postado em 17/07/2011 08:12
O inquérito administrativo, de responsabilidade da Marinha, só deve ser concluído em 30 dias. A corporação também anunciou um estudo para aumentar o efetivo de militares responsáveis pela fiscalização dos 110 quilômetros de margens do Lago Paranoá, mas até hoje a promessa não passou de discurso. Atualmente, apenas quatro marinheiros fazem a vigilância da região, que, em um fim de semana ensolarado, concentra mais de 400 barcos, lanchas, jet skis e botes. Em Brasília, há 2 mil cadastrados.O delegado fluvial de Brasília, Rogério Leite, garantiu que, mesmo sem reforço no quadro, as abordagens aos condutores de embarcações aumentaram substancialmente desde o dia do naufrágio do Imagination, que carregava 18 pessoas a mais do que a capacidade (leia Memória). ;O estudo sobre o aumento de efetivo ainda não foi concluído. O que posso dizer é que as inspeções aumentaram muito nos últimos dias;, limitou-se a dizer o oficial da Marinha.
Quem frequenta o lago não percebeu modificações significativas na rotina. É o caso do vice-presidente de náutica da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), José Bandeira Neto. ;A Marinha até passou a normatizar melhor as saídas de embarcações dos clubes, mas, se você rodar pelo lago, vai continuar vendo gente bêbada conduzindo lancha em alta velocidade. Melhorou um pouco, mas ainda falta muito;, reclamou.
Treinamento
As dificuldades para içar o barco das profundezas do Lago Paranoá mudaram a rotina no Grupamento de Busca e Salvamento, destacamento dos bombeiros que atuou no resgate. Depois do acidente, os mergulhadores que participaram da missão iniciaram um intenso treinamento para içar embarcações de grande porte.
De acordo com o comandante do batalhão especial, coronel Marco Negrão, não é possível reproduzir o episódio com o Imagination, mas outros veículos são usados para simular o resgate. ;O fundo do lago tem ônibus, carro e outras coisas pesadas. Estamos fazendo alguns exercícios, que consistem em içar esses objetos para aperfeiçoarmos as nossas técnicas, pois tivemos bastante dificuldade com o Imagination;, ressaltou.
Ele contou também que as duas boias danificadas na operação ainda não foram substituídas. Segundo Negrão, o comando da corporação está providenciando a compra desses equipamentos, imprescindíveis em ações desse porte. Os balões flutuantes sofreram avarias depois que uma lancha de 26 pés invadiu a área isolada para o resgate do Imagination e bateu nas boias.
Ponto a ponto
O empresário Marlon José de Almeida, 44 anos, dono do Imagination, foi do céu ao inferno em menos de 24 horas. Em 21 de maio, um sábado, nascia o primeiro filho. No domingo, o luxuoso barco naufragava com mais de 100 pessoas a bordo. Marlon se manteve calado desde o dia da tragédia, mas rompeu o silêncio na última sexta-feira. Em entrevista exclusiva ao Correio, disse sentir pelas vidas que se foram, rebateu as acusações de que a embarcação apresentava problemas e garantiu que todos os procedimentos de segurança foram adotados. Confira os principais trechos da conversa com o proprietário do Imagination:
Silêncio
Permanecemos em silêncio até este momento porque estávamos atônitos, assustados com os depoimentos inverídicos de algumas testemunhas e com interpretações distorcidas da realidade. A sensação que tínhamos era de que a sede de notícia estava sendo saciada por aqueles relatos e que ninguém estava interessado em nos ouvir.
[SAIBAMAIS]Segurança
Obedecemos rigorosamente às normas da Marinha. O comandante era experiente e devidamente habilitado. O barco tinha coletes suficientes e acessíveis a todos. Tinha motores reservas, bem como gerador reserva. A vistoria e a certificação estavam em dia. Quando fui chamado (depois do acidente), cheguei rapidamente ao local e prestei imediato socorro a muitas pessoas. Sempre acreditamos na segurança da embarcação, tanto que minha filha dormia em um colchonete na cozinha durante os eventos, enquanto a mãe cozinhava. Não somos aventureiros. Meu filho nasceu um dia antes dessa tragédia. Do contrário, estaríamos todos lá, literalmente, no mesmo barco.
Causas do acidente
Não temos muitas respostas, mas algumas perguntas nos atormentam. O que havia de diferente naquele domingo? Quais fatores foram determinantes para a tragédia? Seria superlotação? Seria o fato de uma lancha que insistia em fazer marola, distrair o comandante, atrair a atenção de todos ali presentes, fazendo com que eles se dirigissem ao mesmo tempo para o mesmo lado do barco?
Mensagem aos parentes dos mortos
Pedimos a Deus que dê força aos familiares das vítimas. Gostaríamos de dizer que sentimos muito pelas vidas que se foram e que, acima de tudo, respeitamos o sofrimento das famílias. Agradecemos imensamente aos amigos e aos nossos clientes, que, conhecedores do nosso trabalho e da nossa seriedade, não hesitaram em manifestar solidariedade por e-mails e ligações.
Responsabilidade
Podemos assegurar que o barco havia sido cedido para o bufê que prestava serviço rotineiramente e que a proprietária (Vanda Cristina) ficou responsável pela organização e pelo controle do evento, tendo se comprometido a observar e a respeitar o limite de 92 passageiros, incluindo a tripulação.