postado em 22/07/2011 08:05
Os moradores de Brasília nunca estiveram tão ávidos para visitar os Estados Unidos. Os vistos concedidos no Distrito Federal de 1; de janeiro de 2011 até ontem somaram 64.222. O número equivale a 93% das emissões registradas ao longo de todo o ano de 2010. A concessão de autorizações para viagens aos EUA vem crescendo em razão do enfraquecimento do dólar. Entre 2008 e 2009, a quantidade de permissões emitidas subiu 17,9%, de 50.976 para 60.142. Entre 2009 e 2010, a alta foi de 14,8%. Este ano, a Embaixada dos Estados Unidos realizou um mutirão em junho para dar conta da demanda e, neste sábado, prepara um segundo.Além do DF, os consulados norte-americanos em São Paulo e no Rio de Janeiro terão expediente neste fim de semana. De acordo com a assessoria de comunicação da embaixada, 3.089 pessoas serão atendidas no sábado: 2 mil em São Paulo, 689 no Rio e 400 em Brasília.
Mas não adianta correr para participar, pois as vagas para as entrevistas extras já se esgotaram. Elas foram disponibilizadas via internet ; meio pelo qual são efetuados todos os agendamentos ; sem aviso prévio de que um mutirão seria realizado.
Por meio de nota, a Embaixada dos EUA reconhece que a procura dos brasileiros pelo visto cresceu muito nos últimos anos. Segundo o órgão, de 2006 para cá, a demanda aumentou 230% em Brasília, Recife, São Paulo e Rio, cidades onde a entrevista é oferecida. O comunicado afirma que, nos últimos três anos, os Estados Unidos investiram recursos e mais do que dobraram o número de oficiais consulares no Brasil. ;O objetivo é seguir aumentando o número de oficiais nos próximos meses;, destaca o texto.
Entretanto, segundo a assessoria de comunicação, não há estimativa de quando a ampliação será feita nem de quantos novos funcionários entrarão em serviço. Atualmente, Brasília tem o maior tempo médio de espera pela marcação de entrevista entre as capitais que emitem o documento. O prazo está estimado em 133 dias, mais de quatro meses. Na tarde de ontem, a data mais próxima era 1; de dezembro. São Paulo ocupa o segundo lugar, com 109 dias de espera, e Rio de Janeiro fica em terceiro, com 75 dias. Em Recife, o período é mais curto, apenas 12 dias. Por isso, a cidade pernambucana não promoverá mutirão neste fim de semana.
Planos adiados
O atendimento lento complica a vida de quem planeja a viagem ao exterior com cuidado e empolgação e, na hora de tirar o visto, esbarra na burocracia. É o caso da advogada Caroline Fortunato, 34 anos, que, na última hora, mudou os planos de estudo por não ter conseguido agendar a entrevista a tempo na embaixada norte-americana.
;Eu ia embarcar em outubro. Faria um curso de 45 dias no Canadá e passaria 10 dias passeando pelos Estados Unidos. Mas só havia data disponível para novembro. Depois de aguardar muito uma vaga, tive medo de não dar e decidi passar esse tempo estudando em Londres;, conta.
Essa não é a primeira vez que a advogada solicita visto para entrar nos Estados Unidos. Em 1991, ainda menor de idade, obteve o aval ; já vencido ; para ingressar no país. ;Me lembro de que, naquela época, foi bem mais rápido;, comenta Caroline. Para ela, as exigências atuais são excessivas. ;Eles só atrapalham e desestimulam qualquer pessoa a viajar. Considerando a crise econômica dos EUA, acho pouco inteligente colocar toda essa dificuldade para turistas irem gastar lá;, opina.
Representantes do trade turístico do DF relatam que a derrocada do dólar ; atualmente, a moeda está no patamar de R$ 1,60 ; tem impulsionado cada vez mais a procura por pacotes turísticos para os EUA. Carlos Alberto Oliveira, proprietário de uma agência de turismo, conta que, de dezembro de 2010 até o momento, os destinos preferidos têm sido Miami, Orlando e Nova York. ;É a rota das compras;, diz. Segundo ele, este ano, a venda de pacotes para os Estados Unidos registrou crescimento aproximado de 80% frente ao ano passado.
De acordo com Yoshihiro Karashima, diretor de relacionamento da Associação Brasileira das Agências de Viagem no DF, as consequências da desvalorização do dólar têm sido uma faca de dois gumes para o segmento. ;Tanto o estrangeiro tem diminuído a vinda para cá, quanto o brasileiro tem aumentado a saída.;
O economista Carlos Alberto Reis chama a atenção para um outro fator de estímulo além da dinâmica monetária. ;As pessoas estão viajando porque têm mais dinheiro.(Colaborou Júlia Borba)
Mais trabalho para a PF
Além da Embaixada dos Estados Unidos, os postos de atendimento da Polícia Federal do Na Hora tiveram trabalho extra este ano para desafogar a demanda por passaportes. Por 40 dias, as equipes responsáveis pelas entrevistas e pela emissão do documento trabalharam até 0h. O horário normal de funcionamento do serviço é das 7h30 às 19h. O plantão noturno terminou na quarta-feira, mas, de acordo com Cláudio Onor Batista dos Santos, diretor de qualidade do Na Hora, ainda não há um balanço do número total de passaportes feitos no período.
De acordo com ele, agora que não haverá mais mutirão, outras alternativas estão sendo estudadas com a PF. A ideia é que os funcionários trabalhem mais tempo do que os servidores dos demais órgãos lotados no espaço, em razão da grande demanda.