O brasiliense está acostumado a encher os olhos com o amarelo dos ipês, geralmente, a partir da segunda quinzena de agosto. Este ano, porém, a paisagem floriu mais cedo. Graças à seca, já é possível encontrar pelas ruas do Plano Piloto árvores carregadas e coloridas que transbordam vida, em contraste com os tons marrons espalhados por quase todos os cantos do cerrado. É exatamente no auge da seca que o ipê-amarelo fica mais bonito. Quando falta água, os galhos se livram das folhas, em uma estratégia da natureza para economizar o líquido armazenado. Em seguida, nascem as flores.
Essa é a forma que os ipês encontram para sobreviver. ;Cada ipê floresce em um período do ano. Agosto é, tradicionalmente, a época dos ipês-amarelos. A floração é uma maneira de atrair polinizadores, por isso é questão de sobrevivência;, explicou a engenheira florestal Roberta Maria Costa e Lima. E, de acordo com a engenheira agrônoma Carmen Regina Correia, professora do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, os ipês têm um ciclo de vida, determinado pela genética e influenciado pelo ambiente.
Por isso, cada espécie tem o seu momento de brilhar. ;A flor é o órgão de reprodução da planta. Há um ciclo de vida como o que nós humanos temos. As flores duram pouco tempo, até 15 dias, em média. Depois, começam a cair lentamente;, detalhou Carmen Regina. Depois dos ipês-amarelos, será a vez dos ipês-brancos e dos rosas, que já começam a dar sinal. Entre os vários tipos dessa árvore presentes em Brasília, somente o ipê-rosa não é nativo do Brasil.
Admiração
As flores começam a chamar a atenção de quem passa. A moradora de Samambaia Neuzeli Dias Arrogo, 24 anos, que trabalha como caixa em restaurante, sempre faz uma pausa para observar os ipês. ;Eles são maravilhosos. O único problema é que as flores duram pouco. Em um dia estão lindas; no outro, podem ter caído todas. É bom aproveitar para apreciar logo.; Ontem, ela parou para ver o ipê que fica na L4 Norte, em frente à estação da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). ;É o mais florido que vi até agora.;
Na UnB, um corredor de ipês-amarelos começa a se formar. Na entrada que leva ao Instituto Central de Ciências Norte (ICC), próximo ao Centro de Convivência Negra, duas árvores estão floridas e outras três começam a chamar a atenção. Na tarde quente de ontem, estudante de letras Thayssa Jales, 22 anos, admirava a beleza de um dos ipês-amarelos que se espalham por diversos pontos da universidade.
Ela não é a única. ;Muita gente tira fotos, quer guardar a paisagem. Eu acho muito bonito, traz um pouco de alegria, em meio a essa seca toda;, afirmou. Quem passar pela Vila Planalto e pelo Setor de Hotéis e Turismo Norte (SHTN), em especial pela Quadra 1, também poderá observar as flores amarelas em sua plenitude.
Utilidade
Além da beleza natural, o ipê tem valor no mercado. A madeira, de alta densidade, é dura, pesada e vastamente empregada na construção civil e na confecção de mobiliário. O maior valor comercial é encontrado na marcenaria e na carpintaria. O preço médio do metro cúbico de pranchas de ipê é de R$ 1,5 mil. O material também é utilizado para fabricação de pontes, eixos de roda, varais de carroça e moendas de cana.
Já na medicina popular, acredita-se que as folhas, as flores e a casca de algumas espécies de ipê-amarelo têm propriedades curativas. Segundo pesquisas, a entrecasca do ipê-amarelo possui propriedades terapêuticas, atuando como adstringente e podendo ser usada no tratamento de garganta e das estomatites. É também utilizada como diurético.