Cidades

Usuários buscam ajuda em Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas

postado em 02/09/2011 07:50
A enfermeira Jurema do Nascimento atende Gilberto*, um mecânico que luta há seis meses para deixar de vez o crack
No primeiro dia de atendimento no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (Caps AD), ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, pelo menos 20 dependentes químicos procuraram ajuda para se livrar do vício. Eles foram ouvidos por profissionais nos consultórios e passaram por uma triagem para identificar o grau de dependência de cada um. A ação é uma das 16 medidas prioritárias que fazem parte do Plano de Enfrentamento ao Crack e a outras Drogas, lançado pelo governador Agnelo Queiroz na última quarta-feira. No programa, estão previstas ainda a aquisição de câmeras de filmagem para identificar traficantes que agem na área central de Brasília e a contratação de médicos para tratamento dos usuários. Em quatro anos, o governo promete investir R$ 65 milhões na cruzada contra o crack.

O pedido de socorro veio de gente de todas as classes sociais. O mecânico Gilberto*, 49 anos, luta há seis meses para se livrar das drogas. Ele conta que já foi dono de um centro automotivo e ganhou muito dinheiro. Lembra, porém, que gastava todo o lucro com entorpecentes e álcool. ;Deixava de sair com a minha família para comprar crack. Já comprei R$ 300 de droga e fiquei quatro dias sem aparecer em casa;, revela. Na manhã de ontem, Gilberto saiu de Brazlândia, onde mora, em busca de tratamento. ;A droga derruba qualquer ser humano. Ela nos coloca rastejando na lama;, afirma.

O homem teme ter uma recaída e piorar o estado de saúde ; ele tem diabetes e sente fortes dores no pulmão. ;Nunca procurei tratamento. Esta é a primeira vez porque decidi que quero ser outro homem;, disse. Segundo a enfermeira Jurema Paulo do Nascimento, que atendeu Gilberto, o mecânico fará acompanhamento psicológico e clínico no Caps AD do Guará II. No local, uma equipe multidisciplinar avaliará se é caso dele requer internação.

Após ver na televisão a notícia da inauguração do Caps AD 24 horas, a dona de casa Joana*, 41, convenceu o filho de 24 anos a se tratar. Gustavo* mora no Jardim ABC, na Cidade Ocidental, um dos bairros mais violentos do Entorno. O rapaz conheceu a maconha aos 18 anos e o crack, há dois. O jovem emagreceu, perdeu a namorada e o emprego de ajudante de pedreiro. ;Tenho medo de, um dia, ele sair de casa e não voltar mais. Ainda tenho esperança de vê-lo constituir uma família bonita e de poder pegar meus netinhos no colo;, diz.

Degradação
Com o braço direito quebrado, o corpo sujo e as mãos queimadas pela lata usada por quem consome crack, Marcelo*, 34 anos, é viciado em crack há 11. Ele tem dois filhos, de 15 e 18 anos, e tudo o que mais quer é ter sua dignidade de volta. ;A minha vontade é de voltar a ser aquele homem que eu era. Na rua, passo frio e fome, além de ser malvisto pela sociedade. É vergonhoso para mim continuar nessa situação, sem contar que minha saúde já não é mais a mesma;, garante.

Tanto Marcelo quanto Gustavo serão acompanhados pelo Caps AD 24 horas. Segundo a gerente do centro, a psicóloga Maria Garrido, a procura de ontem já era esperada. ;As pessoas estão vindo de todos os lugares. Daqui, não sairão sem acolhida;, assegura. Para a especialista, a maior batalha contra a dependência química é fazer com que o usuário aceite ajuda. ;Ele primeiro precisa admitir que está doente;, destaca.

Na noite de ontem, uma equipe formada por psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros fez a primeira abordagem a usuários de drogas da área central do Plano Piloto. Com um ambulatório de rua, os profissionais têm por objetivo desenvolver um trabalho de convencimento a moradores de rua em situação de risco para que eles aceitem abandonar as drogas.

(*) Nomes fictícios

Marcelo*:

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