Cidades

Desavenças internas e dissidências entre rodoviários protelam fim da greve

Adriana Bernardes, Antonio Temóteo
postado em 27/07/2011 07:32
Enquanto a população do Entorno sofre com as consequências da falta de ônibus, patrões e empregados trocam acusações e tornam imprevisível o fim do impasse. Para o sindicato dos rodoviários, a greve de motoristas e cobradores de Águas Lindas e de Santo Antônio do Descoberto tem interesses políticos. A entidade acusa a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Distrito Federal de apoiar financeiramente e juridicamente os ;dissidentes; da categoria, com a intenção de ampliar a base sindical na região vizinha à capital do país. Para os representantes das empresas, a paralisação é consequência da disputa entre dois sindicatos por território.

Em meio a esse cenário, as negociações estão paradas. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (Sittrinde), Reinan Ferreira Rocha, disse ao Correio que não vai intervir pelo fim da greve. ;Esse grupo não segue as nossas diretrizes, mas, sim, de uma entidade (CUT) sem legitimidade para representá-los;, afirmou o líder da categoria, referindo-se aos ;dissidentes;. Os rivais tentam desde 2007 criar o próprio sindicato.

Diante da existência de dois grupos de trabalhadores, o presidente da Associação das Empresas de Transporte Rodoviário do Entorno do Distrito Federal (Assetransp), Carlos Alberto Medeiros, alegou não saber com quem negociar. ;Temos um sindicato constituído e outro que não tem respaldo da Justiça nem sequer apresentou uma proposta por escrito, mas deflagrou a greve. Enquanto não voltarem ao trabalho, não negociamos;, decretou.

A CUT, acusada pelo Sittrinde de insuflar os grevistas, não só admitiu o apoio aos trabalhadores de Águas Lindas e de Santo Antônio do Descoberto como se identificou como porta-voz do grupo. ;Quem fala por eles somos nós ou o advogado.

Recebemos um pedido de ajuda dos rodoviários e estamos aqui para intermediar as negociações;, explicou o presidente da entidade, José Eudes Oliveira Costa. Foi ele quem confirmou ao Correio que os rodoviários de Valparaíso deixariam de rodar a partir das 4h de hoje.

A greve no Entorno teve início na segunda-feira, com a paralisação de 100% da frota que atende a população de Águas Lindas (GO). Os trabalhadores não avisaram as empresas com 72 horas de antecedência nem mantiveram 30% dos ônibus circulando, como preconiza a legislação. Ontem, a categoria que atua em Santo Antônio do Descoberto seguiu os passos dos colegas de Águas Lindas. Entre as reivindicações está a equiparação salarial com os profissionais do DF (veja quadro).

O presidente do Sittrinde defende que a equiparação com o DF é ;um sonho;. ;São realidades diferentes. Não é apenas chegar e pedir 20% de aumento. Será que a população está preparada para pagar 20% de aumento nas passagens?;, questiona Reinan Rocha.

O presidente da CUT propôs que se discuta ;índice menor que 20% e maior que os 6,29% proposto pelos patrões. ;O problema é que o sindicato perdeu o apoio de sua base e foi atropelado pela greve. Ficam falando que a greve é política para derrotar os rodoviários mas isso não ocorrerá. Queremos o diálogo;, argumentou.

Punição
Procurada pelo Correio, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tem a competência de fiscalizar o transporte interestadual no Entorno do DF, informou, por meio de nota, que uma equipe de fiscais verificaria se a exigência mínima de ônibus rodando estava sendo cumprida. Em caso de descumprimento das normas, as empresas serão multadas em R$ 3.684,90.

A operação começou à noite e, até o fechamento da edição, a ANTT não divulgou um balanço. O contato com a agência foi por e-mail e continha 10 perguntas sobre o serviço prestado. O órgão respondeu a duas questões: a licitação para linhas de ônibus ocorrerá até o fim do ano; e não há limite de idade para um ônibus circular.

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