Cidades

No Dia dos Pais, Correio traz casos de encontros e desencontros de famílias

postado em 14/08/2011 08:00


Duas histórias de desencontros. Dois casos que podem acender uma fagulha de esperança naqueles que, porventura, estejam em uma situação parecida. Em um deles, uma mulher procura o pai há 29 anos. No outro, um homem conheceu a filha adolescente após uma tragédia de trânsito.

Brasília, 20 de março de 1977. Nasce Michelle Rodrigues Sampaio. A mãe, Ana da Anunciação Rodrigues, hoje com 62 anos, é natural de Porangatu (GO). O pai se chama Maurício, tem 1,73m, olhos verdes, nasceu no Ceará e foi criado na Paraíba. Em uma das mãos dele, há um cicatriz. Na década de 1970, Maurício trabalhava como comerciante na quadra 102 da Asa Sul. Nessa época, ele dizia ser viúvo e pai de dois filhos: Carmem Silva e Vagner. É tudo o que Michelle sabe do pai. Ela tinha quatro anos na última vez que o viu.

Michelle conta que foram diversos desencontros com o pai biológico. A mãe conheceu Maurício em novembro de 1975, em um ônibus, e logo começaram a namorar. Ela trabalhava como doméstica e ele era fornecedor de mercadorias das Casas da Banha e do Jumbo. Não demorou muito para Ana descobrir que estava grávida de Michelle. Mas ela resolveu largar o emprego e ir embora, sem dar explicação. Maurício só descobriu que tinha uma filha por meio de uma prima, quatro anos depois. Nesse tempo, Ana já estava casada com outro homem. Porém, nada impediu que pai e filha se conhecessem. Em um sábado, às 16h, ele combinou que estaria na casa onde ela morava, na QNL de Taguatinga Sul. Foi a primeira das poucas vezes que ele pôde abraçar a pequena menina de cabelos encaracolados, cor de mel e pele morena.

Em duas ou três ocasiões, pai e filha saíram juntos. ;Eu lembro que meu pai me levou para passear no Núcleo Bandeirante e me deu de presente uma botinha e um apontador. É só isso o que eu consigo me lembrar;, contou Michelle. Mas o ciúme do então marido de Ana seria um dos responsáveis pelo afastamento dos dois, desta vez, definitivo. O tempo passou e a família mudou de endereço. O bilhete que Maurício deixou com telefone para contato foi rasgado. No endereço onde ele trabalhava, nunca mais foi encontrado. ;O meu padrasto já faleceu e eu o amava como pai. Mas sempre tive vontade de conhecer meu pai biológico. Procurava na internet alguma pista, mas até hoje não tive nenhuma notícia;, contou Michelle ao Correio. Ela, inclusive, postou no Orkut algumas fotos da época em que conheceu Maurício. ;Procuro meu pai;, é a chamada do perfil no site de relacionamentos.

Trinta anos depois e a dona de casa, moradora do Recanto das Emas, é mãe de dois filhos, Marlon e Mariana, de 19 e 16, respectivamente. Se estiver vivo, Maurício é bisavô de Marília, uma criança de 3 anos. ;Sempre nos meus desejos de fim de ano, eu peço a Deus para um dia reencontrar meu pai. Todos os meus outros sonhos são possíveis, mas esse não depende de mim;, disse. Se um dia ficar frente a frente com Maurício, Michelle diz não saber qual será sua reação. ;Acho que eu iria chorar muito. Aliás, eu sempre digo que a primeira coisa que vou fazer é reparar se a gente se parece;, brincou. Agora é torcer para a história ter um final feliz. Quem souber do paradeiro de Maurício pode ligar para 8531-2985.

Na tragédia, o reencontro
O policial militar Evandro Soares, 41 anos, admite que era do tipo de rapaz que gostava de festas e farra. Foi em uma dessas noites que uma mulher acabou grávida. Em 1994, nasceu Lorrany de Carvalho Nascimento Soares. A mãe, Maria Genilda de Carvalho Nascimento, havia se mudado para São Paulo e Evandro recebeu apenas uma carta para reconhecimento da paternidade. Ele saiu de Brasília e foi até o fórum, mas, ao contrário do que imaginava, não chegou a ver o bebê. ;Ela mudou de endereço e eu nunca mais a achei;, contou.

Durante 16 anos, Evandro tentou encontrar Lorrany pela internet, mas não tinha nem pista de onde ela pudesse estar. ;É muito ruim ter uma filha e não saber como ela é. Vivia na escuridão, mas um certo dia eu acordei e, do nada, resolvi colocar o nome da mãe dela no Google. Apareceu a notícia de que uma pessoa com o mesmo nome tinha morrido em um acidente de trânsito em abril do ano passado, na rodovia SP-340, em Mogi- Mirim;, lembrou. Na mesma hora Evandro começou a mandar e-mails para os jornais de Campinas que haviam publicado a matéria. ;Um jornalista entrou em contato comigo e disse que tinha uma boa notícia, então imaginei que tinham achado a minha filha;, disse.

Sem hesitar, Evandro marcou a viagem para conhecer a filha. ;Não tem como descrever em palavras o que senti quando a conheci pessoalmente. Eu nem tinha mais esperança de encontrá-la. Foi coisa do destino.; No começo, pai e filha trocaram um abraço meio tímido, como ele mesmo conta, mas não muito tempo depois garantem já amar um ao outro. ;É um barato. Parece que nos conhecemos esses anos todos. Ela é uma menina de caráter e responsável;, elogiou Evandro. ;Meu pai é muito legal. Depois da morte da minha mãe, procurei saber quem ele era, mas não o encontrei;, disse Lorrany. Após o episódio, ela decidiu: quer ser jornalista.

No Dia dos Pais, Evandro vai viajar para Mogi- Mirim e passar a data com a filha, pela primeira vez. ;Meu amor, já comprou o meu presente?;, perguntava, entre risos, ao falar com a filha por telefone, na última sexta-feira. Os dois eram puro chamego. ;Filha, você está com uma vozinha baixinha. Está dodói? É preguiça, né?;, brincava Evandro. A sensação de descobrir-se pai de uma adolescente? ;Eu ainda estou aprendendo a lidar com isso, mas a gente se entende e ela é maravilhosa. Estou gostando da experiência;, avaliou. Hoje, ele deixa uma mensagem para quem está procurando uma pessoa querida: ;Jamais desista. Procure ,que vale a pena, pois tudo tem a sua hora, o seu momento;.

;Se ficasse frente a frente com o meu pai, acho que eu iria chorar muito. Aliás, eu sempre digo que a primeira coisa que vou fazer é reparar se a gente se parece;
Michelle Rodrigues Sampaio, 34 anos, dona de casa, moradora do Recanto das Emas

;Não tem como descrever em palavras o que senti quando a conheci pessoalmente. Eu nem tinha mais esperança de encontrá-la. Foi coisa do destino;
Evandro Soares, servidor público, morador do Riacho Fundo

;Meu pai é muito legal. Depois da morte da minha mãe, procurei saber quem ele era, mas não o encontrei;
Lorrany de Carvalho Nascimento Soares, 16 anos, moradora de Mogi Mirim (SP)

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