Quem passa pela entrada da cidade do Gama - na altura do Balão do Periquito - se depara com um monumento da Força Aérea Brasileira (FAB) em homenagem à aeronave que defendeu os céus da capital federal por mais de 30 anos: o Mirage III. O avião foi fabricado pela francesa Avions Marcel Dassault Breguet Aviation (AMDBA), na década de 50, e deixou de operar oficialmente no Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1; GDA - Esquadrão Jaguar, sediado na Base Aérea de Anápolis-GO) em 14 de dezembro de 2005.
Adquirido pelo comando operacional da III Força Aérea ano passado, o Mirage III - conhecido oficialmente no Brasil como F-103E - virou ponto turístico para quem circula pela região. A aeronave chegou ao local em 4 de agosto de 2010 e está à mostra para a população. Qualquer cidadão pode tirar fotos e não precisa pagar, informa o subcomandante da unidade responsável pelo monumento, major-aviador Fábio Leite. "Eu mesmo já trouxe minha namorada, minha filha e alguns conhecidos para tirar fotos", diz. De acordo com o comandante da unidade, o brigadeiro do ar Paulo Érico dos Santos, quando o avião foi trazido para Brasília, não havia proteção no estande onde está exposto. "Entretanto, o pessoal gostou tanto e como várias pessoas começaram a parar para tirar fotos, resolvemos colocar a proteção, pois se tornou perigoso até para crianças que tentavam subir na aeronave", explica. A peça ficará por tempo indeterminado no local. A partir de agora, o avião pertence ao comando de Brasília e não será exposto em outra cidade.
Salva-vidas com asas
O Mirage III foi construído em 1956 e adquirido pela FAB em 1973. Da década de 70 até 2005, ano da desativação, esta aeronave serviu à força aérea em várias modalidades. O comandante da III Força Aérea explica que os aviões da FAB não fazem somente a segurança da capital federal no ar, mas, também, realizam atendimentos de socorro. "Se detectamos no radar um avião e não conseguimos fazer contato, enviamos uma aeronave para averiguar a situação. Se o outro avião estiver com problemas, orientamos o pouso de forma segura". Ao ouvir a explicação sobre uma das funções do Mirage III, o major Fábio Leite se lembrou de um fato, ainda quando estava na ativa.
"Pilotava um avião quando perdi radar. Fiz contato com o pessoal e eles enviaram um Mirage para orientar minha descida e me mostrar onde poderia pousar. Ainda bem que deu tudo certo", disse Fábio. O comandante Paulo Érico explicou que o Mirage III era responsável por fazer a segurança do espaço aéreo de Brasília. "Ficava estacionado em Anápolis e o céu da capital era responsabilidade da aeronave", disse.
De Anápolis a Brasília, a distância na estrada é de 140 km, mas em milhas náuticas, medida utilizada pela FAB, a distância é de 65 (algo em torno de 100 km em linha reta). Em média, o Mirage III gasta, no máximo, cinco minutos da cidade goiana até a capital, desde o momento da decolagem, o voo em si e o pouso. O brigadeiro do ar Paulo Érico lembra que a aeronave foi a primeira de perfil supersônico a ser comprada pelo Brasil.
Sobre a relação entre aeronaves e pilotos, os aviadores explicam que existe e é comum. "Sempre existiu uma relação afetiva, pois o avião deixa de ser um instrumento de trabalho para fazer parte da pessoa, quando estão no ar", afirma Paulo Érico. Enquanto isso, o major Fábio confessou ter sentimentos por uma "companheira de trabalho", disse ele. "No último voo que fiz em um Mirage em 2006, sabia que era o último daquela aeronave e, confesso, é algo que a gente não explica".
Já em relação aos motivos de a aeronave estar no comando operacional no DF, major e comandante dizem que há vários. "Quando um avião serve durante muito tempo à FAB, é comum a homenagearmos e expor para a sociedade uma companheira que serviu ao país. Sem dúvida, deixar que a população a veja, a admire e tire fotos é uma homenagem e uma forma de agradecê-la pelos serviços prestados".
Além de Brasília, outros comandos espalhados pelo Brasil possuem aeronaves em exposição. É o caso do Rio de Janeiro, Recife-PE e Anápolis, por exemplo. Em Brasília, há outros modelos na Base Aérea Militar, próxima ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, mas não estão em exposição aberta ao público.
Cuidados especiais
A manutenção do Mirage é feita de maneira cuidadosa. Os militares o lavam, de três em três anos refazem a pintura e o limpam para tirar a poeira. "Por causa do sol, da chuva e da poeira, as aeronaves tendem a deteriorar. Como as trouxemos para expô-las e homenageá-las, devemos cuidar da melhor maneira possível", disse o brigadeiro do ar Paulo Érico.
As 12 aeronaves Mirage III da FAB foram desativadas oficialmente em 14 de dezembro de 2005 e o Esquadrão Jaguar recebeu modelos Dessault Mirage 2000, adquiridos na França. Já os primeiros novos aviões desembarcaram no Brasil em 04 de dezembro de 2006. Na Força Aérea Brasileira, os Mirage 2000c passaram a ser conhecidos como F-2000c e os modelos 2000b como F-2000b. Os dois exemplos de aeronaves conseguem transportar bombas e mísseis sob as asas e o corpo do avião.
Sobre a vida útil de um avião, o comandante da 3; Força Aérea, Paulo Érico dos Santos, informou que não há como prever a quantidade de tempo que uma aeronave pode ficar na ativa. "Temos um modelo F-16 de 30 anos e está tudo certo com ele. Geralmente, desativamos aviões quando não há peças de reposição no mercado, ou a manutenção começa ser inviável do ponto de vista financeiro", disse Paulo Érico.
Quem tiver interesse de conhecer o Mirage III que está em exposição no Gama, o monumento está aberto ao público 24h por dia e durante a noite recebe iluminação especial. Há estacionamento no local para quem for de carro.