Cidades

Primeiro lugar no vestibular da UnB só estava "testando seus conhecimentos"

O jovem não vai se matricular no curso medicina para o qual passou

postado em 21/07/2011 08:00
Rafael disse que apenas testou os conhecimentos no vestibular da UnB para concorrer no fim deste ano a uma das vagas de engenharia mecânica ou elétrica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)Ser aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) estava nos planos de Rafael Takeshi. O jovem de 16 anos, estudante do 3; ano do ensino médio, só não esperava um resultado tão surpreendente. O tímido rapaz de ascendência japonesa inscreveu-se para medicina, concorreu com 24 mil candidatos e emplacou o primeiro lugar da lista de 3.880 aprovados para as vagas de 93 cursos diversos. O segredo para a façanha? Dedicação, força de vontade e determinação. Rafael largou o videogame e a internet durante as férias para ler livros, fazer exercícios e tirar dúvidas. Três vezes por semana, o estudante ainda praticou kendô, esporte ao qual se dedica há quatro anos. ;É um esporte que eu gosto muito e acho que me ajudou;, avalia.

Rafael mora em uma casa simples e aconchegante em Vicente Pires. O garoto resolveu se inscrever no vestibular da UnB por causa de uma aposta feita com um professor. ;Ele disse para a turma que quem passasse em medicina ganharia uma coleção de livros de física;, contou. Nos dias das provas, o estudante admite ter ficado preocupado. Usou todo o tempo permitido pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) para marcar as respostas e saiu do local com a sensação de que não tinha passado. ;Achei o vestibular difícil, principalmente as questões da área de humanas.; Rafael também não foi até ao Câmpus Darcy Ribeiro para pegar o resultado. ;Quando um servidor do Cespe ligou para avisar que eu tinha ficado em primeiro lugar, eu estava dormindo e nem acreditei;, disse.

Mesmo com o excelente desempenho, o jovem não vai cursar medicina. Apenas testou os conhecimentos para concorrer no fim deste ano a uma das vagas de engenharia mecânica ou elétrica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Rafael não é exceção dentro da família. Seus pais eram médicos e morreram em um acidente de trânsito quando ele era bebê. A mãe tinha sido aprovada na UnB com apenas 15 anos. A irmã de 20 anos cursa engenharia civil, a tia Kátia Zeredo, 37, é dentista e um outro tio é engenheiro mecatrônico.

Com a família, ao comemorar o resultado: A avó de Rafael, a dona de casa Amélia Ono Sasaki, 60, conta que desde criança o neto tem facilidade para aprender e lidar com os números. ;Eu ficava impressionada como ele sabia fazer todas as contas de matemática. A gente não sabia como chegava àquele resultado.; É que, aliada à inteligência, está também a determinação. ;Não me interessam as notas do boletim. Sempre falei para eles (meus filhos e netos) estudarem para ter trabalho no que quiserem;, ensinou Amélia. ;Ele gosta de estudar, e não é para tirar nota. O Rafael costuma fazer os exercícios e discutir os problemas com as pessoas. Além do mais, ele pratica esporte e isso é muito importante para arejar a cabeça. Acaba sendo uma terapia;, analisa a tia do rapaz.

Impedimento

Rafael não quer cursar medicina. Mas, se fosse ingressar na UnB, o rapaz enfrentaria problemas em decorrência da falta de diploma de ensino médio. Uma resolução aprovada em dezembro de 2010 pelo Conselho de Educação do DF prevê a admissão de estudantes apenas em caso de conclusão de 75% do ano letivo. ;A Lei de Diretrizes e Bases é muito clara ao estabelecer que, para ingressar no ensino superior, é preciso primeiro concluir a educação básica. O aluno tem que cumprir os objetivos e adquirir maturidade até para decidir qual curso quer. É um prejuízo para o aluno e também para a universidade, que tem número alto de desistências de curso por causa dessa incerteza;, defendeu o vice-presidente do conselho, Nilton Alves Ferreira.

Conforme levantamento feito pelo órgão este ano, mais de oito mil alunos do terceiro ano do ensino médio se inscreveram no segundo vestibular de 2011 da UnB. No ano passado, 600 deles foram aprovados. Este ano, o número subiu para cerca de mil, mas esses estudantes não devem entrar na universidade, a não ser via Justiça. Para efetuar a matrícula, entre 22 e 25 de agosto, é preciso apresentar o certificado de conclusão do ensino médio.

O estudante do Colégio Militar de Brasília Guilherme Costa, 17 anos, está na expectativa de conseguir a liberação para cursar engenharia mecânica. Ele ficou em terceiro lugar no vestibular, mas ainda está no terceiro ano. ;Vou ao meu colégio para pegar a liberação. Já vi em outros anos eles entregarem a conclusão e acho que vai dar certo. A gente fez a matéria de um ano todo em um semestre e não perde nada em conteúdo;, disse.

A lei faculta o ingresso na universidade a casos excepcionais, ou seja, para alunos com altas habilidades. Nos demais casos, de acordo com Nilton Ferreira, não existe respaldo legal para a certificação. ;A gente espera que este ano a Justiça não expeça liminares, porque essas etapas previstas na LDB precisam ser respeitadas;, destacou.

Esporte samurai
Kendô significa caminho da espada. É uma arte marcial japonesa criada no século 20 e desenvolvida a partir de técnicas de combate com espadas dos samurais. O praticante do kendô é chamado de kenshi ou kendoka.

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