Cidades

Advogado do Calaf diz que agressões partiram de nutricionista

postado em 03/08/2011 08:00
Dor e incômodos: o nutricionista Bruno Marcelino enfrenta dificuldades para se alimentar
Treze pessoas prestaram depoimento no caso do espancamento do nutricionista Bruno Marcelino, 26 anos, ocorrido na noite do último domingo, em frente ao Bar do Calaf. Até a noite de ontem, sete testemunhas, cinco seguranças e o gerente do estabelecimento foram ouvidos. A Polícia Civil espera pelo relato da vítima e do dono do bar para indiciar os responsáveis pela agressão. O crime pelo qual cada um vai responder não está definido. O advogado do estabelecimento alegou ao Correio que as agressões partiram da vítima. Nos próximos dias, a família do rapaz deve entrar na Justiça para requerer uma indenização pelos danos sofridos pelo jovem.

Dos cinco vigilantes ouvidos, apenas um se apresentou na tarde da última segunda-feira. Outros quatro prestaram depoimento às 17h de ontem, depois de intimados pelos agentes da 5; Delegacia de Polícia, no Setor Bancário Norte. O delegado adjunto, Edson Medina, informou que, para evitar informações fragmentadas, só fornecerá detalhes do indiciamento após analisar todos os depoimentos.

Por estar debilitado, Bruno ainda não prestou depoimento, o que deve ocorrer hoje. Segundo Medina, ainda não é possível quantificar os indiciados. ;Só após todos os depoimentos saberemos quantas pessoas e qual a participação de cada uma delas nas agressões;, explicou. Os acusados podem responder por lesão corporal ou até mesmo por tentativa de homicídio.

A família do jovem agredido acompanha de perto o trabalho dos policiais civis. ;Dois advogados estão direto na delegacia. Vamos apurar os fatos para tomar as medidas cabíveis e entrar na Justiça para os danos morais e materiais;, afirmou Raphael Marcelino, 27 anos, um dos irmãos da vítima. ;Nosso intuito é provar que o Bar do Calaf não cumpre as medidas de segurança dos consumidores;, acrescentou.

Autuação
O advogado do Calaf, Eiji Yamasaki, disse que as agressões teriam começado com a saída de Bruno Marcelino sem o comprovante de pagamento. ;Ele pulou a cerca sem pagar a conta. O segurança foi atrás e agiu na contenção. A agressão partiu dele (da vítima), e o segurança que foi atrás revidou.;

Além de prestarem depoimento, os seguranças têm até hoje para apresentar na Polícia Federal os documentos que comprovem a autorização para exercer a função. O delegado federal Flávio Maltez Coca contou que, até a tarde de ontem, não havia sido comunicado formalmente sobre o espancamento no Calaf.

A não apresentação de uma justificativa por parte do dono do estabelecimento e dos seguranças pode acarretar em multa de até R$ 5.320 para a empresa e também no recolhimento da carteira dos vigilantes, como determina a Portaria n; 387/2006.

O proprietário do bar, Venceslau Calaf, informou que o comunicado foi feito à Polícia Federal. Maltez contou que há dois anos o Calaf foi autuado por segurança clandestina. Em 2011, porém, o estabelecimento recebeu autorização para fazer a própria vigilância. ;Não significa dizer que eles estão certos. O que aconteceu é um absurdo e uma demonstração de despreparo;, criticou o delegado.

No ano passado, 33 vigias acabaram presos por exercer ilegalmente a profissãono DF. Eles responderam por contravenção, crime de menor potencial ofensivo, que, na maioria das vezes, tem pena de prestação de serviço à comunidade.

Série de exames
Passados três dias das agressões, as marcas da violência ainda são visíveis no corpo de Bruno Marcelino, 26 anos. Na noite que sucedeu as agressões, o nutricionista quase não dormiu. Os parentes também ficaram acordados. Na tarde da última segunda-feira, menos de 24h após o espancamento, o rapaz foi levado para dois hospitais particulares ; ele havia passado por uma bateria de exames no Hospital de Base do Distrito Federal no último domingo, após o espancamento.

