postado em 10/07/2011 08:00
Talvez um dos atrativos que mais tenha afetado a rotina de Brasília tenha sido o Cine Academia, fundado em 1997. A proposta do cinema era dar à capital federal um circuito alternativo de produção cinematográfica, missão cumprida com louvor. Durante 13 anos, filmes que dificilmente entrariam em cartaz nas salas comerciais encantaram um público esfomeado por histórias produzidas nos quatro cantos do mundo. Em 1999, o Cine Academia foi além e promoveu o primeiro Festival Internacional de Cinema (FIC), que deu ainda mais espaço para joias da sétima arte. As edições receberam o ator Morgan Freeman, o diretor israelense Amos Gitai, o francês Damien Odoul.
;O espaço teve o papel de tornar Brasília cosmopolita, a nível de Rio de Janeiro e São Paulo em termo de cinema. Antes da Academia e do Centro Cultural do Banco do Brasil, se você quisesse se atualizar, tinha que ir para o aeroporto e pegar um avião. Gosto de dizer que um bom circuito de exibição é como um museu: educa a plateia;, comenta Sérgio Moriconi, cineasta e crítico de cinema. Moriconi exemplifica bem a envergadura cultural do FIC. ;Depois do FIC, cheguei a Paris, que é a melhor cidade que se tem para ir ao cinema, e não tinha nada para ver, porque eu já tinha visto tudo aqui. Paris se tornou uma cidadezinha brasileira;, brinca.
Em 5 de maio do ano passado, um curto-circuito provocou um incêndio em uma das 10 salas do cinema, resultando na interdição geral da exibição. Utopia e barbárie, Vidas que se cruzam, Um homem sério, O segredo dos seus olhos, Cerejeiras em flor e Tulpan ainda têm os cartazes em display na bilheteria que não abre há mais de um ano. O que era o hall que comportava sofás e o café agora é uma série de escombros, de desolar quem viveu tempos áureos do cinema.
O fim das atividades deixou órfãos uma legião de cinéfilos. Como a estilista Brunna Nastassia, 25 anos. Ela apaixonou-se pela arte cinematográfica cedo, com 14 anos, e nutriu com a academia uma relação de aluna e professor. ;Aprendi muita coisa aqui. Por exemplo, o cinema iraniano. Conheci aqui, durante um festival. Mesmo quando morava fora, quando vinha a Brasília, dava um jeito de vir aqui tomar um café e ver um filme francês. Já faz e continuará fazendo muita falta;, relembra.
O próprio idealizador e realizador do Cine Academia sofre com o vazio. ;Eu e a minha mulher sentimos muito a falta do Cine Academia. Já tem mais de um ano que o cinema fechou e até hoje não sabemos o que fazer nos fins de semana. Vivemos um deserto vermelho;, diz Marco Farani. Ele não descarta empreender um novo complexo cultural. (AS)