Gastos com beleza passaram a fazer parte da lista de despesas fixas de todas as classes sociais. Serviços como corte de cabelo, o trato da sobrancelha e das unhas, que antes eram vistos como luxo exclusivo para poucos, não apenas alcançaram os menos afortunados, como registram nas classes C, D e E os maiores aumentos na procura. As despesas com o setor cresceram 26%, 35% e 47%, respectivamente, de 2002 a 2008, e somaram R$ 8,3 milhões. Em contrapartida, as classes A e B passaram a despender 4% menos no mesmo período, com investimento de R$ 10,2 milhões.
O estudo, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que os brasilienses deixam R$ 18,7 milhões por mês nos salões de beleza. Os dados, coletados durante seis anos, foram revelados ontem, após análise da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF).
O presidente da entidade, Adelmir Santana, acredita que o segmento deva continuar crescendo, assim como a demanda por cosméticos e produtos de higiene e limpeza. ;O interessante é que as pessoas não entendem isso como sendo uma despesa, mas como investimento pessoal, melhoria da imagem. São demandas reprimidas que quando as pessoas têm renda, afloram.;
Enquanto isso, as classes mais altas, em contato com as opções do mercado há mais tempo, parecem ter mudado o foco. Apesar de serem responsáveis por repassar mais de R$ 10 milhões por mês ao segmento, houve uma retração nos gastos, segundo a análise. Professor de economia da Universidade de Brasília, Roberto Piscitelli arrisca uma análise: ;Apesar de não haver um motivo claro, é possível que essas pessoas tenham descoberto opções ainda mais sofisticadas e migrado para essas outras formas de serviço;.
Para o professor, há uma diversificação do consumo, principalmente nas classes mais baixas. ;Elas passam a ter padrões de consumo mais parecidos com as classes superiores. Tentam se igualar porque, obviamente, existe uma influência, elas estão sendo estimuladas a reproduzir aquele padrão;, acredita Piscitelli. Na opinião do professor, esses detalhes, que acompanham a ascensão da classe C, também apontam para uma redução nas desigualdades do consumo.
Agendas lotadas
O movimento intenso virou rotina em muitos salões da cidade. Na contramão das medidas do governo de frear o consumo, Lais Gomes, 48 anos, proprietária do Studio A/C, conta que as clientes são assíduas e continuam gastando. ;A maioria das clientes que temos aqui vêm ao salão pelo menos uma vez por semana para fazer as unhas e também escova nos cabelos. Os únicos dias de movimento razoável são terça e quarta-feira, nos outros o salão está quase sempre cheio;, conta.
A funcionária pública Desirée Dantas, 43 anos, é uma das clientes que vai toda semana ao salão. ;Mantenho a mesma rotina há anos. Faço pé, mão e escova quase toda sexta-feira;, diz. Para a presidente do Sindicato dos Cabeleireiros Profissionais Autônomos da Área de Beleza do Distrito Federal (Sincaab), Elaine Furtado, o aumento da demanda só foi possível devido a uma melhoria na qualidade das mercadorias. ;As classes mais baixas, sobretudo, só investem em produtos que dão bom resultado;, ressalta.
Para Hélio Diff, cabeleireiro do salão Metamorphose, houve também uma mudança no comportamento das pessoas. ;O número de clientes, principalmente homens e crianças, aumentou. Acho que é por conta da mudança de pensamento do brasileiro com relação à saúde;, acredita. Segundo Diff, as pessoas passaram a comer melhor, fazer mais exercícios físicos e também a cuidar mais da parte estética para se sentir bem. ;Para isso não há idade nem sexo definidos;, completa.
R$ 1 bilhão em gastos
As despesas com salão ultrapassam R$ 1 bilhão por mês no país, segundo a pesquisa do IBGE. Os indicadores nacionais também mostram que, em média, as famílias da classe B são as que mais gastam com cabeleireiro, o equivalente a R$ 281 milhões por mês.
Colaborou Mariana Branco