Cidades

Polícia Civil e MP investigam suspeita de desvio de verba no zoo

postado em 17/08/2011 07:34
A Divisão Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap), da Polícia Civil, investiga denúncia de irregularidades no serviço de bilheteria da Fundação Jardim Zoológico de Brasília. O inquérito segue em sigilo. Mas, de acordo com fontes ouvidas pelo Correio, cerca de R$ 300 mil teriam sido desviados anualmente, até dezembro de 2010. O dinheiro teria sido pago pelos frequentadores, mas não seria contabilizado pela tesouraria da instituição. Até o último dia 11, o zoológico arrecadou R$ 486 mil com o público pagante. A expectativa é que o número alcance R$ 700 mil até o fim deste semestre. Nos três anos anteriores, o montante não passou de R$ 481 mil em cada 12 meses.

Além da Decap, o Núcleo de Combate a Organizações Criminosas (Ncoc), do Ministério Público, investiga o suposto desvio. Uma testemunha ouvida pela reportagem deu detalhes de como funcionaria o esquema de desvio na bilheteria. Com a condição de não ser identificada, ela informou que, como o registro de pagantes é feito por meio de máquinas manuais, é mais fácil que aconteça a fraude. ;A pessoa recebe apenas um recibo do pagamento e, assim, o dinheiro pode ser desviado. Eles arrecadavam uma certa quantia e só declaravam parte dela;, denunciou.

Para ter acesso ao zoo, o visitante precisa entrar em uma das três guaritas. São pagantes todas as pessoas entre 11 e 59 anos. O valor da entrada é de R$ 2, o mesmo desde 2002. Segundo a testemunha, o dinheiro de um dos caixas não era contabilizado na tesouraria da instituição. Isso explicaria a diferença dos montantes arrecadados nos últimos três anos, comparados aos sete primeiros meses deste ano (veja quadro). Em 2010, por exemplo, o zoológico faturou com a bilheteria R$ 364,75 mil. Até o dia 11 deste mês, o valor alcançou a marca de R$ 486,87 mil, o que apresenta um aumento de 33,4%. Nos últimos três anos, a maior arrecadação foi a de 2009 ; de R$ 481,5 mil.

Sem detalhes
O atual diretor-presidente do Jardim Zoológico, José Berlamino da Gama, confirmou a apuração. ;Mas prefiro não falar nada para não atrapalhar o processo;, disse Belarmino, que assumiu o cargo em 28 de janeiro deste ano. A Decap também não forneceu informações, mas o delegado-chefe, Flamarion Vidal, admite que está investigando a denúncia que envolve o zoo. ;O inquérito corre em sigilo e não podemos dar detalhes para não prejudicar nosso trabalho;, disse.

Procurado, o antigo diretor-presidente do Jardim Zoológico Raul Gonzalez Acosta garante saber da investigação. Ele disse, inclusive, ter colaborado com o trabalho policial. Raul administrou a fundação durante quase duas décadas e garantiu ter aberto sindicância para apurar a denúncia. ;Recebi anonimamente e fiz apurações em 2009, mas não constatamos nada. O que eu podia ter feito durante a minha gestão, eu fiz;, justificou o antigo diretor.

A respeito da disparidade de valores, Gonzalez explicou que o número de frequentadores muda a cada ano. Ele informou que em épocas de grande movimento, durante sua gestão, muitas pessoas entravam gratuitamente. ;Quando ficava muito cheio, abríamos a bilheteria para que as pessoas entrassem de graça e não ficassem esperando do lado de fora, sob o sol, e correndo o risco de sofrerem um acidente;, contou.

Raul disse ter prestado depoimento na Decap há cerca de dois anos. ;Tudo que era necessário para facilitar a investigação, eu fiz. Mas eu não tinha relação direta com a questão da bilheteria, que ficava por conta da tesouraria e do diretor administrativo;, disse. Raul disse acreditar que a investigação da Polícia Civil é importante para esclarecer o suposto desvio de dinheiro.

Segundo o atual diretor da Fundação Jardim Zoológico, a intenção, a partir de agora, é criar um sistema de bilhetagem eletrônica para evitar futuras denúncias de fraude. ;Queremos que as pessoas só entrem após apresentarem um ingresso de entrada;, contou José Belarmino. O valor arrecadado com a bilheteria do zoológico vai para a conta da fundação.

Ação na Justiça
Desde 2008, corre na Primeira Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) uma ação civil de improbidade administrativa por suposto desvio de animais no Jardim Zoológico de Brasília. Parte do processo está em sigilo e não pode ser acessada pelo site do TJDFT. Os documentos mostram que animais da fundação foram dados como mortos, mas, na verdade, segundo denúncias, teriam sido doados a criadouros. Em 2002, sete mamíferos foram encaminhados para Quirinópolis (GO). No processo, constam os nomes de Raul Gonzalez, de Déborah Soboll (veterinária) e de Noel Gonçalves Lemos (criador de animais).

Pedaço da história
Antes mesmo da criação da capital federal, o Jardim Zoológico estava instalado no Distrito Federal. Criado em 6 de dezembro de 1957, o zoo foi a primeira instituição ambientalista criada no DF. A cada ano, o local é visitado por cerca de 1 milhão de pessoas. O primeiro animal a habitar o zoológico foi a elefanta Nely. O mamífero foi um presente que o presidente Juscelino Kubitschek ganhou do embaixador da Índia. Nely morreu em 1994, em decorrência de uma artrose. Existem atualmente na instituição 1.112 animais, divididos em 236 espécies. O zoológico tem área de 140 hectares e funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. O ingresso custa R$ 2.

Colaborou Flávia Maia

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