Cidades

Adasa identifica diversos pontos de despejo de esgoto no Lago Paranoá

Antonio Temóteo
postado em 20/08/2011 08:00
O garçom Honório Martins trabalha em um restaurante próximo à Ponte JK e reclama do mau cheiro do esgoto lançado no lago:
Forte candidato à função de abastecer os moradores do Distrito Federal, como alternativa às barragens de Santa Maria e do Torto e à área de proteção ambiental do Rio Descoberto, o Lago Paranoá ainda é vítima do lançamento ilegal de esgoto e lixo. Levantamento da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa) indica que, dos 173 pontos de drenagem localizados na beira do reservatório, 156 apresentam despejo irregular de dejetos. O Correio flagrou pelo menos dois casos nos quais detritos são lançados sem nenhum tratamento. O primeiro foi registrado no restaurante Gazebo, no Setor de Clubes Sul, ao lado da Ponte JK, próximo a uma praça inaugurada em abril pelo governador do DF, Agnelo Queiroz. O outro problema ocorre em uma galeria de águas pluviais que passa pela Universidade de Brasília (UnB). Rupturas em uma divisão que separa a rede de esgoto da UnB da tubulação de drenagem têm contaminado com detritos o líquido que chega ao lago. Parte das fossas da universidade também tem vazado e alcançado o Paranoá.

A pedido da reportagem, técnicos da Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb) e da Companhia Urbanizada da Nova Capital (Novacap) visitaram a rede de águas pluviais localizada sob o Centro Olímpico da UnB. Os dois especialistas confirmaram que o odor, a coloração e o óleo que escorre pela galeria são de esgoto lançado de forma irregular no Lago Paranoá. Segundo o Superintendente de Operação e Tratamento de Esgotos da Caesb, Carlos Eduardo Pereira, há pelo menos 10 anos essa situação ocorre. ;Os aspectos são de esgoto sanitário sem tratamento. Podemos ver o óleo e o lodo. Isso é um indício de que existem ligações clandestinas. Há pelo menos dois anos a companhia orientou a UnB a corrigir uma interligação indevida (da rede) de esgoto com a (rede) de águas pluviais;, explicou.

De acordo com a Caesb, em abril a companhia recebeu uma denúncia e notificou a universidade sobre o lançamento de esgoto no Lago Paranoá. Após o fim do prazo de 30 dias, a empresa procurou a UnB para cobrar as soluções, mas a universidade alegou dificuldades para justificar a falta de providências. Na ocasião, foi firmado um termo de compromisso, que até o momento não foi cumprido.

De acordo com Ângelo Tiveran Júnior, chefe da seção de manutenção de drenagem da Nocavap, de maio a agosto foram encontradas infiltrações de esgoto nas redes de águas pluviais da companhia oriundas da Biblioteca Central da UnB e de um bloco do curso de engenharia civil. ;Fizemos esses diagnósticos por meio de videoinspeções e filmamos toda a rede. Nesses casos, os registros foram feitos a pedido da Caesb e encaminhamos os ofícios com os resultados;, detalhou.

O prefeito do câmpus, Paulo Cesar Marques, admitiu os problemas de lançamento de sujeira no Paranoá. Segundo Marques, a contaminação tem ocorrido principalmente pelo vazamento de fossas da universidade e em tubulações de esgoto e águas pluviais que eram separadas por canaletas que quebraram. ;Temos a proposta de criar uma rede de esgoto construindo estações elevatórias que vão captar os detritos e encaminhar para bases de tratamento. Isso foi acordado em uma reunião entre a Caesb e a UnB. As obras devem começar em 2011 e a previsão é de que esse projeto estará pronto em 2012;, disse.

Vazamento
A Caesb também autuou o restaurante Gazebo, próximo à Ponte JK, por jogar esgoto no Lago Paranoá. Segundo Edmundo Lins, gerente-geral do Gazebo, o problema começou no Dia dos Pais, data em que estabelecimento esteve lotado. ;A fossa transbordou. Na última quinta-feira, a Caesb esteve aqui e ficamos chocados com o problema, porque não tínhamos conhecimento . Hoje (ontem) iniciamos por conta própria o processo de limpeza da tubulação e do lago;, afirmou.

Apesar do problema, Lins reclamou que não existe rede de esgoto no Setor de Clubes Sul. ;Quando adquirimos o terreno, no contrato o governo prometeu uma área urbanizada e isso significa energia, água e esgoto. Não existe isso aqui. A energia cai três vezes por semana. Não temos esgoto. Há dois anos pagamos taxa por uma rede que não existe;, protestou. O garçom Honório Martins dos Santos Junior, 32 anos, trabalha em um restaurante da região e reclamou do mau cheiro provocado pelo vazamento. ;Isso é uma vergonha. O governo precisa tomar uma providência e criar um rede;, disse.

O superintendente de Fiscalização da Adasa, Diogenes Mortari, explicou que a agência tem conhecimento dos dois casos, mas precisa identificar a origem dos lançamentos para tomar alguma providência. Segundo Mortari, a falta de manutenção nas redes tem sido o principal problema encontrado pela Adasa, que este ano já notificou 20 estabelecimentos por uso indevido de galerias pluviais. As multas por essa infração podem chegar a R$ 50 mil. ;O lançamento de esgoto e outros detritos tem prejudicado as estruturas de concreto e, muitas vezes, entupido as manilhas. A população precisa se conscientizar de que isso acarreta uma série de problemas para sociedade.;

Sem poder para multar
A Novacap é responsável por administrar, fiscalizar e manter os cerca de 3,5 mil quilômetros de redes de águas pluviais existentes no Distrito Federal. A companhia também inspeciona as 80 mil bocas de lobo e os 50 mil postos de visitação das galerias. Apesar da responsabilidade, a empresa não tem poder para multar ou autuar qualquer irregularidade identificada durante as inspeções de rotina.

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