Invariavelmente, o motorista que bebe e acha que tem condições de dirigir é assombrado pela dúvida sobre o quanto de álcool pode ingerir sem ser pego na fiscalização. A lei é clara: a tolerância é zero, quem bebe uma latinha não tem garantia de passar ileso. Mesmo porque, o efeito do álcool é diferente para homens e mulheres e depende de como o organismo de cada um metaboliza a bebida. Na falta de uma equação matemática exata, há quem recorra aos aparelhos que podem ser comprados em farmácias ou lojas de conveniência. Os descartáveis custam cerca de R$ 15 e o modelo mais sofisticado, que pode ser reutilizado várias vezes, sai por R$ 36.
Na lojinha de um posto de combustível no Sudoeste, o modelo mais em conta é vendido há cerca de oito meses. ;Muita gente compra com a intenção de brincar, tirar sarro da cara do outro. Mas a procura começou a cair. Quem se conscientizou, assumiu a responsabilidade e não dirige mais depois de beber. O resto do pessoal não liga mais. A fiscalização caiu bastante e as pessoas perderam o medo;, acredita Fernando Noronha, gerente do estabelecimento. O equipamento mais simples é fácil de usar. A pessoa assopra e enche o balão de ar. Depois, coloca a válvula, que tem um reagente químico, e aperta o saco plástico até o ar sair por completo. Se a cor da substância mudar da amarela para a verde, o condutor está sem condições de dirigir.
Mas existem produtos mais aprimorados. Em uma farmácia do Setor Hospitalar Sul, o aparelho movido a bateria pode ser usado repetidas vezes e fica exposto próximo ao caixa. Tem a aparência de um chaveiro e custa R$ 36. Passou a ser comercializado há dois anos e caiu no gosto popular. A gerente Ingrid Valéria Mesquita Nunes diz ser comum as pessoas comprarem o bafômetro para presentear amigos. Entre os pais, a intenção é tentar controlar os filhos.
[SAIBAMAIS]Depois da ingestão de álcool é preciso esperar 20 minutos para fazer o teste. Se a luz verde acender, você pode dirigir. Com a luz amarela, o índice de álcool já rende multa e suspensão da carteira. Se a luz está vermelha, é porque já ultrapassou o 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido e a pessoa terá que responder criminalmente, caso seja flagrada pela fiscalização. ;Eu comprei um desses. Bebi uma latinha e meia, fiz o teste e fui reprovada. Vi que, mesmo bebendo pouco, o aparelho flagra a presença de álcool;, conta.
;Jeitinho;
Desde que a lei entrou em vigor, a internet virou uma aliada dos que desrespeitam a norma e querem escapar da fiscalização. Ferramentas como o Twitter e o MNS são amplamente usadas para divulgar os pontos de blitz do Detran e do Batalhão de Trânsito do DF (BPTran). Nos bares, os garçons também ajudam os clientes avisando sobre a fiscalização e, até mesmo, levando o carro para um local próximo ao estabelecimento, mas longe dos olhos dos agentes. ;O cliente vai a pé até o veículo e chega em casa sem problema;, relata um funcionário que pediu para não ser identificado. Ele trabalha em um movimentado bar da Asa Norte.
A tolerância zero à combinação álcool e volante é um exagero na opinião dos primos Diego Porteglio, 23 e a Raquel Valles, 29. Ela está convicta de que a rigidez da fiscalização não é mais a mesma e, apesar de ser contrária aos limites fixados em lei, defende que todas as viaturas deveriam ter bafômetro. ;Eu fui parada em uma blitz e autuada por falar ao celular. Eu tinha bebido e o agente falou que eu apresentava sinais de embriaguez. Eu neguei e pedi para fazer o teste do bafômetro. Ele não tinha e me liberou;, relata.
Morador de Marabá (PA), Diego chegou de Amsterdã (Holanda) há dois meses e constatou que em sua cidade natal é como se a proibição não existisse. ;Se aqui a lei não está sendo cumprida, imagina em Marabá. Lá, ninguém se preocupa com isso. Um dia desses, meu irmão ficou muito ruim. O policial viu que ele não tinha condições de dirigir, tirou ele do carro, colocou na viatura e o deixou em casa;, conta. Mas em Amsterdã, onde ele passou uma temporada de estudos, a tolerância à quem insiste em pegar o volante depois de beber é zero. ;Mas, lá, a proibição é cumprida. Aliás, todas as leis funcionam;, destaca.
Exemplo
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, Arthur Guerra acredita que o Brasil pegou o caminho certo para reduzir as mortes no trânsito por conta da bebida. Porém, o especialista ressalta que o sucesso depende de dois fatores: fiscalização contínua e bons exemplos. ;O exemplo não é a melhor forma de ensinar alguma coisa para alguém. É a única forma. Se o futuro candidato à presidência da República não dá exemplo, o artista, o jogador de futebol, os pais de família, os jornalistas, dificilmente teremos mudança de comportamento;, acredita.