postado em 30/07/2011 10:40
A 45 km de Brasília existe um povoado desconhecido por muitos que moram na capital da República. Pertencente ao Recanto das Emas, o distrito de Água Quente é apenas mais um setor habitacional do Distrito Federal marcado pela carência. Com uma população de 20 mil habitantes, muitas famílias beiram à linha da miséria. Na tentativa de melhorar a condição de vida da comunidade, 40 alunos da Universidade de Brasília, que fazem parte do núcleo do projeto Rondon, desbravam cada pedaço da região.
Desde o início da semana, eles estão mais próximos da realidade dos moradores do lugarejo, que eles nem sequer sabiam que existia. ;Eu nunca tinha ouvido falar em Água Quente. É uma novidade para mim;, disse a estudante do 4; semestre de agronomia Heloysa Kaena, 19 anos. Em campo, alunos como ela colocam em prática o que aprendem na universidade. Eles propõem soluções para os problemas enfrentados pela comunidade.
Um dos primeiros locais visitados pelo grupo foi a Escola Classe Vila Buritis. A instituição tem nas mãos o futuro de 1.130 crianças que estão entre a 1; e 4; séries do ensino fundamental. O espaço foi usado para palestras e oficinas voltadas à meninada. Entre elas, uma de noções de higiene bucal dos alunos. A intenção é ensinar os primeiros passos a quem está começando a se preocupar com a saúde dos dentes.
A realidade é tão triste que grande parte dos meninos e meninas nunca foi a um dentista. É o caso de Renato Ruan Florença Mota, 10 anos. Já com todos os dentes definitivos, o aluno da 4; série ainda não tem noção da importância dos cuidados necessários à saude deles. ;Eu escovo os dentes apenas uma vez por dia. Mas agora eu sei que devo escovar mais vezes;, disse o garoto, que nunca foi a um dentista. Em Água Quente, não existe nenhum consultório dentário.
Renato Ruan faz parte de um grupo que não tem acesso aos serviços básicos de saúde, como a maioria da comunidade. A realidade local está longe do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de um especialista para cada mil moradores. No único posto médico de Água Quente, há apenas dois clínicos gerais que atendem a toda a população.
Contratações
Para amenizar a situação, a Secretaria de Saúde do DF contratou, por meio de concurso, 10 agentes de saúde que fazem o atendimento domiciliar nas 20 mil residências construídas em nove condomínios localizados no centro do povoado. ;Essa quantidade de profissionais não consegue suprir a demanda dos habitantes daqui;, afirmou Antônio Rodrigues Pereira, gerente do Núcleo Habitacional da Região Sul, do qual faz parte Água Quente.
Na última terça-feira, profissionais da área de saúde do distrito e parte dos estudantes e professores que estão à frente do projeto Rondon na UnB percorreram vários lares da comunidade. A ação pretendia apresentar os voluntários aos moradores de Água Quente para que todos mantivessem uma relação de confiança.
Uma das casas visitadas foi de Eliene Souza da Silva, 27 anos. Durante as cinco vezes em que ficou grávida, ela nunca fez o pré-natal. ;Desde que cheguei aqui, há seis anos, não fui ao médico e meus filhos também não. Levo eles ao posto de saúde para que tomem vacina;, explicou a baiana de Correntina.
Questões ambientais também são prioridade no projeto Rondon. Um grupo de alunos que cursa geofísica, engenharia ambiental e agronomia exploraram regiões do distrito onde há a necessidade de mais consciência ambiental. ;Fomos a seis chácaras. Próximo a uma delas, tinha um córrego que estava bem poluído com pneus e vários outros tipos de materiais, alem de erosão e assoreamento;, disse a aluna do 2; semestre de geofísica Mahyara Amanda Pereira Barros, 20 anos.
As ações na comunidade não terminaram ontem. A intenção do projeto, segundo o coordenador Antônio Carlos, é oferecer serviços aos moradores de Água Quente. No próximo semestre, a cada 15 dias, um grupo de estudantes da disciplina de construção de projetos sociais multidisciplinares da UnB vai visitar o local.
Quem foi Rondon
O projeto leva o nome do marechal Cândido Rondon. Ele nasceu em Mimoso, no Mato Grosso, e foi o primeiro indigenista brasileiro e patrono das comunicações. Viveu de 1865 a 1958 e foi um dos responsáveis pela expansão do telégrafo no Brasil e pela ratificação das fronteiras brasileiras. Em contato com os índios, o oficial defendeu a ideia ;Morrer se preciso for, matar nunca;, que demonstra o seu posicionamento em defesa dos índios.