Jornal Correio Braziliense

Cidades

Número de evangélicos cresce 11% em 15 cidades do DF

;Jesus não desistiu de você.;. ;Construindo o lar sobre a rocha.; ;Uma vida vitoriosa em Cristo.; Os dizeres expostos nas fachadas de igrejas evangélicas passaram a fazer parte da vida dos brasiliense. Elas trazem mensagens positivas e podem ser vistas em todas as cidades do Distrito Federal. Nos últimos 10 anos, o aumento dos templos passou a ser percebida pela população e a comprovação do crescimento da doutrina na capital começa a ser comprovado em números. Pesquisa feita pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) em 15 regiões administrativas ; que representam cerca de 2 milhões de habitantes ; revela que, em oito anos, os evangélicos cresceram 11%, enquanto o grupo dos católicos perdeu 8% dos fiéis em relação à levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em 2003.

Na ocasião, os representantes da Igreja Católica representavam 68% da população do DF e os evangélicos, 19,98%. Hoje, os índices marcam 60,9% e 31,2%, respectivamente. De acordo com o diretor de gestão de informações da Codeplan, Júlio Miragaya, a mudança é uma tendência observada principalmente em populações de baixa renda.

Para ele, quando o estudo for concluído nas 30 regiões administrativas, o número de outras religiões e daqueles que afirmam não ter crença definida deve crescer. ;No Plano Piloto, Guará, Cruzeiro e em outras a serem pesquisadas, o número de espíritas cresce. Além disso, quanto mais alta a renda, maior o número dos que não seguem nenhuma religião. Com isso, o aumento dos evangélicos não deve ser tão intenso. Mas, com certeza, será visível;, analisa Miragaya. Os moradores da Estrutural, do Itapoã e de Santa Maria são os que mais seguem a doutrina evangélica. Na Estrutural, o número de adeptos quase se iguala ao de católicos: chega a 44,9%.

Pesquisa inédita da FGV mostra que, entre 2003 e 2009, caiu em 7,3% o número de pessoas que se declaram católicas no Brasil. Elas representam, hoje, 68,4% da população. Já os evangélicos saltaram de 17,9% para 20,2%.

O gari Célio Antônio Pereira da Silva, 42 anos, é um dos que engrossa essa estatística. Há quatro anos, ele se declarava católico, mas, na prática, nem sequer seguia as determinações da doutrina. ;Ia a uma igreja ou outra, não tinha emprego fixo, recebia meu dinheiro e gastava tudo na farra. As brigas em casa eram constantes. Um dia, estava em casa quando ouvi uma conversa do meu cunhado e, desde então, resolvi mudar;, relata. Na sala de casa, Célio disse as palavras que mudariam sua vida: ;Ali mesmo, aceitei Jesus e as coisas começaram a mudar;.

Ao aderir à Igreja Batista Rio de Vida, ele mudou ainda mais o comportamento. ;Arrumei um emprego.Cuido das quatro crianças com a minha esposa. Tudo mudou, tenho um rumo em minha vida;, diz. As aulas para melhorar a leitura ; ele só cursou até o terceiro ano do ensino fundamental ; também vieram com a fé. ;Quando eu aprender a ler melhor, posso me inscrever em uma escola regular;, anima-se.

Estrutura lenta
Segundo o professor de filosofia da religião da Universidade de Brasília (UnB) Agnaldo Portugal, é justamente esse trabalho de recrutamento e a proximidade que as pessoas conseguem ter com o pensamento evangélico que as levam até areligião. ;A Igreja Católica tem uma estrutura institucional muito lenta para atingir essas novas populações;, afirma.

Agnaldo afirma que a concentração em regiões mais pobres e fundadas mais recentemente é um fenômeno associado diretamente ao número de templos de segmentos menos tradicionais da doutrina. ;A tomada de decisões para os evangélicos é mais rápida e a burocracia menor. A graduação vem da experiência e a capacidade de interpretação da Bíblia;, explica Portugal. O número de congregações dá mais visibilidade à igreja e aumenta a comunicação dentro das comunidades.

Vigor
De acordo com o secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner, mais preocupante que o crescimento dos evangélicos seria perceber uma queda no vigor dos católicos e do cuidado com os pobres ou com a justiça, o que, na opinião dele, não ocorreu.

;A história da Igreja demonstra que a força não vem dela mesma, mas de Jesus Cristo crucificado, ressuscitado. Força não tem a ver com poder, não está nos números, mas no testemunho daqueles que receberam a graça de crer;, analisa. Ele enfatiza que o catolicismo é maioria não somente no DF, mas em todo o Brasil.

Cláudia Costa Neri, 49 anos, e Edson Luiz Neri, 53, nasceram em família católica e se mantiveram nesse caminho não apenas pela tradição, mas por convicção. Eles se conheceram na igreja, casaram-se e, há 24 anos, trabalham no movimento de casais da paróquia. ;Estudamos muito para aprofundar a nossa fé. Acreditamos que a igreja é o povo de Deus e os dogmas, como a eucaristia e a virgindade de Nossa Senhora, são os pontos fortes da religião;, afirma Cláudia.

Para ela, a Igreja Católica é uma só: representante de Jesus Cristo na Terra. ;O ser humano está perdido com tantas propostas. Hoje, vejo muitas denominações evangélicas com nomes diferentes, são várias nos mais diversos lugares. Virou quase um comércio. Tem gente que fica pulando de galho em galho tentando se encontrar;, observa Claudia. Ela e o marido vão à igreja pelo menos três vezes por semana, além de não abrirem mão da missa dominical.