As eleições de 2010 são coisa do passado e ainda falta muito tempo para a disputa de 2014. Mas de olho em, pelo menos, três vagas que devem abrir no Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) até 2012, um grupo de distritais está em plena campanha. Desta vez, os eleitores serão os próprios colegas de Câmara Legislativa. A perspectiva é de que, no próximo trimestre, a situação do conselheiro Domingos Lamoglia tenha um desfecho. A aposentadoria compulsória deve ser a punição para o envolvimento com a Caixa de Pandora. Se a previsão se confirmar, será o primeiro assento no Tribunal a ficar disponível na atual legislatura. Outros dois postos estarão vagos entre outubro e dezembro do ano que vem.
A possibilidade da aposentadoria de Lamoglia agitou deputados interessados em migrar do Legislativo para o TCDF (leia Para saber mais). Ao menos meia dúzia de distritais sonha em se tornar conselheiros. Desses, no entanto, nem todos teriam chances no atual contexto político. Aqueles que enxergam a oportunidade, por mais remota que seja, trabalham para se cacifar. Estão na disputa o líder do governo na Câmara, Wasny de Roure (PT), o colega de partido Chico Leite, Rôney Nemer (PMDB) e Dr. Michel (PSL). Em outros tempos, Eliana Pedrosa (DEM) e Benício Tavares (PMDB) já tentaram ingressar no tribunal. Mas, na próxima disputa, deverão agir não como candidatos, mas como cabos eleitorais.
Nos bastidores, a expectativa é de que Eliana trabalhará em favor de Rôney Nemer, que contaria ainda com o apoio de Benício, dois dos mais experientes articuladores da Câmara. Ele tem ainda a benção do vice-governador, Tadeu Filippelli (PMDB). Ainda a seu favor, conta o fato de estar no terceiro mandato e de ser um distrital relativamente bem votado ; o que estimula os colegas interessados no espólio político. Rôney, no entanto, teve o nome envolvido nas denúncias da Caixa de Pandora. Uma vez eleito pelos pares, ocuparia vaga aberta em função do mesmo escândalo. Isso pode até pegar mal com a opinião pública, mas definitivamente não seria impeditivo para os deputados.
Se Rôney sai com vantagem entre integrantes do chamado grupo dos 16, Wasny tem se esforçado desde o primeiro dia em que entrou na Câmara para conquistar a simpatia não só de governistas, mas também de representantes da oposição, dos quais ouve com atenção as demandas. Recentemente, ele levou Celina Leão (PMN) para uma reunião com o presidente do Banco de Brasília (BRB), Edmilson Gama. Sem alardes, tem procurado os colegas para falar do seu desejo antigo de concorrer ao TCDF.
No início do ano, o governador Agnelo Queiroz (PT) chegou a tocar no assunto da vaga do TCDF com Chico Leite. Perguntou se, eventualmente, ele teria interesse em disputar o posto. O questionamento tinha a ver com a composição que Agnelo precisava fazer na Câmara para atender a outros integrantes do PT. Chico Leite não nega o interesse na vaga. Só não admite entrar em campanha: ;Não dá para fazer campanha e ser fiscal do seu próprio eleitor. Uma das funções de conselheiro é justamente fiscalizar o deputado;.
Novidades em 2012
Em 3 de outubro de 2012, o conselheiro Ronaldo Costa Couto completa 70 anos, idade em que se impõe aposentadoria compulsória. Dois meses depois, será a vez de Marli Vinhadeli. A vaga de Costa Couto é de indicação do Executivo. A de Marli é vinculada à carreira de auditor do próprio Tribunal de Contas. No caso de Lamoglia, a prerrogativa é da Câmara Legislativa. Levando-se em conta todos os assentos de conselheiros, quatro foram de sugestão dos distritais, um do Executivo, outro ligado ao Ministério Público e ainda um reservado à carreira de auditor.
Para Saber Mais
Posto Vitalício: Não por acaso as vagas do Tribunal de Contas são muito cobiçadas. O principal atrativo é a vitaliciedade do cargo. Quem entra como conselheiro tem a opção de só deixar o posto aos 70 anos, mediante aposentadoria compulsória. O salário é outro argumento sedutor. Os integrantes da Corte ganham R$ 24.117,62, o equivalente a 90,25% do que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, têm direito a gabinetes próprios, quatro assessores e carros oficiais com motoristas. Antigamente, podiam optar pelo uso de apartamentos funcionais.
Não é só a estrutura do TCDF que atrai os políticos, mas também o poder que eles têm nas mãos quando se tornam conselheiros. Uma das atribuições da Corte é julgar as contas do governo e de gestores. Quando reprovadas, em decisão que precisa ser respaldada pela Câmara, os responsáveis perdem o direito de se candidatar por um período de até oito anos.