postado em 19/08/2011 10:46
O temor de se deparar com um assaltante dentro do ônibus tem mudado a rotina de muitos trabalhadores do Distrito Federal. Cobradores, motoristas e usuários do transporte público começaram a modificar os hábitos para não se tornarem vítimas dos criminosos. Locais mais afastados, sem iluminação ou com muitos quebra-molas passaram a ser evitados pelos rodoviários em razão da insegurança. É o que acontece na expansão de Santa Maria Sul, nas quadras 400, e nas vias próximas ao Bairro Chaparral, no Setor P Sul, em Ceilândia. Em determinados horários, antes das 6h e após as 19h, esses trechos fazem parte de uma espécie de rota proibida.Micro-ônibus têm sido os principais alvos dos assaltantes. Por esse motivo, quem arrisca circular pelas ruas estreitas de algumas regiões costuma desligar as luzes do painel que mostra o itinerário do coletivo. ;É para eles não marcarem o carro;, explica uma motorista que trabalha, desde 2008, na rota do P Sul e preferiu não se identificar.
Cobradora há três anos no mesmo terminal, Elizabeth*, 45 anos, contou ter ficado, por duas vezes, sob a mira de um revólver em 2010. Em uma das ocasiões, por volta das 12h, quatro assaltantes entraram no coletivo e exigiram todo o dinheiro do caixa. ;Eles me xingaram de vagabunda e falavam: ;Anda rápido porque se não vai ter pipoco;. Foi a maior agressão do mundo. No dia seguinte, eu nem fui trabalhar;, contou ao Correio.
Terror
Ela é uma dos 15 mil rodoviários em atividade no DF em uma frota composta por quase 4 mil ônibus e micro-ônibus. ;Eu tenho medo de passar por alguns locais. Os assaltos ocorrem sempre na rua do Hospital de Ceilândia. Eu evito andar com a minha bolsa e dinheiro justamente para não correr riscos;, detalha Flávia*, 30 anos. Há quatro meses, ela também viveu momentos de terror. ;Às vezes, eles até pagam passagem e andam bem vestidos. A gente registra ocorrência, mas nada muda e eles continuam soltos;, lamenta.
Segundo estimativa do Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal, a média é de quatro ataques a coletivos por dia. Nos últimos 13 anos, 12 rodoviários morreram em serviço. ;É um problema sério que afeta todos. Nos últimos dias, muitos trabalhadores têm informado o aumento de casos de assaltos;, diz o presidente do sindicato, João Osório.
Em Santa Maria, quem mora entre as quadras 400 e 500 e no Condomínio Porto Rico sente os efeitos da insegurança. Mesmo durante o dia, muitos motoristas evitam passar pelas regiões devido aos constantes assaltos. Na manhã de ontem, mais um crime foi registrado na região. Os ladrões levaram o dinheiro do caixa de um micro-ônibus, além de aparelhos celulares de passageiros. No período da tarde, muitos motoristas evitaram o itinerário.
Mas o problema é recorrente na área, o que obriga os moradores a caminhar cerca de 1 quilômetro até a Avenida Alagado, onde os veículos circulam normalmente. ;Eles dizem que é muito perigoso e não passam por aqui. Às vezes, eu tenho que caminhar por uns 15 minutos para chegar na avenida e pegar um ônibus para o Gama;, diz a vigilante Juvenice Pereira de Oliveira, 30 anos.
* Nomes fictícios
29 carros irregulares
Uma operação do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), realizada na manhã de ontem, apreendeu 29 ônibus que circulavam de forma irregular. Os veículos foram levados para o depósito do DFTrans e só serão liberados após regularização por parte das empresas. Os ônibus, que circulavam sem a autorização do Governo do Distrito Federal, foram detectados por meio do Sistema de Bilhetagem Automático (SBA), utilizado pelos veículos que rodam no DF.
Rotas perigosas
O Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal aponta os locais mais temidos pelos motoristas de transporte público:
Estrutural ; Terminal da cidade
Expansão do Setor O (Ceilândia) ; Da quadra 16 à 19
Vale do Amanhecer e Mestre D;Armas (Planaltina) ; Todos os pontos de ônibus
Samambaia Norte ; Entre a QR 609 e QR 611, próximo ao Parque Ecológico Três Meninas