Jornal Correio Braziliense

Cidades

Especialistas discutem projeto que liga setores de diversões aos hoteleiros

O projeto de construir uma grande praça de interligação entre os setores hoteleiros e a área central do Plano Piloto por meio dos setores de diversões ainda está longe de sair do papel, mas já é tema de discussão de especialistas. A ideia é garantir a travessia de pedestres pela área, e, consequentemente, evitar que hóspedes instalados na região e pessoas que circulam no local tenham que caminhar muito ou pegar táxis para chegar à Rodoviária do Plano Piloto, ao Teatro Nacional ou ao shopping Conjunto Nacional. A planta da ação prevê ainda a redução do deficit de vagas na área central, estimado em 40 mil, com a construção de um estacionamento subterrâneo com capacidade para 8 mil carros.

Para o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo, o projeto pode trazer muitos benefícios para a população, inclusive com a construção de um espaço que abrigará jardins, como previa o desenho feito pelo urbanista Lucio Costa. ;Tem que ser uma obra boa, bonita, segura. Algo que dê orgulho, e não essas passagens chinfrins que dão medo;, destaca Flósculo.
O
plano de ligação foi feito pelo Conjunto Nacional e assinado pela filha de Lucio Costa, Maria Elisa Costa, com os arquitetos Fernando Andrade e Carlos Magalhães, atual representante de Oscar Niemeyer em Brasília. O governo ainda não foi comunicado oficialmente sobre a proposta, mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já manifestou ser favorável à ação. Um documento assinado pelo superintendente do órgão no DF, Alfredo Gastal, confirma a adequação do croqui ao tombamento de Brasília.

Gastal diz que a construção de uma praça, com passarelas e jardins é uma necessidade da cidade, mas que alguns pontos devem ser observados. ;Precisamos criar espaços vitalizados, com amplitude e iluminação. Não é uma simples arquitetura e um traço qualquer. Deverá ser uma área para não dar condições à violência. Não adianta sonhar com certas soluções arquitetônicas, que são inteligentes, sem que o Estado, paralelamente, crie condições para isso;, destacou.

Parceria
O projeto deverá ser executado por meio de uma parceria público-privada. ;O governo examina, eventualmente aprova e sugere padrões de qualidade e as empresas privadas constroem. É, na verdade, um investimento. Se essa interligação for bem feita, será criada uma verdadeira obra de arte e uma aliança de ouro na área central de Brasília;, opina Frederico Flósculo. Para ele, o grande temor é que um projeto como esse, previsto para custar R$ 60 milhões, não leve em consideração a segurança dos visitantes, turistas e pedestres que transitam pela área. ;Essa possibilidade de projeto vai dar muita vitalidade ao centro, aos hotéis e aos setores de diversão. Mas é preciso muita atenção. Hoje, nós vemos grandes ideias sendo mal implementadas e, no fim, a gente se arrepende porque fica feio, velho e inseguro;, ressaltou o especialista.

O arquiteto Carlos Magalhães, um dos profissionais que assinou o desenho, compartilha da mesma opinião. Ele destacou a importância de que a construção dessas ligações seja amplamente discutida pela sociedade e governo local e, inclusive, no âmbito do governo federal.
;A primeira providência é colocar essa ideia para discussão entre as autoridades de Brasília. Antes de mais nada, os órgãos que tratam da preservação da capital têm que examinar;, avaliou. Magalhães afirma que, em Brasília, é preciso dar uma ocupação consciente aos espaços, sobretudo, porque a cidade é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco. ;No caso do Conic, ainda tem a questão do mal uso do espaço e das pessoas drogadas. Não é um projeto de arquitetura que resolve essas questões. O governo tem que estar presente porque isso envolve toda a cidade;, destacou.

A construção de passarelas foi prevista por Lucio Costa, mas, durante anos, essa ligação entre os setores hoteleiros e a área central de Brasília ficou esquecida. A coordenadora de Arquitetura e Ambiente do Conjunto Nacional, Helen Rachel Morais, disse que a construção vem sendo estudada pelo setor empresarial desde 2009. ;A gente percebeu que muitas pessoas passam pelo shopping para poder pegar ônibus, mas, para ir ao Setor Hoteleiro Norte, é preciso subir sete metros de escada. É uma altura extremamente desconfortável.;

Helen afirmou ainda que o espaço deverá ser transformado num grande centro de convivência, levando em consideração aspectos culturais e de paisagismo. ;A gente está abrindo discussão e percebe que essa área tem sofrido muito com a falta de segurança e o gargalho dos estacionamentos. É isso o que queremos evitar. É um projeto muito bonito para a cidade;, garantiu.

Precisamos criar espaços vitalizados, com amplitude e iluminação. Não é uma simples arquitetura e um traço qualquer;
Alfredo Gastal, superintendente do Iphan no DF

Gênio

O arquiteto Oscar Niemeyer é reconhecido internacionalmente pela genialidade de seus desenhos. Ele nasceu em 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro, e é considerado um dos nomes mais influentes na arquitetura moderna. Niemeyer é pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Entre os trabalhos mais conhecidos estão os monumentos de Brasília, como Congresso Nacional, Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, entre outros.