Cidades

Imagination limita-se hoje a ferros retorcidos, objetos perdidos e sujeira

O Correio entra na embarcação quase dois meses após a tragédia que terminou com a morte de nove pessoas no Lago Paranoá

postado em 17/07/2011 08:10

O maior acidente náutico da história do Lago Paranoá completa dois meses na próxima sexta-feira e, desde então, pouca coisa mudou. As famílias dos nove mortos continuam de luto, os sobreviventes tentam se recuperar do trauma, nenhum responsável pela tragédia foi punido e a fiscalização no espelho d;água permanece ineficiente. Quem estava na luxuosa embarcação na noite do naufrágio não se esquece dos momentos de pânico nem entende a demora da Polícia Civil e da Marinha em darem uma resposta à tragédia. Pelo menos 110 pessoas estavam a bordo na hora do acidente.

O Imagination, que tinha dois andares, está abandonado às margens do lago, num terreno vazio entre o Centro de Treinamento da Justiça Federal (Centrejufe) e a Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade), no Trecho 2 do Setor de Clubes Sul. Transformou-se em abrigo de cães. O cenário de destruição lembra o de um navio fantasma: ferros retorcidos, espelhos quebrados e muita sujeira somam-se a roupas, calçados, bolsas, chaves, entre outros objetos pertencentes a passageiros e a tripulantes, abandonados no momento em que a estrutura de 15 toneladas era sugada pelas águas. Tudo ali traz de volta más recordações.

Diunei Massini, sobrevivente: Ao longo da semana, o Correio foi a primeira equipe de reportagem a entrar no barco, após o acidente. O segundo andar, onde dezenas de pessoas dançavam antes do desastre, é a parte mais conservada. A grama artificial que cobre o piso de madeira permanece praticamente intacta, assim como o restante da cobertura. A escada que leva ao andar inferior do Imagination encontra-se coberta pelo barro. Na proa, o rastro de destruição pode ser percebido por toda parte. À direita, o chinelo de uma criança foi deixado ao lado de uma garrafa de uísque. Ao olhar para o teto, observa-se um emaranhado de fios descascados e caídos sobre o convés. À esquerda, sobre um casaco masculino, uma das ocupantes deixou para trás uma bota de couro.

Na cozinha, o único utensílio inteiro que sobrou foi um prato branco. De resto, apenas cacos de copos, vasilhames de vidro e garrafas de bebidas alcoólicas. Uma blusa de frio e uma calça social jogados no armário do material usado pelos funcionários do bufê confirmam que muitos personagens da tragédia tentaram se livrar das vestes pesadas antes do naufrágio. Nos banheiros, os vasos sanitários rachados acumulam água parada, ambiente propício para a proliferação do mosquito da dengue, assim como as duas pias pouco danificadas.

O estado degradante do Imagination começa a atrair a atenção dos frequentadores do lago: praticantes de canoagem, donos de jet skis e de veleiros, além de condutores de lanchas. Todos cruzam com o barco devagar, num misto de curiosidade e respeito às vítimas.

Inquérito parado
O inquérito aberto pela 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul, responsável pela investigação das causas do acidente, está parado. A alegação é que o resultado do exame pericial feito pelo Instituto de Criminalística (IC) não foi concluído. ;Temos de esperar o laudo para chegarmos a algumas conclusões, como, por exemplo: saber se a embarcação estava em dia com a manutenção; se houve excesso de peso; como se comportou o motor; e outros detalhes fundamentais para o desfecho do caso;, explicou o delegado adjunto da 10; DP, Paulo César Barongeno.

Ele acredita que pelo menos três pessoas serão indiciadas no processo: o dono do barco, Marlon José de Almeida, 44 anos; o comandante da embarcação; e um terceiro envolvido, que pode ser a organizadora da festa, Vanda Cristina Pereira, ou o responsável pela manutenção.

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