postado em 06/07/2011 08:00
O cenário era de destruição. Computadores despedaçados pelo chão, divisórias de escritório caídas, papel derretido e água por todos os lados. O ambiente em nada lembrava o valioso espaço de aprendizado. A chuva que inundou a Universidade de Brasília (UnB), em 10 abril deste ano, trouxe incontáveis prejuízos. O que era trabalho e esforço virou lama em questão de horas. A empresa júnior (Veja Para saber mais) do curso de administração, a AD, localizada em uma sala no subsolo do Instituto Central de Ciências Norte (ICC Norte), o Minhocão, foi um dos setores mais prejudicados.Fundada há 19 anos, a companhia sustenta-se com o trabalho não remunerado dos estudantes. Eles se dedicam em troca de um bem imaterial: o conhecimento. Na AD, os universitários preparam-se para enfrentar o mercado de trabalho prestando serviços a empresas consolidadas. No dia da tempestade, o atual presidente institucional da AD, Tarso Frota, 21 anos, foi o primeiro a chegar ao local. ;Não acreditei quando olhei aquela cena. Tanto trabalho destruído, uma tristeza;, relatou.
A chuva começou por volta das 12h30 e acabou às 14h, acumulando 36,4mm. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume seria considerado normal se não tivesse caído todo em tão pouco tempo ; daí a quantidade de estragos em toda a cidade. Os ;funcionários; da AD não ficaram de braços cruzados diante da força da natureza. Reuniram-se em busca de uma solução para reparar os danos.
Decidiram usar o dinheiro que haviam ganhado com projetos de consultoria a grandes e pequenas empresas para reconstruir a AD. Serão necessários mais de R$ 70 mil para que tudo volte ao normal. Os membros da consultoria compraram parte do material de construção com a verba que havia em caixa. A UnB emprestou a mão de obra. Os alunos acompanham de perto as obras. Aos poucos, a empresa júnior começa a voltar ao normal.
Solidariedade
Ao tomar conhecimento dos efeitos da chuva na AD, antigos membros da consultoria ofereceram apoio. A ajuda veio de todos os lados. Os estudantes tiveram então a ideia de fazer uma festa, em 20 de agosto, no clube da Associação dos Servidores da Justiça do DF (Assejus). O presidente da entidade é ex-aluno da UnB e se sensibilizou com a situação. ;Muita gente ofereceu auxílio. Alguns não podiam dar dinheiro, ofertaram serviços e produtos, como decoração e bebidas. Daí a ideia de fazer a festa;, explicou a empresária Patrícia Carvalho, 24 anos, que trabalhou na AD quando era universitária.
A equipe ainda não decidiu quanto custarão os ingressos. Mas espera entre 250 e 300 pessoas para a celebração. ;Estamos em busca de mais patrocínio. A intenção é confraternizar várias gerações da empresa júnior e quem mais se interessar em participar. A empresa é como uma família, na tristeza a gente se uniu mais;, disse Patrícia. ;A AD é um pedacinho de cada um de nós. Os estudantes se doaram para ela. Uma parte da qualidade da nossa graduação vem daqui. Estarmos dispostos a ajudar é uma forma de agradecer;, completou outra ex-integrante e agora voluntária Maiara Borges, 26 anos, servidora pública.
Início
Uma das fundadoras da AD, Andrea Pessoa, 40 anos, está ao lado dos estudantes. ;Criamos a empresa júnior em 1992. A UnB resistiu, não queria apoiar nem nos deixava usar o nome da universidade. Lutamos muito para que essa ideia saísse do papel. Saber do estrago da chuva comoveu a todos que participaram dessa história;, relatou Andrea.
Os estudantes, nos primeiros anos da companhia, contaram com a ajuda de outras empresas júniores para se estruturar. Como não tinham uma ;sede;, passaram a trabalhar no Centro Acadêmico de administração. Os professores ajudaram a elaborar os primeiros projetos. ;Olhar o empenho desses alunos, como eles fizeram a AD crescer, é sensacional. Eles estão cada vez mais profissionais;, elogiou Andrea, orgulhosa dos discípulos.
Histórico
Em 19 anos, a AD tocou cerca de 450 projetos. O foco da consultoria são as pequenas e médias empresas. A turma também já foi contratada por grandes nomes, como a produtora de cigarros Souza Cruz e a estatal Petrobras. Tudo que eles recebem vai para o caixa. Nenhum funcionário tem salário.
Todos assumem responsabilidades. ;Tenho 21 anos e sou o presidente de uma empresa que tem 70 servidores. Não teria a chance de assumir essa responsabilidade em outro lugar. Por isso estamos lutando pela reestruturação. Para que os próximos estudantes também tenham oportunidade;, afirmou Tarso Frota.
O presidente organizacional, Filipe Guimarães, 20 anos, destaca o amadurecimento dos alunos ao viver situações idênticas às do mercado de trabalho. ;Temos contato com clientes, vivemos a experiência real. Na AD a gente treina a prática, vê os conceitos de sala de aula aplicados;, disse. A AD oferece serviços na área de gestão de pessoas, finanças, processos e marketing. ;Mas o nosso principal negócio é formar profissionais;, destacou o presidente institucional.
Para saber mais
A UnB tem 17 empresas júniores. Elas são associações civis, sem fins lucrativos, formadas por alunos de nível superior ou técnico. Oferecem serviços de consultoria e assessoria para governo e instituições privadas, sob a orientação de professores especializados. Além da AD, há companhias que atuam na área de direito, ciências da computação, engenharia civil, geologia, publicidade, relações internacionais, economia, estatística, desenho industrial, engenharia mecatrônica, arquivologia, psicologia, ciências sociais, ciência política, engenharia mecânica e engenharia elétrica. Para conhecê-las, acesse: www.unb.br/oportunidades/empresas_juniores_da_unb.
; A AD tem
70 funcionários
não remunerados
Já trabalhou em mais de
450 projetos
Precisa de
R$ 70 mil
para se reerguer
; Para ajudar
Quem quiser contribuir ou comprar convites da festa deve entrar em contado pelo e-mail: contatofesta@admconsultoria.com.br.