Flávia Maia
postado em 29/08/2011 08:00
Planaltina de Goiás e Santo Antônio do Descoberto figuram no topo de uma lista nacional que em nada orgulha a população. As duas cidades aparecem entre as 10 com mais registros de homicídios femininos no Brasil. O ranking dos 582 municípios mais perigosos para as mulheres traz três do Entorno e coloca Brasília na190; posição do país. Entre as unidades da Federação, as estatísticas apontam Goiás em 6; lugar, com o DF logo em seguida, em 7;. A pesquisa Mapa da Violência foi feita em parceria com o Ministério da Justiça e divulgada este ano. Nos oito primeiros meses de 2011, pelo menos 40 mulheres foram assassinadas nas cidades ao redor da capital federal. O número pode estar defasado e esconder uma situação ainda pior. Isso porque nos 17 municípios do Entorno existe apenas uma delegacia especializada em violência contra a mulher, criada por decreto em Luziânia. Nas outras cidades, o atendimento é feito em instalações precárias dentro da própria delegacia comum. Em todo o estado de Goiás, existem dez unidades do gênero para os 246 municípios.
Além de faltar estrutura para a denúncia, as mulheres goianas encontram dificuldades de proteção contra agressões. Em todo o estado, existe apenas um juizado especializado, que fica em Goiânia. O único abrigo para resguardar essas mulheres também está na capital de Goiás e é gerenciado pelo Centro de Valorização à Mulher (Cevam), uma organização não governamental. Existe uma casa abrigo no DF, mas, normalmente, não acolhe vítimas que registraram ocorrência no Entorno.
Em todo o Centro-Oeste, são seis casas, sendo três só em Mato Grosso. No Brasil, são 87 casas desse tipo. ;Goiás não tem casa abrigo de responsabilidade do governo. Também não tem delegacias suficientes, juizado especializado, e falta qualificação às equipes. É preciso responsabilizar o Estado pela falta de cumprimento da legislação;, denuncia Maria de Fátima Veloso, coordenadora do Fórum Goiano de Mulheres.
O desespero das vítimas goianas é tão grande que muitas procuram auxílio em Brasília. ;Elas ligam e vêm até aqui pedindo ajuda. Nós registramos as ocorrências, mas enviamos para as delegacias responsáveis no Entorno. Não podemos interferir no trabalho de outro estado;, afirma Mônica Loureiro, delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do DF. Pelo menos seis registros de violência contra a mulher são denunciados diariamente na Deam da capital federal.
Números do horror
De acordo com o Mapa da Violência, Planaltina de Goiás é a 6; cidade do país onde mais mulheres são assassinadas. A primeira é Escada, em Pernambuco, e a segunda, Sorriso, em Mato Grosso. No município com os maiores números de homicídios femininos de Goiás, desde maio não existe delegada na seção especializada. O atendimento é feito pelo titular do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), Fernando Alves Barbosa. ;A delegada que recebia as mulheres foi transferida e agora eu também estou no atendimento a elas. De vez em quando, peço ajuda às agentes para conversar com as vítimas;, afirmou o delegado. Neste ano, cinco mulheres morreram na cidade.
No Novo Gama, onde seis mulheres morreram assassinadas este ano, a seção especializada foi criada há três semanas. Como muitos dos homicídios são frutos de violência doméstica, o objetivo da seção é tratar as queixas de forma diferenciada. ;Em crimes passionais, dificilmente as mulheres são mortas com arma de fogo. Os homens querem demonstrar poder, raiva e humilhar aquela mulher. Geralmente, eles usam facas e machucam o rosto das companheiras;, explica Karina Duarte, delegada da seção da mulher no Novo Gama.
Para o delegado Fernando Alves Barbosa, além dos crimes passionais, o crescimento de mortes femininas se deve ao ingresso delas no tráfico de drogas. ;Os companheiros são presos e elas traficam no lugar dos maridos para garantir o sustento da casa;, diz.