Flávia Maia
postado em 28/08/2011 08:00
O Distrito Federal é a sétima unidade da Federação com mais pessoas morando sozinhas. Dos 774 mil domicílios, 12,67% têm apenas um habitante. O índice está pouco acima da média nacional, de 12,18%. Os números do Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam uma realidade que o mercado brasiliense não só percebeu como começou a apostar.O primeiro setor a enxergar esse nicho na capital foi o da construção civil. Os empreendimentos de um quarto se multiplicaram na cidade. Nos supermercados, as porções menores também invadiram as prateleiras. Apesar do comércio ter identificado essa fatia da população, são poucos os produtos específicos para esse público e ainda há carência de serviços e bens. ;O comércio se prepara por demandas e sabe da existência desse nicho, mas em Brasília os empresários não distinguem esse segmento dos demais ainda;, explica o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana.
O resultado da falta de planejamento para o segmento faz com que os locais que oferecem bens e serviços para esse público fiquem lotados. É o caso de padarias e supermercados que vendem em menores quantidades e têm serviço de rotisseria. ;Faz oito anos que percebemos esse público em Brasília. Os próprios clientes começaram a pedir embalagens menores, porções menores e comida pré-pronta;, conta Onofre Silva, diretor da regional Centro-Oeste do Grupo Pão de Açúcar. Segundo ele, a empresa tem interesse em aumentar os serviços a esse público. ;Não é um segmento que faz compras grandes, mas o que compra é de alto valor agregado. Ele não se importa de pagar mais caro para ter um serviço diferenciado, como uma fruta picada e um bife pré-cozido, por exemplo;, explica.
O gaúcho Paulo Fuques, 42 anos, mora há 20 sozinho e sentiu um avanço no comércio para o público no qual ele se encaixa. ;As porções diminuíram. Hoje, você compra fruta fatiada, lasanha de porção individual e os preços estão mais acessíveis;, observa. Como vive sozinho e não tem com quem deixar o apartamento na hora de profissionais realizarem serviços gerais, aprendeu a fazer as tarefas domésticas e os pequenos consertos. ;A única coisa que pago é uma faxineira e a lavanderia;, conta.
Construção civil
O setor que mais tem investido nesse público em Brasília é o da construção civil. Para conseguir comprar um apartamento de um quarto em Águas Claras, o administrador de empresas Bruno Bogea, 41 anos, dormiu na fila. Hoje, ele mora na 105 Norte em um imóvel de três quartos, mas acredita que o investimento vai valer a pena. ;Um apartamento de um quarto serve tanto para épocas boas como para períodos de crise. Em época boa, posso alugar. Se apertar, posso me mudar para lá;, analisa.
De acordo com a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), pelo menos 50 mil quitinetes foram construídas nos últimos cinco anos. ;Esse público busca comodidade e morar perto do trabalho ou de onde estuda;, explica Adalberto Valadão, presidente da Ademi. Prédios com serviços como espaço gourmet, academia, internet e lavanderia são os mais disputados. A Asa Norte é a preferida de quem mora sozinho e quer adquirir um apartamento. ;O preço desse tipo de imóvel é diferenciado. Como a demanda é alta, os preços estão muito altos, ainda mais se compararmos com o valor dos apartamentos maiores;, afirma.
Radiografia
Perfil das pessoas
que moram sozinhas
; Autossuficientes: sabem o que buscam e onde está cada item. Têm um nível de informação superior ao da média dos consumidores
; Exigentes: adquirem produtos mais caros apenas se eles tiverem qualidade e durabilidade
; Costumam ver os animais de estimação como bons companheiros e investem no bem-estar
; Valorizam a praticidade, a comodidade, o conforto e a conveniência
; Navegam na internet mais tempo do que a maioria das pessoas
; Permanecem nas lojas menos tempo do que os demais clientes
; Preferem fazer suas compras em um único lugar que tenha produtos de diferentes segmentos
; Investem boa parte de seu dinheiro em benefício próprio. São bons consumidores de serviços de estética e bem-estar
; Adoram viajar, pois possuem mais tempo e verba para o lazer
; Dão preferência aos serviços de delivery pela praticidade
Em números
80% usam cartão de crédito
31% têm preocupação ambiental
56% queriam ter hábitos mais saudáveis e evitar problemas ou doenças
64% comem alimentos mais saudáveis
51% comem alimentos funcionais
72% são muito exigentes nas compras, examinam rótulos, e não importam de pagar mais pela qualidade
Fonte: Instituto Market Analysis