Flávia Maia
postado em 08/07/2011 07:06
O processo de expansão da Universidade de Brasília (UnB) começou há cinco anos e ainda está capenga. A entrega do prédio do Gama pela construtora não ocorreu e, mesmo assim, os alunos têm aula no local que possui água de poço artesiano, rede de esgoto e transformadores de energia provisórios. Em Planaltina, as instalações foram inauguradas, mas a mudança parou porque a estrutura não tinha internet. Agora, os alunos precisam transitar entre os dois prédios ; um antigo e o novo ; sem ligação entre si e com mato alto no meio do caminho. Em Ceilândia, a situação é ainda mais grave, uma vez que as obras nem sequer foram concluídas.Os estudantes dividem o espaço de uma escola de ensino médio há três anos. Além disso, ainda em Ceilândia, R$ 19 milhões em equipamentos de laboratório estão subutilizados ou guardados em caixas (leia mais na página 20). Nos três anos de expansão com o dinheiro do Programa de Reestruturação Universitária (Reuni), do Ministério da Educação, a UnB gastou aproximadamente R$ 89,6 milhões. A área total dos três câmpus soma 239,5 mil m; para atender 3.700 alunos.
Os números impressionam, assim como o improviso e o descaso nesses espaços. Após 17 meses de espera, os estudantes do câmpus do Gama assistiram à primeira aula no prédio novo que ainda não estava pronto. Até hoje, porém, a construtora não entregou a edificação. A construção teve problemas em relação à licença ambiental, na fundação e na aquisição de materiais. ;A desorganização da empresa contratada também contribuiu;, afirmou o diretor do câmpus do Gama, Alessandro Borges.
Por enquanto, apenas os calouros estão no novo local. Os veteranos estudam no fórum e no Sesc do Gama. As instalações do câmpus não têm ligação de água da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb). O esgoto é despejado em fossa. O uso dos banheiros no andar superior está proibido e alguns da parte inferior foram interditados. ;Ainda estamos sem funcionários. Como poucos alunos estão no novo câmpus, fechamos alguns banheiros para manter a limpeza;, explicou o diretor.
Para piorar, pelo câmpus, há cartazes pedindo aos alunos que não liguem nenhum equipamento eletrônico nas tomadas. Como a subestação de energia elétrica não está pronta, a UnB comprou um transformador provisório. ;Como a construtora não entregou a obra, não testamos as tomadas. Estamos receosos de queimar algum equipamento. Vamos evitar dor de cabeça;, afirmou Alessandro Borges.
Porém, os alunos contam que a eletricidade é sempre instável. ;Teve gente com computador queimado;, conta Ludimila da Bela Cruz, 19 anos, estudante do 1; semestre de engenharia. Os alunos estão satisfeitos com a nova estrutura, mas sabem que falta muito para o espaço se tornar um centro de estudos. ;O câmpus será muito bom, o problema é que ele ainda não está pronto, aí temos que conviver com problemas, com o barulho e poeira de obra, e alguns improvisos;, disse Adriel Medeiros, 18 anos, também do 1; semestre de engenharia.
A entrada do câmpus do Gama ainda é de terra batida e, como o endereço das novas instalações é a DF-480, os universitários pedem uma faixa de pedestres. ;A parada fica do outro lado e é perigoso atravessar;, diz Hudson Pereira Ramos, 18 anos, estudante de engenharia.
Em Planaltina, desde 2005, existe um prédio para a expansão. Em agosto de 2010, a estrutura passou por reforma e expansão. Em março último, outra edificação foi inaugurada e dentro dos prazos legais. Agora, o problema é a falta de ligação entre os dois prédios ; existe uma cerca que os separa. ;Mudar de prédio à noite é muito perigoso, o mato é alto. Ainda não aconteceu nada, mas não queremos que aconteça;, conta Raissa Costa, 23 anos, estudante do 4; semestre de ciências naturais.
Justificativa
Para a decana de Ensino e Graduação da UnB, Márcia Abrahão Moura, a ideia de começar o funcionamento dos cursos mesmo sem os prédios estarem prontos não foi precipitada. ;Nossas instalações provisórias são de qualidade. Não dava para esperar os prédios ficarem prontos. Todos os índices que mediram qualidade dos cursos foram muito positivos;, disse.
Para a expansão da UnB, o GDF entrou como parceiro com a cessão dos três terrenos onde as universidades estão construídas. Em Ceilândia, o Executivo local ainda se comprometeu a construir dois prédios do câmpus. ;A UnB negociou com cinco governadores em três anos. Todos queriam rediscutir o contrato, isso atrasou muito a construção do prédio de Ceilândia;, ressaltou Márcia Abrahão.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse ontem que a culpa não é do governo. ;Em todos os casos de Brasília, o empreiteiro responsável pela obra é quem está causando transtornos para os estudantes. Não está faltando orçamento nem empenho da Reitoria, mas nossa legislação protege muito o mau empresário, infelizmente. As multas deviam ser mais pesadas e a cobrança da sociedade, também;, disse.