Cidades

Terminais rodoviários do DF estão abandonados pelo poder público

O Correio visitou 16 das 29 rodoviárias do DF e constatou a situação precária. Sujeira, estruturas antigas e falta de ficalização são alguns dos problemas.

postado em 01/08/2011 10:00
O Correio visitou 16 das 29 rodoviárias do DF e constatou a situação precária. Sujeira, estruturas antigas e falta de ficalização são alguns dos problemas.Pichados, depredados, empoeirados, com armação enferrujada, sem iluminação pública, sem banheiro e até sem água para beber e lavar as mãos. Assim é a realidade da maioria dos terminais rodoviários do Distrito Federal por onde passam mais de 1 milhão de pessoas por dia. À mercê do descaso do poder público, algumas estruturas, como as de Samambaia Norte e Sul, são as mesmas há 20 anos. Para mostrar essa realidade, o
Correio percorreu 16 dos 29 terminais existentes e constatou que pelo menos sete deles precisam ser reconstruídos e outros cinco apresentam problemas, como infiltração e falta de estacionamento e cobertura.

Em Samambaia Norte e Sul, a situação beira o caos. A rodoviária está abandonada há três meses, desde que houve o corte de água por falta de pagamento do valor de mais de R$ 25 mil (veja quadro). A empresa Viplan construiu o local, mas jogou a responsabilidade pela dívida com a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) para o GDF. A Secretaria de Transportes afirma que assumirá as contas do terminal a partir do próximo mês, mas adiantou que não vai pagar dívidas antigas de particulares. Enquanto a água não chega, motoristas, cobradores e fiscais migram para a garagem da empresa, dois quilômetros distante do terminal Norte.

Moradores e donos de quiosques contam que, após a saída dos rodoviários, o local já foi palco de assaltos. "Aqui fica um deserto e faz tempo que não vejo uma viatura da polícia passar. Os bandidos aproveitaram e levaram dinheiro, celular e relógio de um fisca", recorda a vendedora Dhully Zaira Ribeiro, 25. Sem água, os banheiros dos terminais de Samambaia Norte e Sul ficam constantemente sujos. O mal cheiro é quase insuportável. "É um absurdo. Pagar as dívidas é o mínimo", reclama a moradora Alessandra Campos da Costa, 28.

Banheiro unissex
O estado de conservação dos terminais do DF assusta, mas não poder usufruir um banheiro limpo, com papel higiênico e sabonete, causa revolta em qualquer pessoa. Agora imagine se ele não tiver porta e for usado por homens e mulheres. "Ué, moço! É banheiro de mulher não?", assustou-se a produtora rural Maria das Graças dos Santos, 46. Ela deu um grito e pulou para trás quando foi advertida de que havia três homens usando o banheiro feminino da Rodoviária de Brazlândia.

Maria não chegou a presenciar uma cena desagradável graças a um funcionário da limpeza que estava na porta. "A gente tenta controlar a entrada de homens e mulheres separadamente, mas já aconteceu de descuidarmos um pouco e a mulher ficar constrangida depois de entrar porque o banheiro nem porta tem", conta o auxiliar de serviços gerais, Paulo César Santos, 41.

O Terminal Rodoviário de Brazlândia também não tem fiscalização. Quiosques têm surgido da noite para o dia. Só na última quarta-feira, a reportagem flagrou a chegada de um vendedor de açaí, em seu primeiro dia de trabalho no local. Sem pontos de energia suficiente para todos os comerciantes, vale até gambiarra.

Sujos e empoeirados
Construído há mais de três décadas, a Rodoviária de Taguatinga, na altura da QNL 9, é o reflexo do abandono. Moradores de rua, usuários de droga e transporte pirata tomam conta da área, que recebe ônibus locais e interestaduais. Dos terminais visitados pela reportagem, ele é o mais sujo. As baias onde ficam os ônibus estão completamente destruídas. O asfalto afundou e o piso apresenta pequenos buracos, o que pode gerar acidentes. No banheiro masculino, quatro de seis espaços estão quebrados e foram interditados. "Morei aqui em Taguatinga há 20 anos, mas me mudei para o Piauí. Voltei para visitar os filhos e fiquei desapontado. Pensei que já tivessem construído um terminal mais moderno", reclama o aposentado Bernardino Nunes da Silva, 64. O assessor do gabinete da Secretaria de Transporte, Luiz Messina, afirma que está em fase de estudo o projeto de construção de um novo terminal em uma área estratégica de Taguatinga.

Em Santa Maria Norte e Sul, Recanto das Emas e Asa Norte, os ônibus ficam estacionados em meio a um grande descampado de terra. "É poeira demais quando dá ventania, e muita lama quando chove", afirma o motorista Antônio Pereira, 44. No Recanto das Emas, além de não ter papel higiênico e sabonete disponíveis no banheiro, o mau cheiro incomoda muito. Os vasos não têm assentos e tampas. Eles ficam rentes ao piso, como os existentes no Complexo Penitenciário da Papuda.
Acessibilidade zero

Os terminais do Plano Piloto não estão livres do descaso do poder público. Tombada como patrimônio histórico e artístico, a Rodoviária de Brasília "por onde passam mais de 700 mil pessoas diariamente "está longe de ser modelo no país. A estrutura apresenta infiltrações e a plataforma superior já registrou queda de marquise durante o período de chuvas. Escadas rolantes e elevadores também dão dor de cabeça aos usuários. A maioria das escadas rolantes de acesso às plataformas está quebrada e todos os ascensores não funcionam. Quem é idoso ou portador de necessidades especiais tem dificuldade para se locomover. O entregador Severino Ramos, 61, teve de fazer malabarismo para se equilibrar nas escadas e segurar a carga de frango congelado no carrinho que empurrava."O sofrimento é esse que você está vendo. É todo dia assim".

Quem é cadeirante também não tem opção. Com isso, o jeito é contar com a ajuda e boa vontade das pessoas. "No começo do ano, havia dois fiscais ajudando os deficientes físicos a subirem, mas agora acabou. Acabei de almoçar pamonha porque aqui embaixo não tem restaurante e fica chato parar as pessoas e pedir para elas me ajudarem a subir as escadas", conta o vendedor de balinhas José Alves Lima do Prado, 54 anos.

A Secretaria de Estado de Transporte anunciou a construção de 11 terminais rodoviários no DF e a reforma de outros nove após a conclusão do processo de licitação, que deve ocorrer em meados setembro. O investimento total será em torno de R$ 40 milhões.

Entre os terminais que ganharão reforma, tanto em suas estruturas quanto na ampliação, expansão e adequação das coberturas, estão o do P Sul, do Núcleo Bandeirante, da M Norte, do Paranoá, de Taguatinga Sul, de Planaltina, do Cruzeiro e do Guará I e II. Serão substituídos os pisos e as partes hidráulica e elétrica. Os espaços também terão novo paisagismo.

Setor Leste do Gama, Setor O, QNL de Ceilândia, Sobradinho II, Riacho Fundo II, Samambaia Norte e Sul ganharão novos espaços para ônibus e passageiros. O Recanto das Emas terá duas novas rodoviárias e Santa Maria será contemplada com outras duas.

A licitação das obras já está em andamento. "Após a assinatura dos contratos, os terminais devem ficar prontos dentro de 12 meses", diz. A previsão é de terminar tudo antes da Copa de 2014. "Vamos modernizar o sistema geral de mobilidade urbana. Com os eventos mundiais nos próximos anos (Copa e Olimpíadas de 2016), temos de dar exemplo internacional. O legado não é para a Copa, mas para a população do DF, porque são obras essenciais", destaca Messina.

Cadeirante José Alves Lima do Prado no Terminal do Plano Piloto Terminal Rodoviário do Setor P. Norte.

Rodoviária Interestadual de Brasília
Localizada na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), a Rodoviária Interestadual foi inaugurada em 2010. A falta de vagas no estacionamento é problema recorrente entre os usuários e até mesmo entre os taxistas. A entrada no local também é motivo de dor de cabeça. Existe apenas um retorno, na altura do viaduto que leva ao Guará. O motorista que perde a entrada precisa dirigir mais dois quilômetros para voltar à pista que dá acesso ao terminal.

Terminal Rodoviário do Plano Piloto

Tombado como patrimônio histórico, um dos cartões-postais da cidade ainda está longe de ser orgulho dos brasilienses. O local costuma abrigar muitos moradores de rua e usuários de droga. Dois banheiros, quatro escadas rolantes e os seis elevadores existentes estão interditados. Os letreiros digitais que deveriam informar os horários dos ônibus também nunca funcionam. Há muita infiltração e as canaletas do estacionamento estão quebradas. Muitos carros acabam caindo neles ao tentar estacionar.

