Antonio Temóteo
postado em 04/07/2011 07:24
Heróis de outros dias, os cães do Batalhão de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros estão abandonados. Sem acompanhamento médico desde janeiro e com um canil infestado de carrapatos, parte dos animais não pode participar de operações ou treinamentos por suspeita de estarem doentes. Para piorar a situação, no último dia 19, Dartagnhan, 8 anos, um dos melhores cachorros de resgate do país, morreu com indício de ter contraído uma hemoparasitose.O cabo Daniel Barrela, adestrador de Dartagnhan, contou ao Correio que o antigo parceiro, famoso na corporação pela força física e agitação, mudou de comportamento em apenas dois dias. Barrela explicou que durante uma caminhada matinal, o cachorro se mostrou abatido, começou a urinar uma cor mais escura e na hora da refeição não quis comer. ;Imaginei que alguma coisa estava errada porque ele comia muito bem. No outro dia, liguei para o doutor Gustavo, veterinário que fazia o acompanhamento dos cães da corporação, e ele me disse que Dartagnhan precisava de uma transfusão de sangue. Levei o animal até uma clínica particular, mas ele não resistiu e morreu durante a madrugada;, lamentou.
O Correio conversou com o médico veterinário Gustavo Carvalho de Araújo e, segundo ele, o cachorro estava com dificuldade de respirar, urinava sangue, estava com a mucosa da gengiva e dos olhos amarelada e havia perdido 11 quilos. Na avaliação de Araújo, as características clínicas indicam que o animal estava com uma doença transmitida por carrapato conhecida como babesiose. ;Esse mal deixa os cães amarelados e ele estava com a virilha desse jeito. Não o reconheci quando o encontrei, porque sempre foi muito agitado e brincalhão;, relembrou o veterinário.
Desleixo
A reportagem também visitou o canil dos bombeiros na Vila Planalto, às margens do Lago Paranoá, e encontrou uma situação precária. Dos 11 boxes que existem no local, um está com o portão quebrado e o outro sem trinco. A presença de carrapatos é comum e o terreno vizinho está abandonado, com mato alto. As paredes estão rachadas ou quebradas, o piso esburacado e as telhas furadas. Além disso, não existe uma área de isolamento para os animais que chegam das operações e a mesa usada para refeições dos oficiais também serve de maca para os cachorros.
Atualmente, a corporação conta com nove cães. Desses, três estão em adestramento, uma cadela acabou de dar cria e outros cincos são treinados para operações de busca e salvamento. Segundo o cabo Barrela, os animais especialistas em regaste estão afastados de atividades porque aparentam estar doentes. ;Eles estão ótimos para brincar, parecem saudáveis, mas quando fazem algum esforço físico ficam muito cansados, ofegantes e não conseguem latir;, detalhou.
Para piorar a situação, os bombeiros não contam com um médico veterinário no corpo de servidores. O contrato com uma clínica particular venceu em janeiro e não foi renovado. Em último caso, os cães são atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), mas não há um convênio assinado entre as duas instituições. A veterinária da UnB Dalila Nunes, que atendeu os animais entre fevereiro e abril, explicou que durante esse período detectou que quatro cachorros estavam com hemoparasitose, mas dois não chegaram a concluir o tratamento. ;Existe um histórico de infestação de carrapatos no local. Todos os animais precisam ser reavaliados;, alertou.
Morosidade
O comandante do grupamento terrestre do Batalhão de Busca e Salvamento e chefe do canil, major Rômulo Quinhones, admitiu que o local precisa de melhorias. Segundo Quinhones, já existe um projeto que prevê novas instalações, enfermaria, sala de reunião, área de isolamento para cães que chegarem de operações e boxes mais confortáveis para os cães. Entretanto, por ocupar mais espaço que o atual, a legislação de edificações não permite que o novo alojamento seja construído na sede do batalhão na Vila Planalto.
Uma segunda opção seria transferir o canil para o posto avançado do batalhão no Setor de Clubes Sul, próximo à Ponte JK, mas o terreno pertence à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e ainda não foi transferido para o Corpo de Bombeiros.
;No início do ano, lançamos uma licitação para contratar uma nova empresa veterinária particular, mas nenhuma apresentou os requisitos mínimos. Agora já encontramos duas clínicas que têm interesse em participar do processo e, assim que acharmos uma terceira, lançaremos o edital. Acreditamos que até o fim do ano estaremos com o serviço normalizado;, explicou Quinhones.