviões, cuja compra se arrastava desde o ano passado, ainda não têm data de entrega, e custaram, juntos,
US$ 3,8 milhões (R$ 5,9 mi).
Outro problema é a falta de preparo dos militares. Dos cinco mil combatentes que ficam de prontidão para enfrentar focos de maior porte, apenas 593 têm o curso de combate a incêndios florestais. Esses são os que têm prioridade em uma possível convocação de emergência, mas eles apenas podem trabalhar sob o pagamento de uma gratificação. Este ano, a corporação liberou o uso de 21.566 cotas ; cada uma equivale a 10 horas de serviço de um militar. No ano passado, a verba permitiu apenas o uso de 12 mil cotas.