Cidades

Pai e filha se reecontram na rodoviária depois de 30 anos de separação

postado em 04/08/2011 08:00

Pai e filha precisaram da descrição prévia das roupas um do outro para se reconhecer. Jaciane de Sousa Pereira não tinha sequer uma lembrança do pai, Jaime de Jesus Costa, de quem se encontrava longe há 30 anos. Desde que Jaime saiu de São Luís, em 1983, perdeu o contato com a filha, à época com pouco mais de 3 anos de idade. Tanto tempo depois, a Rodoviária do Plano Piloto foi o ponto escolhido para o reencontro.

Os dois passaram anos procurando pistas do paradeiro um do outro. Mas o destino precisou dar um empurrãozinho para que o encontro acontecesse. Desde 1995, Jaime mora em Sobradinho. Enquanto ainda procurava notícias da filha em São Luís, Jaciane mudara-se para o Piauí, de onde, em 2005, veio para o DF. Vivendo na mesma cidade nos últimos seis anos, pai e filha podem ter se esbarrado sem saber. Em dezembro do ano passado, ela pediu ajuda a uma tia, que mora no Piauí, para encontrar a família do pai. Foi por meio dessa tia que, oito meses depois, os dois se conheceram.

;Minha irmã me ligou no sábado passando o telefone dela (de Jaciane);, conta Jaime. ;Deu vontade de chorar, gritar. Liguei na mesma hora, mas o celular dela estava fora de área. Bateu um desespero e imediatamente eu liguei para a mãe dela, para confirmar o número. Liguei de novo e Jaciane atendeu. Quando ouvi a voz dela, tinha certeza que era minha filha. Aí, marcamos o encontro para o domingo. Nossa, como foi difícil dormir. Acordei às 2h, depois às 4h e nada. Às 6h30, levantei-me e fui lavar o banheiro, limpar a casa pra recebê-la bem. Hoje quem faz o almoço sou eu.;

Por volta das 10h do último domingo, os dois se encontraram na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. Jaime já esperava por Jaciane e tentava localizá-la entre as pessoas que passavam. Mas foi ela quem o viu primeiro e logo gritou: ;Pai!”. Os dois se abraçaram e choraram muito. ;É incrível. Foi o maior presente da minha vida;, disse Jaciane, que completou 32 anos em 26 de julho. Jaime, ainda confuso com o turbilhão de emoções, começou logo a explicar o que havia acontecido, a se desculpar e a agradecer pelo reencontro, tudo ao mesmo tempo. ;Isso é a melhor coisa do mundo. Na época, os meios de comunicação eram precários. No Nordeste, a gente usava cartas ainda. É felicidade demais isso aqui;, comemorava, abraçando a filha.

Trajetória
Jaime de Jesus Costa nasceu em Central do Maranhão, a 305 quilômetros de São Luís. Aos 10 anos, foi com a mãe para a capital tentar ganhar a vida. Aos 12, encontrou trabalho como ajudante de pintor, profissão que pratica até hoje. Em São Luís, conheceu Nildete e começou a namorá-la. Jaciane, o fruto desse amor, nasceu logo depois. Depois de um ano, o casal se separou e Jaime conheceu Honorata Piedade Sá Costa, com quem se casou e vive até hoje. O irmão dela morava em São Paulo e convidou os dois para tentar a vida lá.

;Com 24 anos, fui para São Paulo. Foi aí que perdemos contato;, conta Jaime. ;Nunca mais dormi sossegado. No Maranhão, a situação é muito difícil, mas ainda assim voltei pra lá. Ia voltar pra São Paulo, quando um amigo me deu força e me chamou pra vir pra cá, em 1995.; Com Honorata, Jaime teve mais dois filhos. Um morreu aos 24 anos, atingido por uma descarga elétrica, e o segundo completou 25 este ano.

Na Rodoviária do Plano Piloto, a pequena Mariana observa o abraço emocionado de sua mãe, Jaciane, e Jaime, o avô que nem conhecia
Na Rodoviária do Plano Piloto, pai e filha começaram a descobrir como os 30 anos tinham passado para cada um. Jaime pôde abraçar também a neta, Mariana de Sousa Oliveira, 4 anos. Jaime descobriu que Jaciane foi criada pelos avós maternos em Landri Sales, a 370 quilômetros de Teresina, e que, além de não conhecer o pai, a jovem não teve muito contato com a mãe. ;Por conta disso, eu me sentia muito sozinha, muito carente, mesmo que eu ame muito os meus avós, que foram pais maravilhosos pra mim. Na minha Certidão de Nascimento, na parte do meu pai e dos meus avós paternos, tem só um espaço vago;, revela Jaciane. Em breve, Jaime prometeu, resolverá esse problema, dando à filha o nome que lhe é de direito.

Ansiedade
Do primeiro casamento, no Piauí, Jaciane teve Felipe, hoje com 12 anos e há três vivendo com os padrinhos em Minas Gerais. ;Tento dar o máximo do meu amor aos meus filhos. Às vezes, tenho medo de que eles passem pelo que eu passei;, diz. Ela envolveu a família toda na busca do pai. ;Eu perguntava para a minha mãe sobre meu pai e ela despistava, também não sabia. Em dezembro passado, fui para o Piauí e comentei com uma tia que estava procurando meu pai. Ela levou o nome dele para o Maranhão e pediu a um cunhado do Corpo de Bombeiros para ajudar. Aí eles encontraram a minha família que estava lá. Minha tia, irmã do meu pai, ajudou a fazer o contato aqui, no DF. Ela me ligou um dia e disse que eu logo eu encontraria meu pai, que estava mais perto do que longe. E ele estava tão perto; É a força do destino mesmo, né?;, alegra-se.

A ansiedade também não deixou Jaciane dormir. Nem sequer uma fotografia do pai ela havia visto. Depois do encontro, o sorriso não saiu mais de seu rosto e nem as lágrimas dos olhos. Jaime também não tinha muitas memórias: ;O que eu mais lembrava era não estar com ela, mas a recordação que ficou foi dela pequenininha;. A partir de agora, eles vão ter tempo para construir boas lembranças futuras. ;A gente vai parar para conversar e se conhecer melhor, e aí tentar conviver em harmonia para o resto da vida. Minha vontade é que ela fique o mais perto possível;, diz Jaime. O primeiro passo já foi dado: ele convidou Jaciane para construir uma casa no lote em que mora.

Desencontro rompido

; 14 de novembro de 1958 - Jaime de Jesus Costa nasce
; 1978 - Jaime começa a namorar com Nildete de Sousa Pereira, mãe de Jaciane
; 26 de julho 1979 - Jaciane de Sousa Pereira nasce
; 1983 ; Jaime vai para São Paulo e perde totalmente o contato com a filha
; 1984 ; Jaciane vai morar com os avós maternos em Landri Sales (PI)
; 1993 ; Jaime retorna a São Luís
; 1995 ; Jaime muda-se para o Distrito Federal
; 2005 ; Jaciane vem para o Distrito Federal
; Dezembro de 2010 ; Jaciane começa a procurar o pai com ajuda da família
; 30 de julho de 2011 ; Jaime consegue o telefone de Jaciane e os dois marcam um encontro
; 31 de julho de 2011 ; Jaime e Jaciane se conhecem

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