Antonio Temóteo
postado em 02/08/2011 10:00
O aumento no preço das passagens de ônibus do Entorno vai pesar ainda mais no bolso de patrões e empregados. Para ter ideia, o custo com o transporte coletivo dos que moram na região vizinha e trabalham no DF fica até 61% mais alto se comparado com o dos profissionais contratados no DF. O reajuste de 4,6% das tarifas vale desde domingo e afeta pelo menos 245 mil pessoas.
Tendo como referência a tarifa mais alta do Entorno%u2014 de R$ 4,85 %u2014, um empregador que paga duas passagens de ônibus para o trabalhador que mora nos municípios goianos que fazem fronteira com o DF vai desembolsar R$ 213,40 mensalmente. Isso representa quase 40% do salário mínimo (R$ 545). Se esse mesmo empresário, que tem seu empreendimento no Plano Piloto, escolher a mão de obra em uma cidade como Taguatinga, vai desembolsar R$ 132 por mês, ou 24% do mínimo.
De acordo com Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), até 20% dos trabalhadores da capital federal vêm do Entorno. Miragaya avalia que o item transporte pesa nos custos das empresas e mais ainda para o trabalhador. %u201CA mão de obra das cidades vizinhas tem menor qualificação e menor remuneração. Isso é um problema maior para quem não tem acesso ao vale-transporte%u201D, completa.
Mário de Almeida, 28 anos, mora em Águas Lindas (GO) e é vendedor de uma loja de sapatos em Taguatinga desde 2007. Ele acredita que, com o aumento das passagens, as empresas locais podem demitir. %u201CMuita gente já perdeu o emprego só pela greve%u201D, afirmou. Na semana passada, os rodoviários da região vizinha cruzaram os braços. Para Marcos Biazutti, 21 anos, morador de Santo Antônio do Descoberto, a preocupação maior virá no fim do mês. %u201CTrabalho em Taguatinga e estudo em Ceilândia. Não fiz as contas ainda, mas esse aumento (das tarifas) sobrecarregará minhas despesas%u201D, diz.
Francisco de Chagas, gerente da loja onde Mário e Marcos trabalham, destaca que o valor das tarifas do Entorno é um critério na hora da contratação. %u201CNós temos cinco funcionários que não moram no DF. Qualquer que seja o aumento, pesa na folha de pagamento. Nossa política de contratação já define que é melhor encontrar alguém que more mais perto, mas se tiver um trabalhador que se enquadre no perfil da vaga que oferecemos, a gente não exclui pelo endereço%u201D, garante.
A recepcionista Sara Souza, 30 anos, mora em Águas Lindas (GO) e trabalha no Plano Piloto. Ela acredita que pode perder o emprego porque a passagem para a cidade onde more é uma das mais caras %u2014 R$ 4,50. %u201CÉ uma situação complicada. Sei que sou a primeira da fila. Quem mora no Entorno vai sofrer com isso%u201D, lamenta.
Preocupação
Para o pagamento do vale-transporte, os empregadores descontam 6% do salário do funcionário. Por esse motivo, o presidente da Associação Comercial de Taguatinga, Justo Magalhães, acredita que as empresas de médio e pequeno porte serão as mais atingidas pelo aumento. %u201CA não ser o empregado com mais tempo de casa, os outros têm razão de se preocupar. Vai influenciar bastante na conta final do mês. O empregador vai procurar um trabalhador que mora mais perto%u201D, pondera. Justo estima que mais de 15% da mão de obra no comércio e indústria da cidade são de trabalhadores do Entorno, principalmente Águas Lindas e São Antônio do Descoberto.