O irmão de Bruno, Gustavo Marcelino, 33 anos, está apreensivo com a evolução do quadro de saúde da vítima. ;Os médicos fizeram novos exames, principalmente nos olhos, que ainda estão muito machucados. Avisaram que, pela dimensão das agressões, essas marcas ainda devem demorar para sair;, contou.

As dores e o sentimento de impotência incomodam Bruno, os pais e os dois irmãos dele, que se revezam para estar ao lado do jovem. Por recomendação médica, ele precisa ser acordado durante a madrugada, de três em três horas. ;Precisamos fazer perguntas básicas para ele, como qual o nome e a idade;, explica Gustavo. O nutricionista só ingere líquidos e toma quatro tipos de antibióticos e anti-inflamatórios.

Vigias despreparados
A maioria das casas noturnas do Distrito Federal não contrata profissionais capacitados para exercer a função de vigilante. Atualmente, existem 106.430 profissionais da área com curso de formação, sendo que 18 mil, ou 16%, cuidam da segurança patrimonial. Mas, para cada trabalhador regularizado, existem de seis a oito atuando clandestinamente. Os dados são do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Sistemas de Segurança Eletrônica, Cursos de Formação e Transporte de Valores no DF (Sindesp).

O alerta vale para evitar atos de violência como os ocorridos recentemente. Só no último fim de semana, seis pessoas foram agredidas por seguranças, um no bar Calaf, no Setor Bancário Sul, e outras cinco em Formosa (GO). Na cidade goiana, a violência ocorreu na feira agropecuária. Pelo menos 10 homens, entre seguranças e porteiros da empresa Prudência, são suspeitos de molhar e dar choques nas vítimas, após elas tentarem pular o muro para assistir a um show do músico Amado Batista.

Para o presidente do Sindesp, Irenaldo Lima, a falta de seguranças qualificados para trabalhar em eventos tornou-se um problema cada vez mais grave em razão da falta de compromisso de algumas empresas em prestar um bom serviço ao público. ;Alguns empresários acham que é muito mais barato contratar uma pessoa para fazer bico no lugar de uma empresa especializada nisso;, destacou.

O mestre de obras Carlosmar Gomes da Silva, 54 anos, sabe bem quais os resultados de uma economia dessa natureza. No último dia 4, ele perdeu o filho Carlosmar Júnior, 19. O rapaz trabalhava como segurança em um evento num salão de festas da QN 403 de Samambaia Norte.

As informações de testemunhas são de que uma moça começou a dar em cima do jovem e, após ele mostrar a aliança, ela teria se sentido ofendida e pediu para um amigo de 15 anos tirar satisfação com Carlosmar.

Arma de fogo
O adolescente, entretanto, não teria sido vistoriado pelos seguranças e acabou entrando com uma arma de fogo na casa de show. O jovem tinha passagem por furto e roubo. Ele deu um tiro na nuca de Júnior. ;Meu filho estava trabalhando como segurança porque foi convidado por um amigo, mas não tinha nenhum treinamento. Não era para ele estar ali;, revoltou-se o mestre de obras, que já perdeu outro filho assassinado em 2006. O adolescente foi apreendido na mesma semana pela Polícia Civil.

Para o chefe da 10; DP (Lago Sul), Adval Cardoso, as cidades mais afastadas do Plano Piloto concentram o maior número de seguranças e vigilantes sem formação. Segundo Edson Medina, chefe adjunto da 5; DP (Setor Bancário Norte), um segurança pode resolver um conflito sem usar a violência. ;Ele pode imobilizar a pessoa e colocar para fora do estabelecimento, mas o segurança está ali para garantir a ordem e não promover a violência;, acrescentou.

Colaborou Antônio Temóteo

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