Cidades

Estimativa aponta 24 mil casos suspeitos de hepatite C no DF

postado em 29/07/2011 08:00
Uma doença muitas vezes identificada já em estágio avançado, a hepatite C é silenciosa, não apresenta sintomas. No entanto, além das dificuldades impostas pela doença, os pacientes do Distrito Federal enfrentam outros problemas. ;O acesso ao tratamento não é fácil;, admitiu a diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do DF, Sônia Geraldes, ontem, durante o lançamento do programa de Controle da Hepatite C, do Ministério da Saúde. Segundo ela, entre um primeiro diagnóstico de hepatite C ; que pode ser realizado em qualquer uma das 15 regionais de Saúde ou no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Rodoviária do Plano Piloto ;, a confirmação e o início do tratamento, o infectado pode esperar por quase um ano. ;Faz um exame, depois o confirmatório. Só então, o paciente vai se preparar para fazer uma biópsia hepática, que é um gargalo, nem todos os lugares fazem;, ressaltou a médica infectologista.

O maior entrave, de acordo com informações da chefe da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Devep), é a biópsia, obrigatória no tipo 1 da doença (são cinco tipos). ;Estamos tentando comprar um fibroscan, um aparelho não invasivo, que realiza a biópsia por ultrassom;, informa. Tanto a biópsia quanto os exames biológicos necessários para a detecção da doença são centralizados no Laboratório Central da Saúde Pública (Lacen), que, segundo a infectologista, fica sobrecarregado com a demanda. Somente no ano passado, foram diagnosticados no DF 143 casos de hepatite C, 140 de hepatite B e outros 102 de hepatite A.
[SAIBAMAIS]
;Tem a biópsia realizada com anestesia local, feita às cegas, que oferece o risco de sangramento e, por isso, o paciente precisa ficar em observação, então muitos médicos não se arriscam nisso, já que pode dar complicações. Por isso, hoje, as pessoas estão optando por fazer a biópsia guiada por ultrassom ou tomografia, que fica mais cara, é de difícil acesso;, afirma a médica. Os pacientes que conseguem transpor os entraves de diagnóstico na rede de saúde pública podem ter o tratamento subsidiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que disponibiliza a rede.

A estimativa da Secretaria de Saúde do DF é de que haja 24 mil pessoas com hepatite C, mas apenas mil delas já foram diagnosticadas e, dessas, somente 69 se encontram em tratamento. ;O deficit deve-se, também, ao silêncio da doença, que muitas vezes é identificada em um estágio avançado, como cirrose descompensada ou câncer de fígado, que não estima mais tratamento;, destacou Sônia Geraldes. Para a médica, a cultura de ir ao médico apenas quando há um sintoma é prejudicial e deve ser combatida. ;É preciso adquirir o hábito de averiguar a história pregressa, se (a pessoa) recebeu sangue antes de 1993, se já usou drogas injetáveis.;

O tipo A da doença, mais simples e comum, matou nove pessoas no DF no ano passado. A endemicidade é considerada pelo Ministério da Saúde intermediária e os casos têm apresentado queda devido à ampliação do acesso ao saneamento básico. A hepatite B levou 48 pessoas ao óbito, e a C, 126. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o importante é ampliar a oferta e mobilizar a população para as vacinas.

No Brasil
Em uma década, as hepatites virais mataram mais de 20 mil pessoas no país. De 2000 a 2010, foram registradas 20.771 mortes causadas diretamente pelos cinco tipos de hepatite (A,B,C,D e E). Mais de 70% delas foram provocadas pela hepatite tipo C, a mais agressiva, o equivalente a 14.873 mortes. Os dados constam do boletim sobre a doença do Ministério da Saúde, divulgado ontem, Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais.

Em 2000, foram constatadas 340 mortes por hepatite C, contra 1.932 em 2010 ; um acréscimo superior a 460%. Dos mais de 14 mil óbitos causados por esse tipo da doença nos últimos 10 anos, quase 60% ocorreram na Região Sudeste, o equivalente a 8.672. Os homens são a maioria das vítimas. A hepatite B aparece em segundo lugar, responsável por 4.978 mortes no período analisado.

Para diminuir a incidência da doença, o governo federal anunciou a intenção de implantar nos centros de saúde, a partir de agosto, testes rápidos, como os já realizados para diagnóstico de HIV. ;Vamos expandir isso para chegar a 513 CTAs no país;, destacou o ministro da Saúde.

Segundo o chefe da pasta, o primeiro passo é informar sobre a necessidade de diagnóstico precoce. A ampliação das vacinas é um dos focos do ministério, que mudou de 19 para 24 anos a faixa etária para a qual a prevenção é destinada. ;Isso, este ano. E, no ano que vem, vamos expandir a vacinação para a faixa dos 29 anos, porque nossa intenção é proteger cada vez mais;, assegurou Padilha.


Casos confirmados
Hepatite A
2009 - 293
2010 - 102

Hepatite B
2009 - 182
2010 - 140

Hepatite C
2009 - 142
2010 - 143

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