postado em 28/08/2011 08:00
Comer fora de casa não é barato em Brasília, principalmente quando se trata de receitas internacionais. Um levantamento feito pelo Correio mostra que, de oito especialidades da cozinha mundial, entre a portuguesa, a chinesa e a argentina, por exemplo, apenas uma pode ser comprada por um preço mais baixo na capital: o tradicional filé au poivre francês, até 19,5% mais caro em Paris. Mesmo o rodízio de churrasco, especialidade brasileira, custa 50% menos em Miami, nos Estados Unidos, do que no Distrito Federal. A maior diferença encontrada está no Eisbein ; joelho de porco ;, prato alemão, que chega a ser 210% mais em conta em Berlim. Tanto aqui quanto no exterior, apenas os restaurantes mais renomados da cidade foram levados em consideração, e cujos cardápios foram desenhados por chefes tarimbados ou de grandes redes internacionais.Ao passear por Lisboa, um brasiliense vai se deparar com o prato mais tradicional da região, o bacalhau, com preço 202% inferior ao cobrado na capital do Brasil. A média, em Brasília, é de R$ 350 para um casal, incluindo vinho, e cai para R$ 115,64 em Portugal. Na lista de justificativas para o disparate gastronômico e financeiro, não pode ser apenas a necessidade de importar o peixe, uma vez que os portugueses também precisam comprá-lo fora, geralmente na Noruega.
A distância entre os preços é ainda maior quando os temperos chegam ao país vizinho, a Argentina. Em terras portenhas, o bife de ancho para duas pessoas custa aproximadamente R$ 110. Em Brasília, o preço varia de R$ 250 a R$ 300, nas melhores casas. Ou seja, a diferença flutua entre 127% e 172%.
A supervisora de vendas Patrícia Carvalho dos Santos, 24 anos, esteve em Buenos Aires no carnaval e se lembra muito bem dos valores mais baixos na hora das refeições. ;Comer em um restaurante do mesmo nível no exterior é muito mais acessível. Parece que a gente, que mora aqui em Brasília, paga apenas preços turísticos. Chego a ter receio de tentar repetir os pratos internacionais aqui, justamente por causa do preço;, diz.
Exclusão
No ano passado Patrícia morou na Espanha. Ela lembra que comer paella com os amigos era um programa rotineiro. ;Sinto que lá fora os preços são mais compatíveis. Aqui, a desigualdade é muito grande, as empresas são excludentes. Eu tinha uma renda média e comia em lugares legais. Em Brasília, onde sou de classe média alta, não me aventuro a fazer isso. Só em ocasiões especiais;, conta.
O economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que vender pratos a preços mais caros do que no exterior não é uma exclusividade dos restaurantes da capital federal. Piscitelli lembra que fatores, como a carga tributária nacional, podem influenciar o custo de funcionamento e manutenção desses estabelecimentos, tornando-os mais onerosos no Brasil do que lá fora. ;Além dos tributos, a energia elétrica e a conta de telefone também são relativamente caros. Em Brasília, há o agravante do aluguel, que é muito elevado. Mas esses fatores, por si só, não são uma explicação global.;
Para ele, cabe uma análise mais aprofundada, levando em conta variáveis como a maior ou menor apreciação das moedas e a paridade do poder de compra entre os países. O economista, no entanto, faz algumas críticas à oferta de serviços de alimentação na capital. ;A gente não tem um típico restaurante meio-termo, classe média. Convivemos com extremos. Os bons restaurantes de Brasília são tão caros que assustam. Falta um pouco mais de concorrência;, defende.
Pior e mais caro
O diplomata Rafael Paulino, 31 anos, sente falta de mais investimento do setor. Para ele, os serviços oferecidos na capital federal são geralmente piores e mais caros do que em outros países. ;Eu adoro Brasília, moro aqui há 11 anos, mas algumas coisas são inaceitáveis. Na última semana, fui comer um peixe com a Talita, minha namorada. O prato era quase R$ 80 e nos fizeram esperar mais de uma hora. Nós estávamos com fome e acabamos desistindo;, lembra.
No último mês, ele voltou de uma viagem por China, Taiwan e Tailândia. Para ele, comparar os preços da alimentação dos três países com o Brasil chega a ser covardia. ;A diferença de preços é chocante. No Oriente, países que mais se desenvolvem hoje, todos os serviços são muito baratos. Eu praticamente não gastava mais do que US$ 10 por refeição (aproximadamente R$ 16,50), isso contanto a bebida e uma entradinha ou uma sobremesa.;
No começo do ano, Paulino esteve em Portugal e ficou extasiado com os preços. ;Me indicaram um restaurante em que a entrada, o prato principal, a sobremesa e uma taça de vinho custavam 6,50 euros (R$ 15). É impressionante, você não encontra isso no Brasil em lugar nenhum. E não estou falando de lugar ruim, o restaurante era muito bonitinho. Estimo que valeria pelo menos R$ 50 aqui em Brasília;, completa.