Cidades

Nomeação de novo secretário de Obras agrada PT, mas arranha acordo com PMDB

Ana Maria Campos
postado em 03/08/2011 08:00

Anunciado ontem pelo governador Agnelo Queiroz como o novo secretário de Obras, o engenheiro civil Oto Silvério Guimarães representa um revés no acordo fechado ainda durante a campanha eleitoral pelo qual o PMDB mandaria em todo o setor de infraestrutura. A escolha, no entanto, não significa um rompimento entre Agnelo e o vice-governador Tadeu Filippelli. Presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) no governo de Cristovam Buarque, Guimarães é um técnico com traquejo político e bom trânsito em todos os setores da construção civil.

Com a decisão, o governador atende à reivindicação de petistas graduados de Brasília que queriam bloquear parte do poder do PMDB na área de obras, mas também não desafia Filippelli, ao indicar um engenheiro capaz de manter o diálogo, com perfil diplomático e com quem dificilmente peemedebistas baterão de frente. Oto não é petista. Ele é apontado por integrantes do governo Cristovam (1995-1998) como um bom interlocutor com o empresariado. O novo secretário de Obras trabalhou na iniciativa privada e exerceu, por exemplo, o cargo de diretor da Caenge, sócia majoritária da Valor Ambiental, empresa que hoje presta serviço de coleta de lixo ao Governo do Distrito Federal.

Oto Guimarães é uma escolha pessoal do governador Agnelo. Na semana passada, chegou a ser aventada a nomeação do atual diretor de Prospeção e Formatação de Novos Empreendimentos da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), José Humberto Matias de Paula, para a pasta. Ele é irmão de Hermes Ricardo de Paula, secretário de Obras do governo Cristovam (1995-1998), e integrava o mesmo grupo que comandou a área de infraestrutura no governo petista, do qual Oto Guimarães fez parte, além do atual presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB), Rubem Fonseca.

Formado pela Universidade de Uberaba (MG), Guimarães tem 54 anos. É funcionário de carreira da Companhia de Saneamento do DF (Caesb) desde 1985 e foi diretor do Departamento de Programação e Controle de Obras (DPCO) da Secretaria de Obras, entre 1995 e 1996. Deixou o cargo para presidir a Novacap de 1997 a 1998. Guimarães nunca teve filiação partidária, mas sempre manteve boa relação com políticos de várias legendas, principalmente os ligados à área de infraestrutura.

Agnelo afirmou ter analisado mais de 30 candidatos e escolhido Oto Guimarães por ser um nome que teria mais aceitação nos partidos da base de apoio. ;Um técnico muito qualificado e experiente, do ramo, e com passagens pela área privada, que tem toda competência e nossa confiança para tocar uma área tão importante e estratégica do nosso governo;, descreveu Agnelo ontem, ao anunciar o novo secretário durante entrevista sobre o Plano Plurianual (2012-2015) enviado à Câmara Legislativa na noite de segunda-feira (Leia mais na página 26).

Substituto
Oto Silvério Guimarães vai suceder Luiz Pitiman, que já assumiu o mandato de deputado federal. Ele deixou o cargo depois de um embate com a própria base do governo Agnelo na Câmara Legislativa, ao mobilizar parlamentares para derrubar o projeto de lei que deu superpoderes à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Para Pitiman, a proposta esvazia a Secretaria de Obras, ao permitir que a Terracap comande a construção do Estádio Nacional de Brasília, principal projeto do atual governo.

Ao tomar posse, Pitiman desabrigou Ricardo Quirino (PRB), representante da Igreja Universal do Reino de Deus, suplente do PMDB. Ele deverá assumir um cargo na administração de Agnelo, que, agora, vai se dedicar a outros arranjos em seu governo. A prioridade era resolver a pendência na Secretaria de Obras. A meta, no momento, é discutir mudanças em outras pastas. Um dos pontos a ser decidido é o ingresso do deputado distrital Cristiano Araújo (PTB) no primeiro escalão do Executivo.

O petebista já esteve cotado para diversas pastas: Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Juventude, Micro e Pequenas Empresas e Meio Ambiente. Mas qualquer movimento esbarra em desgaste com outros partidos, como o PT, PDT e PDT. Por isso, Agnelo tem demorado a tomar uma decisão. É certo, no entanto, que ele deve, como estratégia para melhorar a relação com a Câmara Legislativa, aumentar o espaço de distritais na sua administração.

A intenção de Agnelo é atender o PTB. Essa é uma reivindicação nacional, uma vez que o partido é aliado da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Com a saída de Cristiano, assume a vaga o suplente Dr. Charles (PTB), deputado distrital titular na última legislatura.

Colaborou Ricardo Taffner

No programa do partido, o vice-governador Tadeu Filippelli afirmou que

Recado na TV
O programa partidário do PMDB que foi ao ar na noite de segunda-feira expõe uma mudança nas relações entre a legenda e o PT. Na última inserção de 30 segundos, veiculada há dois meses, o vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) apareceu de capacete de obras, exibindo realizações da administração de Agnelo Queiroz. Nesta semana, Filippelli surge na televisão com um tom sóbrio em que se dirige diretamente aos aliados de campanha. ;O PMDB não fugiu a suas responsabilidades, não criou obstáculos para o governo, não rompeu compromissos, não fraquejou;, afirmou.

Filippelli e Agnelo têm um acordo pré-eleitoral pelo qual dividiram espaços no governo. O peemedebista ficou responsável pela área de infraestrutura e indicou pessoas de sua confiança para a Secretaria de Obras, Presidência da Companhia de Saneamento de Brasília (Caesb), a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), o DFTrans, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), sem contar sugestões para administrações regionais e cargos de segundo escalão. Coube a Agnelo, principalmente, pastas que interagem diretamente com o gabinete do governador e as secretarias de Saúde, Segurança e Educação, além dos principais cargos do Palácio do Buriti.

Reservado
Na avaliação de petistas, o compromisso foi cumprido, mas isso não significa um acordo eterno. Seis meses depois da posse, a movimentação para abocanhar parte do poderio do PMDB está em curso. Filippelli tem se mantido reservado. Evita entrevistas e não expõe publicamente divergências internas. Ele, no entanto, tem buscado apoio político com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), avalista do acordo no Distrito Federal.

No programa do PMDB da última segunda-feira, o vice-governador disse que seu partido tem feito a sua parte. ;Para construir uma nova história é preciso ter disciplina, determinação e respeito e o PMDB do DF até aqui fez a sua parte. Teve disciplina ao participar do governo, determinação ao corrigir os erros do passado e respeito com o povo e nossos aliados.; E ainda deu uma alfinetada ao se utilizar da própria marca da campanha de Agnelo. ;O grande compromisso do PMDB é com Brasília e com o verdadeiro novo caminho.; (AMC)

Colaborou Denise Rothenburg

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação