postado em 09/07/2011 08:00
Os livros não param de chegar. Mesmo com o pouco espaço e com quase todas as prateleiras ocupadas por obras literárias de escritores como Clarice Lispector e Graciliano Ramos, apostilas, dicionários e afins, funcionários da pequena Biblioteca Pública do Riacho Fundo sempre dão um jeito de encontrar lugar para mais exemplares. A chegada de tantas obras ao local tem um motivo. Desde que foi criado, há uma semana, o projeto Telelivro vem mostrando resultados positivos. A iniciativa da Administração Regional do Riacho Fundo leva oportunidade às pessoas que querem doar acervos com mais de 30 livros, mas não têm condições de levar o material até a biblioteca da região.
O Telelivro não surgiu à toa. O programa foi impulsionado pelo auxiliar de mecânico Renato Magalhães, 48 anos. Educado até o 1; ano do ensino médio, Renato, frequentador assíduo da casa, costumava observar, enquanto lia revistas e jornais no local, as várias tentativas frustradas de pessoas que queriam doar obras à biblioteca. ;Havia gente que chegava aqui dizendo que dispunha de vários livros, mas não tinha como trazer;, contou. Preocupado com a situação, ele decidiu reclamar na coluna Grita Geral, do Correio. Depois da publicação da reclamação e da resposta por parte da administração local, o órgão apresentou o projeto. E foi a partir disso que o Telelivro começou.
Antes mesmo que o primeiro voluntário aparecesse para doar livros à biblioteca, o auxiliar de mecânico decidiu que ele mesmo deveria transportar os 50 exemplares de revistas, jornais e obras literárias até o espaço. Morador de Arniqueiras, em Taguatinga, Renato pedalou cerca de 3 quilômetros com o peso dos 50 livros na bicicleta para chegar à biblioteca. O trajeto foi feito à noite, após a saída do trabalho. ;Levei com dificuldades. A biblioteca não é tão longe da minha casa, mas o problema é que o percurso é bem acidentado;, lembrou.
Os primeiros
Após a inauguração extraoficial do Telelivro por Renato, a primeira pessoa a doar material para a biblioteca foi o aposentado Sérgio Barreto Cavalcanti, 59 anos. O Correio acompanhou a entrega, na tarde de quinta-feira. Depois de agendar dia e horário com a Administração do Riacho Fundo, o voluntário juntou parte dos livros que possuía em casa, entre didáticos e literários, e encaixotou uma coleção de obras com cerca de 60 unidades. Por volta das 15h, Sérgio recebeu em casa funcionários da entidade. Os livros foram transportados pelo carro a serviço do órgão e levados até a biblioteca, onde se juntaramao acervo de 13.283 mil unidades.
Na avaliação de Sérgio, o projeto serve como exemplo para outras regiões administrativas do DF. ;Espero que seja difundido para outras cidades. Eu me sinto bem em fazer a doação e passar um pouco daquilo que a gente tem e já leu para a comunidade;, resumiu. Entre os autores que agora fazem parte do acervo da biblioteca pública, graças ao aposentado, estão o escritor pernambucano Nelson Rodrigues e o poeta carioca Vinicius de Morais. Sérgio pretende continuar a contribuir para a ação. ;Tenho uma porção de livros em casa. O certo é a comunidade trabalhar juntamente com o governo. Vamos agora estimular o andamento do projeto;, concluiu.
A comunidade tem elogiado o projeto, mas já apareceu a primeira preocupação: onde comportar tantos livros, já que o espaço é limitado. Usuário da biblioteca, o jovem Henrique Santos, 17 anos, acompanhou de perto o aumento da quantidade de exemplares do local. ;Acho que deve ser melhorada a estrutura daqui. Onde ficará esse tanto de livros? Não adianta nada ter esse projeto se não há uma ampliação da biblioteca;, acredita o jovem. Por outro lado, Henrique acredita que a qualidade do acervo é melhor do que a encontrada em outros espaços no DF. ;Temos muitos livros bons.; A administração regional afirmou já estar em andamento um projeto que prevê a ampliação do local de estudo. ;Isso deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Só falta a licitação para que a reforma seja iniciada;, declarou o órgão, por meio da assessoria de imprensa.