Cidades

Às margens das BRs 040 e 060 esqueletos de vilarejos podem ser vistos

Flávia Maia
postado em 07/08/2011 08:00
Apenas a igrejinha sem telhado não foi invadida pelo mato no vilarejo situado na altura do Km 52 da BR-040, entre Luziânia e Cristalina

Há certos lugares que sobrevivem à custa da bondade do tempo. Seja porque os restos de construção insistem em não ruir totalmente, seja pelos fragmentos de histórias guardadas na memória da vizinhança. Ao trafegar pelas rodovias BRs 040 e 060, é difícil não prestar atenção e ter curiosidade, mesmo que passageira, nas histórias esquecidas pelas estradas. Para quem passa, a sensação é de abandono. Para os moradores da redondeza, o escombro passa a fazer parte do cotidiano e o espaço antes destinado a um fim agora serve a brincadeiras e a criação de animais.

Às margens da BR-040, na altura do Km 52, um vilarejo inabitado surge no meio do Cerrado. O capim seco tomou conta das construções e transformou em ruínas os antigos imóveis, como a escola rural Nossa Senhora das Dores, entre Luziânia (GO) e Cristalina (GO). O único local no qual o mato não se espalhou foi a igrejinha sem telhado. A cerâmica do chão continua quase intacta, assim como a pia batismal e o púlpito. O templo abandonado é protegido por uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que, mesmo sem coroa, aparece vistosa com o manto de veludo azul bordado recentemente por um fiel transeunte. As marcas de passagem humana não se resumem à santa bem-cuidada. Preservativos usados também são encontrados nos degraus da capela.

O manto bordado é obra de um fiel que recentemente passou pelas ruínasMoradores das redondezas contam que os escombros fizeram parte de um império agrícola da região. O dono era um advogado de Brasília que chegou às terras da vila na época do início da construção da capital federal. ;O seu Hugo, Hugo Mósca. Conhece? Construiu uma granja que dava muita renda. Ele fez a vila para os trabalhadores. Eu morava lá perto e ia à missa mensal e ao barzinho, que era muito bom;, contou Manuel Martins Teodoro, 69 anos, conhecido como Manelim. ;Era arrumadinho, bonitinho, mas os filhos deixaram acabar;, enfatizou Rosani dos Santos, 39 anos, funcionária de um mercado em São Bartolomeu (GO), povoado próximo à cidadezinha.

Os vizinhos dizem que o proprietário da fazenda tinha dois filhos e eles não se interessaram pelos negócios do pai. ;Quando o velho foi para a cadeira de rodas, tudo começou a acabar. Faz pra lá de 10 anos que fiz a mudança deles para Brasília, nem sei se ele morreu ou não;, explicou Manelim. A fazenda de 82 alqueires tinha barragem no rio, galpões da granja, comércio, escola, bar e mercearia. Hoje, são sete casas abandonadas e muita terra improdutiva. O dono da fazenda vizinha comprou recentemente a propriedade e tenta reviver a vila com um posto de gasolina e uma borracharia. ;O problema é que a empresa de energia de Goiás tirou os postes e não quer colocar de novo;, informou Nivaldo Gomes Moraes, 43 anos, administrador da propriedade vizinha.

Com o fim da granja, vários comércios próximos também faliram e só restam os destroços. O posto de gasolina está com o teto parcialmente caído e todos os galpões de concreto ficaram abandonados. ;O velho tinha tanto poder. Como pode acabar assim?;, questiona Manelim.

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