Asa Norte
Localizada no Setor de Áreas Isoladas Norte, próximo à 2; DP, a área não é pavimentada e não há cobertura para os ônibus. Motoristas e cobradores vivem sem condições de trabalho. Apenas um quiosque improvisado instalado em meio à terra batida serve de abrigo para os rodoviários. Existe um projeto para a construção de um terminal no local, mas ele ainda está em fase de estudo.

Brazlândia I
Está localizado no Setor Veredas. Construído há pouco mais de um ano, o terminal não apresenta problemas estruturais. O único problema é a pouca movimentação de pessoas, que, durante à noite, torna o local perigoso. Também não há quiosques instalados no terminal.

Brazlândia II

Quiosques não param de surgir. Só no último mês, apareceram dois novos em meio a outros muitos já instalados. A reportagem do Correio flagrou o momento da chegada de um deles. Sem ponto de energia, eles fazem até gambiarra. Não há fiscalização para frear a irregularidade. O banheiro é o mesmo para atender homens e mulheres. Não há portas, nem papel higiênico. Um funcionário da limpeza tenta controlar a entrada das pessoas, mas há casos de homens e mulheres terem entrado ao mesmo tempo, gerando revolta nos usuários.

Cruzeiro
Usuários reclamam do desperdício de água do bebedouro e do estado de conservação do terminal. No banheiro dos homens, por exemplo, não há mictórios. A torneira não funciona e um vaso sanitário está interditado. As vidraças também estão quebradas. Na parte externa, não há problemas graves. O terminal é um dos poucos que contam com lixeira ecológica.

Gama
É um dos terminais com maior fluxo de pessoas, mas não há sérios problemas de infraestrutura. Os banheiros são limpos, mas não há papel higiênico e nem sabonete líquido para lavar as mãos. A quantidade de bancos é insuficiente e muitos passageiros esperam o ônibus em pé. Também é grande o número de quiosques no local. É um dos poucos que tem agência lotérica instalada.

Núcleo Bandeirante
É um terminal pequeno, mas com alguns problemas comuns a vários outros terminais do DF. As baixas onde ficam os ônibus estão esburacadas e acumulam água da rua e das chuvas. Há muito óleo e lixo. Os quiosques também começam a apresentar sinais de enferrujamento.

Santa Maria Sul
Localizada na altura da QR 402, o terminal de Santa Maria Sul se resume a um pedaço de chão e uma armação de concreto com uma sala e dois banheiros. É a mesma estrutura há 10 anos.
O terminal não tem lanchonete e lugar para os usuários esperarem o coletivo.

Setor O
O terminal é utilizado por cerca de 10 mil pessoas diariamente. O espaço é o único que tem televisão disponível para os usuários. As cadeiras "embora algumas estejam quebradas" são acolchoadas. Entre os banheiros visitados pela reportagem, o do Setor O é o mais limpo e bem conservado. As descargas e o papel higiênico são protegidos com grade e cadeado. Há ainda um banheiro exclusivo para pessoas com necessidades especiais.

Setor P Norte
O terminal consiste apenas em uma cobertura.
A estrutura metálica está enferrujada e algumas partes do telhado estão rachadas. Não há lanchonete e nem bancos para passageiros sentarem ou qualquer proteção eficaz contra sol e chuva.
Os banheiros precisam de reforma.

Taguatinga Norte

Moradores de rua, transporte pirata, sujeira e baias de ônibus afundadas. A situação do terminal
de Taguatinga é uma das piores. Localizada muito distante da cidade, a rodoviária não atende as necessidades dos usuários. São ônibus locais e interestaduais dividindo o mesmo espaço. Existe um projeto da Secretaria de Transportes para construir o terminal em outra área.

Samambaia Sul

Fica na altura da Quadra 127. Mas é apenas um ponto, com alguns poucos quiosques. A estrutura onde ficavam os fiscais que davam informações de horários dos ônibus já não está no local há três meses. Como a água foi cortada há três meses por falta de pagamento, os fiscais ficam agora na garagem, distante cerca de dois quilômetros.
O terminal é o mesmo há 20 anos e nunca foi reformado.

Samambaia Norte
Apresenta os mesmos problemas de Samambaia Sul. Além disso, a má iluminação oferece uma sensação de insegurança durante a noite para os moradores. Os banheiros são precários e a poeira incomoda.

Recanto das Emas
O terminal fica na Quadra 116. O local tem iluminação fraca, o que torna o espaço inseguro durante a noite. O estacionamento não é pavimentado e os ônibus, quando passam, levam poeira para dentro das casas. O banheiro também tem luz insuficiente e os vasos são rentes ao piso.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação