Adriana Bernardes
postado em 28/07/2011 08:00
Um a cada três acidentes fatais no Distrito Federal envolve motos. No último ano, a quantidade de pessoas que perderam a vida bateu o recorde da última década. Ao todo, 158 pessoas morreram em 151 acidentes com motocicletas ; resultado de uma combinação desastrosa de crescimento descontrolado da frota e irresponsabilidade do condutor, que pilota sem carteira e alcoolizado. Pelo menos 70,6% dos motociclistas que morreram no local do acidente tinham bebido e 17,8% das vítimas não eram habilitadas. É o que revela o Informativo de Acidentes Envolvendo Moto, divulgado pelo Departamento de Trânsito (Detran).
Levantamento preliminar deste ano revela que, de janeiro a junho, 44 motociclistas morreram. No mesmo período do ano passado, foram 56. A redução de 21,4% nas ocorrências não diminui a preocupação das autoridades de trânsito. ;É um absurdo pensar que isso vem acontecendo. É o desprezo total pela vida. O alto número de motociclistas sem habilitação também é incompreensível;, afirma o diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra. Do total de não habilitados na categoria A, 12,7% nem sequer tinham Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e 5,1% eram habilitados em outras categorias.
O aumento do número de vítimas é atribuído ainda ao crescimento da frota de motocicletas. Em 2010, elas somavam quase de 136 mil, representando 11% da frota de veículos do DF. O sociólogo e consultor em segurança no trânsito Eduardo Biavati explica que para compreender o fenômeno é preciso, primeiro, lançar o olhar para o perfil das vítimas e para os horários dos acontecimentos. ;Em Brasília, é comum que as pessoas pensem que os principais envolvidos são os profissionais que trabalham com esses veículos, pois há o estigma de que são um bando de loucos;, diz o estudioso. ;Mas, se você observar o dia a dia, vai perceber que esses rapazes e moças sãotrabalhadores comuns.;
Radiografia
Mas no DF o levantamento do Detran mostra que 88% das pessoas mortas em acidentes de trânsito com motos eram homens, das quais 29% estavam na faixa entre 20 e 29 anos, e que as motos, de baixa cilindrada, eram geralmente usadas como ferramenta de trabalho, segundo o diretor do Detran. Para Eduardo Biavati, há uma série de falhas passíveis de correção, a começar pela formação deficiente dos condutores. Segundo ele, a situação é agravada pela precariedade da fiscalização. Ele defende campanhas direcionadas aos motociclistas, em especial à noite. ;Se isso não ocorrer, a tendência é piorar cada vez mais e o número de mortes de motociclistas poderá ultrapassar o de pedestres;.
José Bezerra assegura que a fiscalização é rígida e argumenta: ;O número de multas e motos apreendidas é crescente. Oferecemos curso de direção defensiva gratuito para motociclista, porém, a procura é muito baixa;, lamenta. Para ele, a entrada em vigor da Resolução n; 350, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), poderá ser um instrumento para reduzir as mortes no trânsito da capital. Por meio dela, todo motociclista que faz frete ; cerca de 15 mil no DF ; ou transporta pessoas é obrigado a fazer um curso de 30 horas com conteúdo teórico e aulas práticas de pilotagem.
Potência
Três em cada quatro motos envolvidas em acidentes no DF, em 2010, tinham de 125 a 200 cilindradas e mais da metade foi fabricada a partir de 2008.