Marco Prates
postado em 11/07/2011 07:20
O 190 é o número do serviço de emergência da Polícia Militar. O 911 brasileiro deve ser discado por quem quer contato imediato com as autoridades, de maneira a prevenir ocorrências graves ou pedir a presença da polícia na busca de algum bandido que acabou de cometer um crime. Mas, no Distrito Federal, o atendimento, que em junho completou três anos gerido por uma empresa terceirizada (leia Memória), coleciona reclamações da população e tem o descrédito até de policiais militares.O Correio encontrou um caso em que o pedido de ajuda ao 190 nem teve o registro no sistema da Polícia Militar, apesar de quatro ligações feitas pela vítima. O estudante Renato de Lima Cordeiro, 24 anos, acordou com uma visão desagradável em 17 de junho. Do alto do seu quarto, no quinto andar de um prédio da 205 Norte, ouviu o alarme do carro tocar, por volta das 7h45. Ao abrir a janela, enxergou um homem furtando as rodas do veículo. Ele gritou que ia ligar para a polícia, mas o bandido não se intimidou. ;Ele me respondeu: ;Pode chamar!’;, conta. Em seguida, Renato ligou para o 190. Por volta das 8h30, os policiais não haviam chegado. Na quarta ligação, o atendente mudou o discurso: em vez de repetir que uma equipe estaria a caminho, afirmou que não havia efetivo disponível e que deveria procurar a Polícia Civil.
O mais grave é que, apesar das repetidas ligações, o pedido de Renato nunca chegou ao 3; Batalhão da Polícia Militar, na Asa Norte. O Correio teve acesso ao sistema de análise criminal da PM no mesmo dia da solicitação e não havia qualquer referência à reclamação do estudante. ;Ela não chegou até nós, isso eu posso garantir, porque efetivo eu teria para atender;, afirmou o comandante do 3; Batalhão de Polícia Militar,
tenente-coronel Leonardo Sant;Anna. Ele não se revelou surpreso que o pedido não tenha chegado a ao batalhão.
Informado pela reportagem que o pedido havia se perdido, Renato indignou-se: ;Eu liguei quatro vezes, dava tempo de perseguirem os caras e, provavelmente, prendê-los. É um descaso com a população, porque a gente tem o dever de pagar impostos, mas tem direito aos serviços de segurança pública;, reclamou.
Descaso
A auxiliar de enfermagem Mariza de Araújo, 35 anos, também perdeu a confiança no 190. Na única vez em que precisou do serviço, uma equipe da PM que estaria nas proximidades do local da ocorrência, segundo o atendente, nunca apareceu. O pedido foi feito na metade do ano passado, durante um dos ataques de fúria do cunhado dela, que bebe muito e vive no mesmo lote da família, em Sobradinho. Um mês depois, em situação parecida, ela preferiu recorrer a um contato na corporação para garantir a presença da Polícia Militar. ;Ele (um parente) se comunicou diretamente com a PM. Dessa vez, a polícia chegou sem demora. A gente não usa mais o 190;, explica Mariza.
Há ainda casos de orientações equivocadas para quem liga no 190. O motorista Fábio Nascimento, 35 anos, pediu que a PM garantisse a segurança da quadra dele em Ceilândia, em setembro do ano passado. Ele havia visto um cachorro da raça pit-bull circulando livremente durante a manhã, horário em que muitas crianças seguiam para escola. A atendente orientou-o a ligar no numero 197, da Polícia Civil. Obviamente, os agentes civis rebateram que o trabalho era mesmo da Polícia Militar. Em nova chamada ao 190, o discurso mudou. ;O atendente falou que não iriam disponibilizar carro para isso, que a viatura só sairia em casos mais graves, como homicídio;, diz Fábio.