Luiz Calcagno
postado em 06/07/2011 10:03
O Governo do Distrito Federal (GDF) pediu ontem à Justiça o aumento do valor da multa diária prevista para o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde (Sindsaúde), de R$ 30 mil para R$ 150 mil. A penalidade vale desde segunda-feira e perdurará até que os grevistas voltem ao trabalho. A ação do governo local sugere ainda que o Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) responsabilize os dirigentes da entidade ; o presidente, Antônio Agamenon Torres, e a tesoureira, Marli Rodrigues ; pelo descumprimento de ordem judicial que determina o retorno imediato ao serviço.No último dia 28, o GDF anunciou o corte do ponto dos grevistas. Em seguida, entrou na Justiça com um pedido de ilegalidade do movimento. O relator do processo, o desembargador Humberto Adjuto Ulhôa, ainda não julgou o mérito. Em contrapartida, a categoria votou em assembleia realizada na última segunda-feira pela radicalização do movimento. Assim, a partir de amanhã, é provável que também os servidores lotados em emergências, em lavanderias, em divisões de documentação e de informática, além dos trabalhadores que atuam em ambulatórios e em centros de saúde, paralisem as atividades.
Para o procurador-geral do DF, Rogério Leite Chaves, responsável pela elaboração do pedido de aumento da multa, o Sindsaúde adotou uma postura radical mesmo antes de o GDF endurecer o discurso. Segundo Chaves, o Executivo local continua interessado em dialogar, mas apenas se os funcionários voltarem ao trabalho. ;A negociação teria evoluído sem o movimento grevista. Entendemos que a paralisação coloca vidas em risco. Buscamos uma solução na Justiça. O desembargador (Humberto Ulhôa) disse que o direito à vida é mais importante que o direito de greve. Esperamos que os sindicalistas voltem ao trabalho para que as conversações continuem;, disse.
A tesoureira Marli admitiu que o movimento grevista gerou um impasse entre a categoria e o GDF. No entanto, segundo ela, isso só aconteceu porque ;o governo foi imaturo na hora de negociar;. ;Nós já fizemos 55 dias de greve na década de 1990. Temos disposição para repetir isso. Se a categoria assim quiser, enquanto o GDF não abrir o diálogo, continuaremos em greve. Enquanto isso, continuamos estudando a radicalização;, afirmou. Amanhã, representantes do sindicato se reunirão com servidores da saúde no Hospital Regional do Gama (HRG). Na próxima quinta-feira, haverá outra assembleia. O movimento completa hoje 10 dias.
Descaso
A empregada doméstica Marli Diniz, 40 anos, precisou ir a três postos de saúde e ao Hospital Regional do Gama para marcar uma biopsia para a filha, de 23 anos, que está com câncer no colo do útero. A jornada, segundo ela, foi marcada por portas fechadas e medo de que a saúde da jovem se agravasse. Depois de mais de uma semana de busca, a agonia terminou ontem. Como o exame é de urgência, a unidade do Gama o realizará. ;Descobrimos o problema alguns dias antes da greve. Depois disso, não conseguimos mais atendimento. Desde a semana passada que estamos nessa luta;, contou.
A gestante Valderice Gonçalves, 21 anos, enfrenta dificuldades para fazer o exame pré-natal no Centro de Saúde n; 2 do Gama. Ela tirou sangue antes do início da greve, mas os funcionários da unidade cruzaram os braços e ela não recebeu o resultado. Sem os dados, o médico não tem como avaliar a situação da mãe e do bebê. ;A greve piorou o que já era ruim. Preciso dos meus exames para saber como está o meu neném;, queixou-se.
Funcionários do centro reclamam das condições de trabalho no local, que só tem um estetoscópio para todos os enfermeiros. ;O receituário também é de fotocópia, porque não recebemos novos;, denunciou um funcionário, que não quis se identificar.
Categoria ampla
Cerca de 10 mil servidores da saúde de nível escolar básico, fundamental e médio aderiram à greve. Também há uma parcela de empregados de nível superior. No movimento, há ainda técnicos de laboratórios, de enfermagem e de informática, fundamentais para o funcionamento de hospitais e dos centros de saúde e na assessoria aos médicos.