postado em 26/08/2011 08:00
Escolaridade e renda baixas, aliadas a uma forte dependência econômica do Plano Piloto, caracterizam o Paranoá, a 16; região administrativa a ser incluída da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), realizada pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan). O estudo apontou que 42,6% dos 46,5 mil habitantes ; ou seja, mais de 19,8 mil pessoas ; não chegaram a concluir o ensino fundamental. O ganho domiciliar per capita médio (R$ 487) é inferior a um salário mínimo (R$ 545). Além disso, 81% dos moradores não recebem mais do que cinco salários. O sustento mensal é assegurado pelos empregos criados em áreas mais ricas, como o centro de Brasília e o Lago Sul, que respondem por 43,7% das contratações.
Para o economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), os dados acerca do Paranoá mostram uma realidade previsível. ;É o esperado em uma região carente. O grau de instrução baixo da população vai se manifestar em salários ruins e ocupação em cargos que remuneram pouco, geralmente em setores como comércio e prestação de serviços menos qualificados;, avalia.
Ramos destaca que o caminho para melhorar os indicadores de bolsões de pobreza como Paranoá, Estrutural e Itapoã ; todos, até agora, com perfis muito parecidos segundo levantamentos da Pdad ; é investir na educação. ;Para a população adulta melhorar a escolaridade é um pouco mais complicado. O círculo da pobreza geralmente é rompido entre gerações. Tem que fazer duas políticas. Uma é a transferência de renda. A outra, colocar muitas e boas escolas nessas regiões;, recomenda.
O cozinheiro João Dias Souza, 41 anos, deixou a escola logo após concluir o ensino fundamental. Ele veio de Barreiras (BA) para o Distrito Federal com a família quando tinha apenas 1 ano. De acordo com ele, a necessidade de ajudar os pais no sustento da casa não deixou tempo para a escola. ;Eu vivia trabalhando direto e o cansaço falou mais alto;, explica.
Graças ao esforço de João e de outros dois irmãos mais velhos, os caçulas da família de 12 filhos tiveram acesso a mais oportunidades. ;Os mais novos estudam. Na minha época, não dava;, conta o cozinheiro, que trabalha em uma empresa situada em Brasília, no Setor Comercial Sul.
Projetos
Por meio da assessoria de comunicação, a Administração Regional do Paranoá disse estar engajada em diversos projetos para melhorar o grau de instrução dos habitantes e fazer face a problemas como a violência e o consumo de drogas.
Um deles, batizado de ;Paranoá e os esportes contra as drogas;, coloca cinco escolinhas de modalidades esportivas nas quadras da cidade à disposição de crianças e adolescentes desde que eles se comprometam com a permanência na escola. Além disso, há uma turma de ginástica e dicas de saúde para adultos e idosos e os participantes sem formação são estimulados a retomar os estudos. A iniciativa é financiada com verba de emendas parlamentares. De acordo com a assessoria, como a quantia disponível é suficiente somente para seis meses, é feito um esforço na Câmara Legislativa a fim de obter dinheiro para prosseguir com as ações.
Ainda segundo a Administração, o Paranoá foi escolhido para receber uma de quatro escolas técnicas que o Governo Federal construirá no DF. As obras do prédio estão previstas para começar este ano e ser concluídas em 2013.
O diretor de Gestão de Informações da Codeplan, Júlio Miragaya, chamou a atenção para o elevado percentual de moradias irregulares ou situadas em assentamentos e invasões ; 65,4%. A exemplo do Itapoã, há uma batalha judicial pela posse dos lotes entre a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e particulares. A Administração Regional informou que o governo local retomou este ano o diálogo com os herdeiros do espólio, e que espera conseguir um acordo antes do fim da gestão atual.