postado em 14/08/2011 08:00
Anualmente, milhares de jovens começam a cursar a universidade e muitos compartilham o desejo de formação em carreiras que se consagraram como as mais procuradas nos vestibulares. Levantamento feito pela reportagem em três universidades do Distrito Federal ; uma pública e duas privadas ; que, juntas, têm mais de 50 mil alunos, apontou medicina, direito, engenharia civil, relações internacionais e psicologia como os cursos mais procurados nos últimos cinco anos.
Com exceção do curso de engenharia, essas graduações não estão em sintonia com as reais necessidades do mercado, que alardeia a carência de profissionais de alta competência técnica diante da conjuntura de crescimento do país. Por outro lado, os diplomados de formação mais tradicional têm dificuldade em encontrar um lugar ao sol, pois enfrentam concorrência numerosa em praças já saturadas. O impasse dá espaço à discussão sobre a existência de descompasso entre academia e mercado e a melhor forma de planejar o futuro profissional.
Uma coisa é certa: quem opta por uma qualificação disputada pelo setor privado tem grandes chances de sair na frente nos quesitos bom salário e carreira promissora. Basta tomar como exemplo a engenharia civil, que, atualmente, é o único curso entre os queridinhos dos vestibulandos que representa uma resposta clara às necessidades do mercado.
Até pouco tempo atrás, a graduação não figurava entre as mais disputadas nos processos seletivos. Graças a ações como o Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ambos do governo federal, o interesse pelo curso cresceu. Em 2008, ele desbancou enfermagem e nutrição, que se alternavam no ranking das cinco mais concorridas da Universidade de Brasília (UnB). No mesmo ano, o Centro Universitário de Brasília (UniCeub) criou um curso de engenharia e, em 2011, o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) fez o mesmo. Hoje, um engenheiro é disputado a peso de ouro por construtoras, incorporadoras e empreiteiras.
;A briga (por um profissional) começa antes mesmo da formatura. A guerra é pelo melhor estagiário. O salário inicial de um engenheiro que tenha passado com sucesso por dois ou três estágios pode chegar a R$ 6 mil;, informa Carmem Cavalcante, da Rhaiz Consultoria. Entretanto, Carmem ressalta que a perspectiva salarial não é tudo. ;Se não houver escolha levando em conta a vocação e os objetivos pessoais, essa decisão pode se esvaziar e se transformar em insatisfação;, afirma.
O especialista em recursos humanos e estratégia de marketing Jorge Pinho, professor da Universidade de Brasília, corrobora a avaliação de Carmem. ;Sem vocação, a carreira será insuportável. Imagine a frustração do profissional às voltas com uma carreira com a qual não tem nada a ver;, avalia. Para ele, racionalidade e idealismo devem andar juntos. ;Tem que levar em conta a realização profissional e a empregabilidade a médio e longo prazos;, defende.
O engenheiro civil João Milhomens, 24 anos, comemora a felicidade de poder trabalhar com o que gosta. ;O momento em que me formei foi muito bom. Foi em pleno boom da construção, em 2008;, relata ele, que foi contratado pela empresa na qual havia estagiado durante um ano e meio assim que conquistou o diploma. João começou a faculdade de engenharia em 2004, quando ainda não era possível prever o crescimento da procura por profissionais da área. ;À época, havia alguns amigos que já cursavam engenharia e isso me levou a querer saber mais sobre a área. Visitei alguns canteiros de obra. Vi que era um dia a dia bem corrido e dinâmico e isso me atraiu;, conta.
Descompasso
Se a demanda do mercado de trabalho por engenheiros civis tem encontrado eco nos bancos de universidades, outras carreiras não têm garantido uma resposta tão rápida por parte da academia. Carlos Augusto Baião, assessor de planejamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), diz que as instituições de ensino superior não acompanham a expansão acelerada de alguns segmentos econômicos.
;Há necessidade de muitos profissionais nas áreas de tecnologia da informação, telecomunicações e na própria construção civil. Hoje, existe um apagão. A demanda está maior do que a oferta. As universidades têm dado uma certa atenção, mas a carência é efeito retardado da década perdida, em que não houve investimentos em infraestrutura;, afirma Baião, referindo-se à crise econômica dos anos 1980.
A especialista em recursos humanos Carmem Cavalcante reconhece a existência de ;um elo perdido; entre formação superior e mercado, mas chama a atenção para a importância de as instituições de ensino não serem pressionadas a restringirem sua oferta de cursos às carreiras viáveis do ponto de vista mercadológico. ;A academia não tem que agir conforme o mercado, pois ela sempre foi muito democrática no que diz respeito a opções. Mas também precisa haver um diálogo um pouco mais estruturado;, opina.
Concorrência
Veja a média anual de novos profissionais
Medicina - 800
Direito - 1,8 mil a 2 mil
Engenharia civil - 500
Psicologia - 600
Fonte: Conselho Regional
de Medicina do DF (CRM-DF); Ordem dos Advogados do Brasil ; Seccional Distrito Federal (OAB-DF); Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea); Conselho Regional de Psicologia ; Seção 1 (CRP-01).