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Marcada pelo glamour, a Academia de Tênis é hoje um complexo em ruínas

postado em 10/07/2011 08:00
Abandono: lixo, entulho e placas de identificação destruídas em nada lembram o passado de frenesi cultural e político de uma história iniciada em 1972
Ela foi a queridinha dos cinéfilos, tenistas, políticos, músicos. Contar a sua história é passear pela linha do tempo de Brasília e, por que não, do Brasil. Os últimos três presidentes da República ; Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso ; frequentaram ou moraram lá. Vendida em novembro de 2010, a Academia de Tênis José Farani vive um clima blasé, que pouco se assemelha ao passado de frenesi cultural e político. Enquanto espera por um projeto que o redefina, o complexo amarga dias de abandono.

Não há mais hóspedes ou móveis nos 226 apartamentos há meses. Um leilão deu conta de todos os objetos. Na recepção, não resta nada, além de uma cadeira de plástico com um telefone em cima. É usado pelo segurança que observa a entrada e a saída dos veículos. Hoje, eles são poucos. Fruto da diminuição, quase fim completo, das opções de entretenimento e esporte que antes atraíam tantas pessoas. Apenas um restaurante e a academia de ginástica estão abertos. Dos demais, há esqueletos. No antigo cinema, há tábuas no chão, teto desfalcado e pó. As quadras de tênis, que foram o berço de tantos talentos, estão sob a ação do tempo e de ninguém mais. A piscina está vazia e, ao seu redor, em vez de personalidades, um varal de roupas.

[SAIBAMAIS]Mas a trajetória do empreendimento é bastante diferente do que se vê hoje. Desde 1972, quando as portas da Academia de Tênis foram abertas por José Farani, médico e entusiasta de tênis, o que nasceu concebido como refúgio de tenistas se tornou um empreendimento multifacetado. O ar intimista e reservado das instalações e a presença de gastronomia e cultura sofisticadas conquistou personalidades do mundo da política e das artes. No fim dos anos 1980, era comum encontrar figuras do alto escalão político nacional circulando por ali (leia quadro).

Diz-se, por exemplo, que todo o Plano Collor, uma tentativa de combate à inflação, foi debatido e costurado entre quatro paredes do apartamento em que se hospedava a então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Melo. Ela viveu meses na Academia de Tênis após a vitória de Fernando Collor sobre Lula nas eleições de 1989. Depois de uma coletiva de imprensa para anunciar o pacote de medidas econômicas, a equipe se reuniu em um dos restaurantes para brindar o lançamento.

Durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) os ministros Luiz Carlos Bresser-Pereira, da Administração, e Raul Jungmann, da Reforma Agrária, além do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, passaram temporadas nos quartos ou nos chalés da Academia de Tênis. A piscina agradou muito a Bresser-Pereira, que costumava dar braçadas nas horas livres.

Mas talvez tenha sido na era Lula o ponto alto do prestígio da Academia com o alto escalão. Quando aterrissaram em Brasília, 13 dos ministros do governo petista chegaram de malas prontas para morar no local, até encontrarem residência definitiva. Entre eles, Dilma Rousseff, atual presidente da República. Ricardo Berzoini, nomeado ministro da Previdência Social, era visto frequentemente em um dos seis restaurantes do resort. Luiz Gushiken, que chefiava a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, aproveitava para reorganizar a rotina de exercícios físicos. Já Ciro Gomes preferia descansar da pasta da Integração Nacional em uma sessão de cinema.

O Cine Academia acabou inteditado após incêndio em maio de 2010 e nunca mais abriu para o públicoTroca de comando

Desde que foi anunciada a venda do empreendimento, em novembro de 2010, quase tudo parou de funcionar. O cinema, interditado devido a um incêndio em maio do ano passado, nunca mais abriu. Um a um, os restaurantes encerraram as atividades. Na última quinta-feira, foi a vez de Francisco Ansiliero terminar uma história de 19 anos do Dom Francisco com a Academia de Tênis. ;Decidi fazer isso em respeito aos clientes. Eles estavam acostumados a um padrão que não existia mais. Fiz um termo de destrato. Não adianta ficar malhando em ferro;, lamentou o empresário.

A decadência do ambiente reduziu o movimento no restaurante. De acordo com Ansiliero, não foram raras as vezes em que faltaram luz e água em pleno funcionamento. ;A relação se tornou indigesta. Acho que os compradores não entenderam a importância da Academia de Tênis para a cidade;, critica. Agora, o cozinheiro estuda a possibilidade de montar o negócio em outro local. O cardápio brasileiro do restaurante, situado à beira da piscina, era um dos preferidos do ex-vice-presidente José Alencar, morto em 29 de março deste ano, após longa batalha contra o câncer.

A decisão de passar o comando do negócio foi tomada no ano passado, dois anos após a morte de José Farani. O empresário era conhecido por conduzir pessoalmente o resort. A família explicou que dois motivos nortearam a decisão. O primeiro foi a necessidade de uma reforma que colocasse o lugar em condições de competição com outros hoteis. ;O custo disto seria extremamente alto e muito arriscado, e nós não tínhamos recursos. O empreendimento tinha ficado muito grande;, explica Marco Farani, diplomata e herdeiro do espólio.

A segunda razão foi a dificuldade em garantir um consenso entre os filhos sobre o futuro do empreendimento. ;A decisão de vender foi muito dolorosa para todos nós. Afinal de contas, todos nós crescemos ali, vivemos a epopeia que foi a construção, ao longo de 30 anos, daquilo que é hoje a Academia;, revela Farani. Especula-se que o negócio tenha sido fechado em cerca de R$ 240 milhões.

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