Cidades

Presas deixam os uniformes de lado por uma noite e disputam título de Miss

postado em 09/08/2011 21:55
Maquiagem, vestidos longos e nada de uniformes. É assim que começou a noite para as nove presas que concorrem ao título de Miss Penitenciária 2011. Elas foram selecionadas entre 150 inscritas. A terceira edição do evento que ocorre na noite desta terça-feira (8/8), no pátio da Penitenciária Feminina do Gama, traz uma novidade para a ganhadora. O primeiro lugar recebe, além de R$ 1 mil, a garantia de um emprego quando sair em liberdade. O segundo lugar ganhará R$ 800 e o terceiro R$ 500. As três colocadas serão anunciadas ainda hoje. Os prêmios em dinheiro foram proporcionados por empresários. As somas poderão serão repassadas para as famílias das presas ou depositadas em contas bancárias para serem gastas em acessórios pessoais. Durante um mês todas fizeram aulas de etiqueta, passarela, ensaiaram coreografias e tiveram acompanhamento psicológico.

Segundo dados do Ministério Público, a maioria das mulheres é abandonada e poucas recebem visitas. Muitas estão presas por causa dos companheiros e, no fim, os homens geralmente as abandonam na prisão. O subsecretário da Secretaria de Justiça Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal, Todi Moreno, disse que o concurso é uma oportunidade importante para as mulheres do presídio. ;O concurso busca resgatar a autoestima delas e aliar o prêmio ao incentivo de já sair com um trabalho garantido. Elas vão ser inseridas na sociedade novamente. E para a mulher é muito difícil estar em celas sem espelhos. Elas passaram por uma transformação esta noite;, enfatizou.

Mesmo usando uniforme, branco ou azul claro, as outras 559 presidiárias que vivem na penitenciária, conhecida como Comeia, puderam assistir ao evento. Cerca de 240 delas estão em regime fechado e tinham lugar reservado, enquanto os familiares não puderam fazer parte da plateia. Originalmente, 12 dessas quase 600 mulheres eram selecionadas para participar do evento, mas duas ganharam liberdade na mesma semana e desistiram da oportunidade e outra entrou em uma briga e teve uma ocorrência grave, o que qualifica impedimento.

A iniciativa da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal (Sejus/DF) contará com três momentos: primeiro cada uma veste uma camisa com um logotipo de um projeto da secretaria, como por exemplo, Brasília sem pedofilia, depois é a hora do desfile de maiôs e por último o vestido de gala. E então chega a hora de escolher as vencedoras. Na hora de fazer as inscrições não houve restrição e todas as detentas puderam participar, mas os critérios levam em conta algo além da beleza. O voto do júri composto por 17 convidados é dado de acordo com o bom comportamento e segue o critério de crimes cometidos.

Presa por cometer assalto a mão armada em São Sebastião, Danielle Alves cumpriu dois anos na prisão, passou um ano e três meses na rua, mas voltou à carceragem por um segundo processo aberto desde 2007. A última edição do evento anual ocorreu em 2009 e Danielle foi a vencedora na época. Dessa vez, ela preferiu ficar de fora porque recentemente teve uma filha dentro do presídio, a bebê tem 2 meses, por isso quis dar atenção integral a ela. ;Eu não tenho uma preferida, todas têm chances de ganhar;, comentou. De acordo com Danielle, esse concurso muda muito a vida de quem participa e ainda mais de quem ganha. ;Porque você fica conhecida dentro e fora do presídio. E ajuda muito na autoestima, além de você se tornar uma pessoa mais respeitada;, explicou.

Para a diretora da Penitenciária Feminina, Deuselita Pereira Martins, o evento acaba influenciando no comportamento das meninas, que demonstram progresso e mais força de vontade. ;Algumas ficam mais esforçadas para sair daqui quando participam do concurso;, contou. Mas, ela enfatiza que é primordial pensar na segurança dos convidados. ;São mais de 200 servidores e 20 policiais da Divisão de Operações Especiais fazendo a segurança no local;, afirmou.

Preparativos
De acordo com a assessora do subsecretário de Justiça, Priscylla Ferreira, uma das organizadoras do evento, as concorrentes receberam, durante um mês, aulas de boas maneiras, passarela e acompanhamento psicológico, além do atendimento de um advogado, que acompanha cada caso. Elas ainda passaram por uma transformação visual, com tratamentos de beleza corporal, corte e tintura de cabelo.

O concurso é dividido em três etapas: Miss Penitenciária, Miss Simpatia e Concurso de Poesia. As três primeiras colocadas de cada categoria vão receber uma premiação em dinheiro, que será doada pela iniciativa privada. ;Com o prêmio as presas poderão ajudar no processo com advogados e também terão condições de comprar produtos de uso pessoal;, destaca Priscylla.

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