Cidades

Cresce o número de empresas focadas no público infanto-juvenil no DF

postado em 12/07/2011 08:00
Sílvia Lobato Camargo, proprietária da Boobambu - Academia da Criança, estabelecimento que auxilia no desenvolvimento físico, motor e cognitivo de meninos e meninas com até 10 anos" />
Mais de 542 mil consumidores em potencial. De acordo com dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa é a dimensão dos moradores de Brasília e região com idade até 14 anos. Devido a mudanças comportamentais no perfil das famílias e ao incremento real na renda dos brasileiros nos últimos anos, o investimento em negócios com foco nas crianças é tido como o mais promissor da atualidade. Empresários devem ficar atentos às necessidades e aos desejos desse público e de seus pais. No DF, onde o Produto Interno Bruto (PIB) per capita atinge o triplo da média nacional, a possibilidade de sucesso de empresas especializadas em produtos e serviços para o público infantojuvenil é maior ainda.

A consultora de marketing Adriana Leocádio, especialista em comportamento do consumidor, explica que, atualmente, existem poucos números sobre a dinâmica específica do mercado infantil. O norte mais recente acerca do tamanho do segmento foi dado por pesquisa da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) realizada em 2006. O levantamento revelou que os negócios voltados para o público de 2 a 10 anos crescem a uma taxa de 14% ao ano, o dobro da média registrada para empresas que focam os adultos. O mesmo estudo mostrou que os negócios infantis movimentam cerca de R$ 50 bilhões anuais no país. Não existem dados análogos acerca do Distrito Federal.

Retorno certo
Embora haja carência de análises quantitativas, ressalta Adriana, em termos qualitativos o universo infantil mostra ser uma aposta de retorno certo para empreendedores. Além do aumento do poder de consumo dos brasileiros, contribui para isso uma nova dinâmica nas famílias própria do século 21.

;Com a saída da mulher para o mercado de trabalho, a mãe tem que se dividir. Os pais têm que planejar atividades e alternativas para o tempo fora da escola. Em termos de serviços, isso abre inúmeras possibilidades. Hoje, uma das maiores tendências são os sistemas novos de educação, que têm a internet como principal ferramenta. Sites, portais, salas de bate-papo, DVDs educativos são exemplos. A criança pode fazer curso de idiomas através da rede mundial de computadores. Outras áreas que crescem muito são esportes, escola de música e teatro. Essas últimas estão deixando de ser um luxo, algo supérfluo. A lógica da classe média é de que quanto mais eu tenho, mais eu quero;, destaca Adriana Leocádio.

A consultora de marketing acrescenta que as crianças dos dias atuais diferem daquelas de 10 anos atrás. ;A criança de hoje é cheia de informação. Ela se identifica com personagens, tem consciência de seu poder aquisitivo e do valor agregado de algumas marcas;, frisa.

Inovação
A professora de educação física Sílvia Lobato Camargo seguiu seu faro quando decidiu abrir um espaço dedicado inteiramente a auxiliar no desenvolvimento físico, motor e cognitivo de crianças com até 10 anos. Não existia nenhum estabelecimento com a mesma proposta no Distrito Federal quando, há 5 anos, ela começou a gerenciar a Boobambu ; Academia da Criança. Para abri-la, Sílvia escolheu o Sudoeste, conhecida pelo poder aquisitivo elevado dos habitantes.

;Fui na intuição. Conhecia a área e acreditava que podia haver uma resposta boa. Sempre gostei de criança e, nos meus empregos, me dei conta de que o local onde eu queria trabalhar não existia. Daí surgiu a ideia de montá-lo eu mesma;, conta.

Sílvia ressalta que transformar o sonho em realidade não foi fácil. ;Inovar foi muito difícil. Eu fiz capacitação e tive a ajuda de consultores, mas precisava adaptar tudo à minha proposta, pois não existe curso de gestão administrativa para negócio infantil;, comenta.

A professora de educação física também encontrou dificuldades para vender a ideia aos pais. ;As pessoas me perguntavam o que era, se escola, creche ou berçário. Trabalhamos com aulas de arte, música e ginástica, que desenvolvem os sentidos e a atividade motora. Todo o nosso pessoal é qualificado. A proposta era nova para as famílias, mas os clientes assimilaram muito bem e hoje somos um sucesso;, afirma Sílvia. Ela informa que a academia, que inicialmente tinha somente duas salas de aula, hoje tem oito, e 200 crianças estão matriculadas.

Com o tempo, Sílvia foi aprendendo na prática que tratar com pais zelosos pelo bem-estar dos pequenos é bem diferente de negociar com consumidores comuns. ;O processo de vendas é muito minucioso. Às vezes, passo duas horas conversando com um cliente em potencial, e a matrícula só é feita um mês depois.;

Missão dupla
Quando decidiu expandir os horizontes para além do ramo da saúde, a fisioterapeuta e hoje dona de bufê infantil Daniela Almeida também teve que descobrir a melhor forma de vender para um público diferenciado. Mas, no caso dela, que produz festas principalmente para pré-adolescentes, com idade em média até 12 anos, a missão é dupla: conquistar a confiança dos pais e o encantamento dos pequenos.

;Às vezes o que a criança quer não é o que o pai quer. Tenho que conciliar as duas coisas;, afirma Daniela, que abriu sua empresa, o bufê Camarim Kids & Teens, em 2001, quando começava a onda de meninas frequentarem salões de beleza. A prática, hoje considerada comum, era privilégio de adultas nos anos 1990.

;Na época, houve a febre das festinhas de aniversário com salão de beleza como tema. Achei que era um mercado promissor, pois as meninas estavam cada vez mais vaidosas. Busquei ideias e materiais em São Paulo e investi;, conta Daniela Almeida. Hoje, ela faz até duas festas por dia, para os públicos masculino e feminino. ;Os meninos até 7 anos em geral gostam de fazer cabelo e tatuagens de mentirinha;, explica.

A forte influência da publicidade

De acordo com o estudo ;Kids Power;, da TNS Interscience, 83% das crianças brasileiras são influenciadas pela publicidade, 72% por produtos associados a personagens famosos, 42% por amigos, 38% por produtos que oferecem brindes e jogos e 35% por embalagens coloridas e atrativas. Ou seja, das prateleiras do supermercado até as conversas no recreio da escola, tudo pode ser fonte para uma comunicação mercadológica efetiva. Os fatores que mais influenciam as escolhas das crianças são: em primeiro lugar, os anúncios de tevê; em segundo, a associação de produtos ou serviços a personagens famosos; e em terceiro, as embalagens.

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