Roberta Machado
postado em 21/07/2011 10:11
Há anos as estreitas ruas do Plano Piloto sofrem com o volume crescente de carros, mas um tipo de veículo se destaca como um dos protagonistas das reclamações feitas por motoristas: os caminhões. Eles intimidam condutores de automóveis menores e frequentemente interditam vias ao estacionarem em espaços irregulares. Hoje, são quase 22 mil no DF, o que representa 1,8% da frota na capital federal. Mesmo que o número não pareça significativo, as dimensões desses gigantes são proporcionais às complicações causadas por eles no trânsito.A reportagem do Correio percorreu ontem várias quadras comerciais. Na maioria delas, foram flagrados caminhões desrespeitando a legislação de trânsito, seja parando em fila dupla, em local irregular ou obstruindo vagas desocupadas. Às 13h, um caminhão de refrigerantes abastecia um restaurante na Quadra 302 do Sudoeste. O veículo longo atrapalhava a saída de diversos carros e ficou no local por mais de 15 minutos. Na 309 Sul, moradores e flanelinhas denunciaram outro que usa um espaço destinado a carga e descarga como ponto de estacionamento das 18h às 8h.
O assistente operacional da transportadora responsável pelo caminhão, Edson Marques, 27 anos, atribuiu a infração à falta de vagas para esses veículos no Plano Piloto. ;O comércio não oferece ponto para a parada, então usamos aquele espaço durante a noite e a madrugada;, justifica. Ele salienta que na filial da empresa, no Setor de Indústria e Abastecimento, diferentemente da Asa Sul, há locais apropriados para caminhões.
A advogada Maria de Lourdes Santos, 52 anos, foi impedida de estacionar na tarde de ontem quando chegava à 310 Sul. Um caminhão obstruía a passagem para a vaga vazia. ;Se param em fila dupla, que pelo menos fiquem dentro do veículo, mas nem isso o motorista do caminhão fez;, reclama. ;Se querem fazer as entregas, que façam, mas não atrapalhem o trânsito, o fluxo. Na situação de hoje (ontem), ele estava tirando uma vaga;, reclama.
Regra ignorada
No Plano Piloto, é permitido aos caminhões parar ao longo dos meios-fios das comerciais para carga e descarga. A concessão vale somente das 8h às 11h30, das 14h às 17h e das 20h às 7h. No entanto, nem o horário estabelecido nem o local apontado como ideal para a atividade são respeitados. Em apenas uma hora, a equipe de reportagem do Correio registrou diversos flagrantes de desrespeito.
Na 104 Sul, um caminhão com pães teve de dar marcha a ré com as portas abertas para permitir a saída de dois carros. Ele abastecia uma padaria enquanto estava parado em fila dupla, às 13h35. O gerente do estabelecimento afirmou que a hora de recebimento de mercadoria geralmente era outra, fato confirmado pelo carregador do caminhão. ;Esse horário é difícil a gente fazer entregas;, justificou Marcelo Gomes. Na mesma quadra e na mesma hora, havia ainda um veículo recolhendo caixas de papelão de uma mercearia. Ele também estava em fila dupla.
Às 13h50, um caminhão de frios e outro de gelo fechavam o acesso de seis veículos de passeio estacionados na comercial da 108 Sul. ;São só alguns minutos, não faz diferença. Se o Detran viesse passar a caneta, eu daria uma choradinha;, brincou o motorista do carro de frios, que se identificou como Eurípedes Gonçalves. Ele, que diz nunca ter sido multado por esse tipo de infração, acha que a falha não atrapalha o trânsito de forma significativa. ;O pior são os carros que param na nossa vaga de descarga;, reclama. No momento da infração, um automóvel ocupava a área designada aos caminhões.
Falta regulamentação
O Departamento de Trânsito (Detran) dispõe de apenas 120 agentes para fiscalizar essas e outras infrações em todo o DF. Segundo o órgão, o ideal, apenas para a função, seria um efetivo de 700 pessoas. No entanto, por falta de pessoal, Plano Piloto, São Sebastião, Planaltina, Paranoá e Sobradinho 2 dividem cinco equipes com dois profissionais cada. ;Acabamos priorizando situações de segurança, como carros estacionados em esquinas e em faixas de pedestres. Estacionamento em fila dupla é um problema de fluidez, atrapalha o trânsito, mas não gera tanto perigo;, explicou o chefe de Fiscalização do Detran, Marcelo Madeira.
No ano passado, foram 3,3 mil multas por estacionamento em desacordo com a regulamentação, infração que corresponde, entre outros casos, aos caminhões parados fora do horário estipulado. Segundo Madeira, o desrespeito é causado também pelo desenvolvimento acelerado da cidade. ;Não era previsto um comércio tão grande. Em São Paulo, por exemplo, há restrições para caminhões. É uma omissão do Estado em regulamentar isso;, criticou Madeira. Na capital paulista, a lei determina que os caminhões de pequeno porte podem circular apenas de acordo com o fim da placa, em horários restritos.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga, Juvenil Martins de Menezes Filho, o grande número de veículos que realizam carga e descarga durante o horário de almoço é uma consequência da lei que os impede de fazê-lo das 7h às 8h. Segundo ele, esse seria o horário ideal para abastecer os comércios. ;Querem colocar os caminhões no horário em que todo mundo está comprando, fica difícil. A maioria das empresas prefere receber a mercadoria logo cedo ou na hora de almoço, e o transportador fica meio que refém deles;, afirmou. Ele ainda sugere a criação de entradas para transporte de cargas na parte de trás das comerciais.
Punições
Infração leve
Estacionar em desacordo com a regulamentação de vaga de carga e descarga
Penalidade: multa de R$ 53,20 e três pontos na carteira
Infração média
Estacionar impedindo a movimentação de outro veículo
Penalidade: multa de R$ 83,13 e quatro pontos na carteira