postado em 10/08/2011 07:30
Os moradores do DF podem se orgulhar de serem os que mais respeitam a faixa de pedestres no Brasil. Segundo levantamento do Departamento de Trânsito (Detran), 95% dos motoristas cumprem a Lei n; 9.503, de 1997, e param o veículo a fim de proporcionar a travessia dos que seguem a pé. Porém, no mesmo momento em que outras capitais começam a implantar o modelo que dá certo em Brasília há 14 anos, quem trafega nas ruas do Plano Piloto e de outras regiões administrativas tem encontrado um grande empecilho para obedecer à legislação: a falta de manutenção. Em diversas cidades, elas estão apagadas. Ao passar pelos locais, não é difícil perceber o que a precária visibilidade provoca. São freadas bruscas ; que aumentam as estatísticas de batidas ; e susto nos pedestres, que acabam voltando às calçadas para evitar acidentes graves.
A reportagem do Correio percorreu 120 quilômetros na última segunda-feira para identificar os pontos mais críticos. Encontrou pontos onde as pessoas preferem arriscar a vida correndo pela via a esperar que os motoristas vejam a sinalização apagada. Os problemas começam nas asas Sul e Norte, mas também atingem Samambaia, Ceilândia, Taguatinga e outras cidades. No DF, existem cerca de 5 mil faixas. Desse total, 1.013 foram revitalizadas entre janeiro e junho deste ano. Para reparar as demais, o órgão de fiscalização de trânsito conta com orçamento de cerca de R$ 6 milhões.
Na Quadra 1 do Setor Comercial Sul, os pedestres colocam os pés na pista e atravessam sem temer o que restou da faixa. Em uma breve observação, é possível ver e ouvir vários condutores pisando forte no freio para evitar atingir alguém. Com uma rota diária pelo setor, o taxista Anderson de Mattos, 32 anos, afirma só parar no local pelo costume, mas, quem não conhece, acaba com dificuldades para identificar a passagem. ;Até os pedestres se confundem. Alguns passam a 10 ou a 15 metros daqui, não identificam a faixa. Os que já conhecem atravessam na certeza de que os motoristas vão parar, mas nem sempre dá para ver. Fica mais difícil sem o chão estar pintado;, reclamou.
Se a falta de sinalização atrapalha o motorista, os alunos da Escola Classe 210/211 Sul são ainda mais prejudicados. Eles precisam recorrer aos pais para cruzar a via com segurança. Os que não podem contar com a presença do responsável na entrada ou na saída da aula redobraram a atenção. Em frente à escola do Plano Piloto, a faixa está completamente apagada, sendo identificada somente pelas placas de indicação. ;Morador da cidade há 40 anos, o funcionário público Aurino Joaquim da Silva, 69 anos, enfatizou que logo quando a lei começou a ser aplicada as faixas eram brancas e visíveis. ;Tem que limpar. Está em frente a uma escola. Deve estar visível para todos, e não assim, apagada;, lamentou.
Campanhas
Em maio, Belo Horizonte (MG) lançou uma campanha para reduzir os atropelamentos na capital. De janeiro a abril, ocorreram 914 acidentes com pedestres. O governo pretende distribuir panfletos e deixar mensagens em vias públicas com pedidos de respeito à faixa. Já São Paulo investiu no treinamento de 150 agentes de trânsito para fazer a lei valer. Na última segunda-feira, o trabalho nas ruas intensificou-se no intuito de reduzir entre 15% e 20% as mortes em decorrência de atropelamentos.
Plano de recuperação
O diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, reconheceu a precariedade das faixas de pedestres e anunciou ações pontuais para resolver o problema. ;Recuperamos mais faixas em seis meses do que o governo anterior em quatro anos. Estamos batalhando para que todas as cidades tenham essas sinalizações visíveis;, afirmou. Segundo ele, o Plano Piloto deve ter a situação resolvida até o fim de agosto. Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Sobradinho e Planaltina estão com o serviço andamento. Candangolândia, Park Way, Gama e Águas Claras serão as próximas beneficiadas.
Cada sinalização horizontal tem um prazo de validade. As que são pintadas com tinta acrílica comum duram um ano. Aquelas feitas com pintura quente e plastificada têm tempo médio de dois anos. A falta de visibilidade das faixas, em sua maioria, também é provocada pela sujeira. Enquanto a revitalização custa, em média, R$ 2 mil, uma simples lavagem não passa de R$ 10. ;Entendemos que a limpeza é de responsabilidade das administrações locais. Eles podem contratar um carro-pipa para fazer o trabalho;, sugeriu Bezerra.
Porém, ele estuda um convênio com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) para fazer a limpeza das sinalizações. Hoje, existe uma parceria que funciona para a revitalização de placas. A ideia é repetir o sucesso da ação. Se der certo, o Detran vai disponibilizar os carros com as bombas d;água, e os presos em fase de reabilitação trabalharão nos pontos de travessia.
O diretor sugeriu ainda que, ao identificar uma faixa apagada, a população deve entrar em contato com o Detran por meio do telefone 3905-5989 ou ligar na Ouvidoria: 3905-2025. ;Não vamos fazer tudo de pronto, pois nossas equipes estão realizando o trabalho por cidades. Vamos guardar a reclamação e, quando chegarmos à localidade da reivindicação, ela será atendida;, explicou Bezerra.