Cidades

Laudo de batida de carro que matou irmãos demora 7 meses para ficar pronto

postado em 02/08/2011 08:00
Marcos e Vyviane Campos Moraes, no quarto das crianças:
Foi preciso um casal em luto pela morte de seus dois filhos arregaçar a dor lancinante pela perda das crianças para fazer mover a investigação capaz de esclarecer as causas do desastre, apontar culpados e determinar punição para a tragédia de carro que massacrou os sonhos da família de Vyviane e Marcos Campos Moraes. Um laudo considerado fundamental para o desfecho das apurações sobre o acidente de trânsito que matou os irmãos Pedro Lucas, 3 anos, e João Marcos, 7, e deixou seus pais gravemente feridos finalmente ficará pronto hoje, sete meses e meio depois do acidente. O caso, contado em reportagem do Correio no último domingo, provocou a reação indignada de pessoas que se colocaram no lugar do bancário Marcos, 42 anos, e da professora Vyviane, 35. Desde 17 de dezembro, eles buscam razões para continuar a viver. A maior delas é fazer justiça em homenagem a seus meninos.

O documento que tem previsão de ser anexado ao inquérito sobre a morte das crianças é a perícia do Instituto de Criminalística de Goiás. O laudo, pendente há sete meses, apontará detalhes sobre as circunstâncias da tragédia ocorrida no fim do ano passado. A ocorrência da Polícia Rodoviária Federal narra que uma Saveiro trafegava pela BR-060 no Km 179,9 ;em local de proibida a ultrapassagem, faixa contínua, não respeitando um fluxo forte de veículos;, quando acertou frontalmente o Idea de Marcos e Vyviane. Testemunhas ouvidas pela Polícia contaram que o condutor da Saveiro dirigia em ;altíssima velocidade; na hora do impacto.

Os depoimentos confirmam a versão do casal, que por volta das 19h30 daquele 17 de dezembro diz ter sido surpreendido na altura de Abadia de Goiás por um veículo na contramão, que ultrapassava uma carreta. Ao notar o perigo, Marcos não teve muito tempo. Deu luz alta duas vezes e jogou o carro para o acostamento. O motorista da Saveiro, o engenheiro ambiental Fabrício Camargos Cunha Rodovalho, 28 anos, teve a mesma reação. Os dois carros chocaram-se violentamente.

Marcos desfaleceu com a batida. Vyviane ficou acordada. Sem conseguir se mexer porque estava muito machucada, pôde ouvir os gritos do filho mais velho, que tentava se soltar do cinto de segurança. Não ouviu a voz do caçula: ;Eu sabia que Pedro estava morto;. Pediu a Deus com todas as forças para que o mais velho resistisse. João Marcos foi socorrido, teve os pulmões aspirados por um brigadista, chegou a ser internado. Mas morreu dois dias depois na mesma UTI onde os pais estavam internados. Marcos e Vyviane não tiveram a chance de velar os filhos, pois corriam o risco de morrer. Vyviane pediu para os meninos serem enterrados com as roupas novas que usariam na formatura da irmã dela, em Santa Fé do Sul (GO), da qual eles deveriam ter participado se não tivessem cruzado com a Saveiro. ;Fomos internados em choque e nunca mais vi meus filhos. É a dor maior do mundo;, desabafa a mãe.

Peregrinação
Marcos e Vyviane levaram meses até reunir o mínimo de estrutura física e emocional para buscar os motivos do desastre que lhes roubou o sentido da vida. Em 1; de junho, o casal foi procurar informações sobre o andamento do inquérito e descobriu que não havia investigação em curso. O casal iniciou uma peregrinação por delegacias de Goiás até descobrir que a apuração era de responsabilidade da polícia de Guapó, município onde fica o distrito de Abadia de Goiás. Mas também lá não havia nenhum registro. Os dois acionaram o Ministério Público de Goiás e o promotor de Justiça Marcelo Franco Assis Costa cobrou providências. Ele enviou ofício em 12 de junho para a delegacia de Guapó e, dois dias depois, o processo finalmente foi aberto.

Desde então, oito testemunhas foram ouvidas, e documentos como a ocorrência da Polícia Rodoviária Federal apontando imprudência e desrespeito às leis de trânsito foram anexados ao inquérito. Mas ainda falta a perícia do Instituto de Criminalística da Polícia Técnico Científica de Goiânia. Com base nas marcas de pneus que ficaram na pista e no velocímetro dos carros acidentados, o laudo deve apontar, por exemplo, a velocidade dos veículos. O exame foi feito no dia do acidente, mas sete meses depois ainda não foi entregue. ;Temos uma estrutura precária. Há uma sobrecarga de serviço. Temos mil laudos pendentes de croqui, mas demos prioridade a esse caso, até porque houve um pedido do Ministério Público;, disse o coordenador da Divisão de Perícias Externas do Instituto de Criminatística de Goiás, Jair Alves da Silva. Ele afirmou ao Correio que hoje o documento em fase de revisão estará pronto para ser entregue à Polícia e ao Ministério Público.

O promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás, Marcelo Franco Assis Costa, disse que apresentará a denúncia contra Fabrício Rodovalho imediatamente depois de receber o inquérito da Polícia Civil. O delegado responsável pelas investigações, Davi Freire Rezende, entrou em férias ontem. Mas o delegado substituto Anderson Araújo Pelagio garantiu que a investigação será concluída em breve. ;Se for necessário, eu mesmo relatarei o caso. Mas ele será concluído, imagino, ainda nesta semana;, afirmou o delegado. Por meio de seu advogado, Fabrício disse que não vai dar entrevistas.

João (E) e Pedro estavam a caminho de uma festa em família quando ocorreu o acidente: vidas interrompidas

Prazo encurtado
O promotor de Justiça tem, legalmente, 10 dias para oferecer a denúncia depois de receber o inquérito. Mas o representante do Ministério Público nesse caso vai encurtar o prazo e pode oferecer a denúncia ainda esta semana. Ele deve acusar o motorista da Saveiro de crime com dolo eventual ; quando a pessoa, mesmo não tendo intenção de matar, assume o risco.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação