Antonio Temóteo
postado em 09/08/2011 08:00
As frequentes falhas no sistema de distribuição da Companhia Energética de Brasília (CEB) colocam a empresa entre as piores fornecedoras de eletricidade do país. Levantamento feito pelo Correio com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta que no ano passado ocorreram 1.898.974 ocorrências individuais de interrupção no fornecimento de energia. Equivale a dizer que, no Distrito Federal, cada um dos cerca de 890 mil consumidores ficou às escuras pelo menos duas vezes no ano ; ou que, a cada dia, 5.202 domicílios ou empresas no DF permaneceram sem luz em 2010. Em Pernambuco e no Rio de Janeiro, por exemplo, a média é de uma interrupção a cada 12 meses (leia quadro).
O indicador também leva em consideração o volume de recursos que a CEB usou para compensar financeiramente as unidades de consumo que ficaram sem energia por tempo ou por frequência acima do estabelecido pela Aneel. Esse limite varia de acordo com as regiões delimitadas dentro dos estados brasileiros e do DF. No ano passado, a empresa brasiliense de energia elétrica ressarciu os consumidores em R$ 4.485.143, 75.
Segundo Mauro Moura Severino, professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista no assunto, o número elevado de interrupções no fornecimento de eletricidade implica a perda da credibilidade da concessionária. Ele acredita que o impacto negativo é fruto da falta de investimentos na modernização do parque operacional e no quadro de servidores. ;A quantidade de ocorrências tem ficado acima dos limites estabelecidos pela Aneel. O consumidor passa a gastar dinheiro em casa para suprir essas necessidades e sempre espera o pior;, explicou.
Investimentos
O diretor de Engenharia da CEB, Mauro Martinelli, admite que o sistema de distribuição da empresa está sobrecarregado pela falta de investimentos. Assim, isso tem contribuído para a atual quantidade de apagões. Entretanto, Martinelli garante que até 2014 serão aplicados R$ 543 milhões na construção de linhas de transmissão, estações e subestações de energia. ;Estamos fazendo uma linha de distribuição entre Samambaia e Riacho Fundo, Haverá outra entre Riacho Fundo e Brasília e mais uma entre Santa Maria e (Jardim) Mangueiral (nas proximidades São Sebastião).
Segundo ele, as novidades darão alternativas operacionais para a falta de energia. ;Também estamos ampliando a subestação do Gama, erguendo uma nova no Núcleo Bandeirante e fazendo a modernização da de Sobradinho. São seis obras com um valor total de R$ 56 milhões.; O diretor da CEB acrescentou que será erguida a subestação Hípica, próxima ao Zoológico, além da Samambaia Oeste. Também fazem parte desse projeto uma linha entre (a estação de) Samambaia Oeste e Samambaia e outra que vai do Riacho Fundo, passa pela Hípica até chegar ao Setor de Embaixadas Sul. Todas as obras estão avaliadas em R$ 43 milhões.
Martinelli detalhou ainda investimentos na região central de Brasília. ;Outro desafio é executar o Plano de Desenvolvimento da Distribuição, orçado em R$ 30 milhões. Já assinamos com a Terracap um contrato de R$ 28 milhões para erguer a subestação da Cidade Digital e outro de R$ 54 milhões para a subestação Estádio Nacional. Esse projeto atenderá a área central de Brasília, ampliará as subestações Sudoeste e Brasília Centro e criará as linhas de distribuição. Estamos trabalhando para buscar a recuperação financeira e técnica da CEB;, finalizou.
Cinco áreas atingidas
As constantes interrupções no fornecimento de energia elétrica têm prejudicado os moradores do Distrito Federal. O apagão registrado no último fim de semana atingiu o Varjão, os condomínios do Grande Colorado e deixou residências e estabelecimentos comerciais do Lago Norte por até sete horas sem luz. Taguatinga e Águas Claras também registraram problemas no fornecimento.
Depois de um longo dia de trabalho no sábado, o guarda Jocemar Alves de Oliveira, 43 anos, morador da Quadra 9 do Varjão, queria ir para casa descansar. Mas, ao chegar, por volta das 19h, encontrou a filha e a mulher no escuro. ;Ficamos sem ter o que fazer, não dava para tomar banho nem ver televisão. Ainda bem que não queimou nenhum aparelho, pois seria bem pior;, afirmou. Jocemar contou que cochilou e só depois das 23h, ao acordar, notou que a energia tinha voltado. Segundo ele, a falta de energia é constante na região.
O gerente de um restaurante no shopping Deck Norte Sílvio César, 43 anos, também sofre com a falta de luz. Aos fins de semana, ele mantém o estabelecimento aberto até a meia-noite, mas, com a queda de energia, tem de fechar um pouco mais cedo. ;Nada funcionava, ficamos sem usar a cozinha e a chopeira, e os clientes foram embora. Isso causou transtornos e tivemos queda nas vendas.;