postado em 31/08/2011 08:00
Em 2010, 235 crianças morreram no Distrito Federal em decorrência de acidentes que poderiam ter sido evitados, como quedas, afogamentos ou intoxicações. Isso significa que, a cada 36 horas, uma pessoa com até 14 anos perdeu a vida, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Em todo o país, o número de vítimas passa de 5 mil por ano, enquanto 110 mil são hospitalizadas. Para tentar reduzir o número de mortes, a Secretaria da Criança, em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos do DF, e as Ligas de Pediatria das faculdades de medicina, lançou ontem a campanha Olho Vivo ; Pais prevenidos evitam acidentes.Para o secretário da Criança, Dioclécio Campos Júnior, a intenção é mudar a cultura da sociedade. ;A maior parte das causas responsáveis pelos grandes problemas e transtornos podem ser evitadas. A prevenção precisa substituir a cultura curativa que reina;, afirma. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, defende que os gastos com tratamentos podem ser transferidos para as campanhas de prevenção a fim de evitar que as crianças cheguem aos hospitais. ;É um problema de saúde pública. Vamos fazer uma série de iniciativas para despertar o sentimento de cuidado com ações que parecem muito simples, mas podem evitar sequelas graves que ficam para o resto da vida dessas crianças;, comenta o governador.
Segundo levantamento da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, sete crianças entre zero e 10 anos morreram por afogamentos e submersões acidentais no ano passado. O órgão também contabilizou cinco mortes por exposição a fumaça, fogo e chamas, duas por queda e uma por envenenamento, intoxicação ou exposição a substâncias nocivas. Mas os dados são parciais e ainda podem aumentar.
Mas a maioria desses acidentes poderia ter sido evitada com gestos simples, de acordo com a coordenadora de mobilização da ONG Criança Segura, Lia Gonsales. ;Estudos nos dizem que cerca de 90% são previsíveis e podemos evitar com medidas simples como a mudança de ambientes e de comportamentos;, explicou. ;Trabalhamos com a estratégia de sensibilização dos pais para combater a primeira causa morte de crianças de zero a 14 anos;, justificou a coordenadora de mobilização.
É por isso que 10 mil cartilhas com dicas de prevenção de acidentes serão distribuídas nas 249 escolas de educação infantil da rede pública de ensino, além de postos de saúde e colégios particulares que solicitarem o material. Palestras para pais e alunos também fazem parte do programa. ;A campanha é de extrema importância. Só são notificadas as mortes, e não as sequelas das crianças que sofrem acidentes. Para cada morte, cinco ou sete crianças sofreram o mesmo acidente e ficaram com sequelas que podem deixá-las incapacitadas;, estima a presidente da Sociedade de Pediatria do DF, Vera Lúcia Bezerra. Segundo ela, qualquer coisa pode causar acidente dentro de casa. ;As crianças podem cair no vaso sanitário e se afogar;, exemplifica.
Para evitar que acidentes ocorram em casa, os pais precisam ficar atentos a alguns cuidados. As tomadas devem ficar tampadas, produtos de higiene e limpeza precisam ser armazenados em armários trancados e longe do alcance das crianças, que têm de ficar longe do fogão e de objetos cortantes da cozinha. ;Os responsáveis devem verificar as condições de segurança da casa para evitar quedas, queimaduras, choques e ingestão de produtos químicos, por exemplo;, alertou o comandante do Grupamento de Atendimento de Emergência Pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o tenente-coronel José Fernades Motta Júnior.
Série de ações
A organização não governamental, com sede em São Paulo, escolheu 30 de agosto como data para realizar uma série de ações de prevenção de acidentes com crianças quando os membros da entidade realizavam o programa Criança Segura na Escola. Nesse dia, as escolas faziam trabalhos, exposições e peças teatrais para alertar os pais e responsáveis. A ideia cresceu e a ONG propôs uma campanha nacional que mobilizou instituições e pessoas de todo o país.
Para saber mais
Quedas perigosas
Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre setembro e novembro de 2009, mais da metade dos atendimentos a crianças pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ocorreu em decorrência de quedas. No período, 3.698 meninos e meninas ; o equivalente a 53,8% do total de 6.909 crianças atendidas ; buscaram as unidades de urgência e emergência em 23 estados e no DF. Os demais acidentes, como engasgamento, intoxicação, afogamento e introdução de objetos no corpo somam 32,5% dos casos, enquanto as queimaduras chegam a 2,6% do total de socorros.