postado em 09/07/2011 08:00
Se você não mora tão longe do trabalho, é mais vantajoso financeiramente esquecer o carro e passar a andar de táxi. A pedido do Correio, o economista José Ricardo da Costa e Silva, professor do Ibmec em Brasília, comparou custos anuais e concluiu: em distâncias de até 32km por dia, somando ida e volta, vale a pena vender o veículo, aplicar o dinheiro e começar a acionar o rádio-táxi. Para usar o carro somente aos fins de semana, os números indicam o táxi em trajetos inferiores a 7km.O economista levou em conta os 256 dias úteis do ano e tomou como base um carro de R$ 40 mil. A comparação abrangeu sete importantes regiões administrativas e determinou o centro de Brasília como local de trabalho. Os cálculos consideraram que os brasilienses não almoçam em casa, fazendo, portanto, apenas dois trajetos por dia. De acordo com o levantamento, moradores do Plano Piloto e do Guará, por exemplo, têm prejuízo ao optarem por ir ao trabalho com o próprio carro.
Para estimar o custo médio anual de ter um veículo, Silva separou as despesas fixas ; como IPVA, licenciamento e seguro obrigatório ; das variáveis, proporcional à quilometragem rodada. O economista elencou gastos com estacionamento ou flanelinha, combustível, manutenção, probabilidade de acidente, depreciação do veículo e até consulta médica provocada por algum problema decorrente do estresse no trânsito.
Engano
O custo anual total de um carro de quem mora e trabalha no Plano Piloto, segundo o levantamento, é o menor entre as regiões pesquisadas: R$ 10.809, ou seja, R$ 900,75 por mês. Os moradores de Águas Claras gastam R$ 13.785 por ano para usufruir do conforto do veículo. Quem vive em Planaltina e precisa ir ao Plano todo dia ; 76km ida e volta ; despende mais: R$ 18.070. ;Muita gente acredita que pode ter um carro pelo valor da prestação e se engana;, observa o doutor em segurança de trânsito David Duarte.
Se a pessoa, por algum motivo, não dirige diariamente, o táxi pode ser ainda mais vantajoso. ;No caso de aposentados que fazem deslocamentos eventuais, vender o carro e aplicar o dinheiro pode ser a melhor solução;, sugere o especialista. Ele reconhece, no entanto, que a deficiência do transporte coletivo praticamente obriga as pessoas a buscarem uma solução individual. ;O problema é que, por conta disso, o caos social está instalado;, analisa.
As informações usadas pelo economista são as mais atualizadas disponíveis no mercado. Ele deixa claro que os resultados ilustram cenários hipotéticos, mas reforça a vantagem do táxi em distâncias menores. ;Apesar da generalização, vale a pena pegar táxi nas condições apontadas, mesmo que a pessoa não tenha carro;, diz. Entre 6h e 20h, o brasiliense paga R$ 3,30 para iniciar a corrida mais R$ 1,80 por quilômetro rodado. Há cerca de 3,4 mil táxis rodando no Distrito Federal.
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Choque cultural
Para o especialista em trânsito e também professor da UnB Artur Morais, a constatação de que, em alguns casos, o carro custa mais não tem poder de influência sobre o brasiliense. Segundo ele, somente um ;choque cultural muito grande; poderá mudar a realidade. ;A única classe média do mundo que não briga por transporte coletivo decente ou por um sistema melhor de táxi é a de Brasília;, afirma. ;A população só quer saber de pista, viaduto e estacionamento. O desejo de ter carro é uma coisa incrível.;
A frota de veículos no DF ultrapassou 1,2 milhão, segundo o Departamento de Trânsito (Detran). E as vendas no setor automobilístico não param de crescer (veja matéria na página ao lado). O custo total de ter um carro, sustenta o professor da UnB, não é absorvido pela maioria das pessoas. Se a prestação do financiamento cabe no orçamento, a compra não é contestada. ;A liberdade de ir para onde quiser com o carro fala mais alto;, comenta Morais.